Migalhas de Peso

Crise financeira: um espelho do passado?

Bancos quebrando, empresas falindo e lojas fechando as portas. Esta é uma típica fotografia tirada de Wall Street na crise de 1929. A chamada “quinta-feira negra” foi o marco inicial da grande depressão vivida pelo mundo capitalista até então.

14/10/2008


Crise financeira: um espelho do passado?

Fábio Lopes Vale*

Bancos quebrando, empresas falindo e lojas fechando as portas. Esta é uma típica fotografia tirada de Wall Street na crise de 1929. A chamada "quinta-feira negra" foi o marco inicial da grande depressão vivida pelo mundo capitalista até então. Naquela época, a crise instaurada gerou altos índices de desemprego, o que intensificou a miséria social. Hoje, quase 90 anos após a conhecida Crise de 1929, a sociedade mundial enfrenta uma crise financeira que almeja, em certas formas, proporções similares à já citada.

Muitos são os motivos atribuídos à atual contração econômica vivida pelo mercado internacional, entretanto nenhum é mais evidente do que a tão conhecida especulação financeira. Após anos e anos a fio de especulação, somada à entrega de créditos quase ilimitados a quem não tinha dinheiro, paulatinamente o mercado financeiro mundial foi inchando, como uma bomba-relógio prestes a explodir. O colapso das hipotecas imobiliárias nos Estados Unidos foi apenas o catalisador de algo inevitável. Sorrateiramente, esta crise estava prestes a implodir, abalando os alicerces do capitalismo contemporâneo.

A economia mundial estava caminhando, ou melhor, galopando a passos largos. Os Tigres Asiáticos, União Européia, Bric, e todo o fortalecimento de outros grupos econômicos são exemplos do crescimento vertiginoso que o mercado vinha vivendo. O capitalismo estava cada vez mais liberal, permitindo grandes manobras econômicas e diversas inovações financeiras, o que gerou fortes injeções de capital e um conseqüente aquecimento incessante das bolsas mundiais. Todavia, a falta de controle corroborou com a crise estabelecida, atingindo bancos, casas de investimentos, empresas e especuladores, que estão destinados a perder somas de dinheiro ou fadados à bancarrota iminente. Este sistema mega-criativo está encurralado, pois com tamanhas inovações no mercado, fica cada vez mais difícil identificar os riscos ou como eles funcionam.

Em níveis financeiros, esta crise já se assemelha à depressão de 1929. Resta-nos analisar se as conseqüências sociais serão as mesmas. No início do século, a crise intensificou a miséria social, elevando os níveis de pobreza, marginalização e violência. A crise atual ainda não esboçou profundas mudanças sociais, mas ainda é muito cedo para comemorar. Com um capitalismo mais consolidado do que antes e economias nacionais mais fortalecidas, a tendência é que a crise pare na "recessão", e não alcance o título de "depressão".

As soluções estão sendo procuradas e desenvolvidas, mas esta crise não será dirimida num piscar de olhos. O resgate do banco alemão Hypo Real Estate por 50 bilhões, a compra do banco belga-holandês Fortis pelo francês BNP Paribas e a aprovação do histórico resgate financeiro americano de US$ 700 bilhões ainda não conseguiram aliviar a crescente incerteza que assola o mercado mundial. A verdade é que esta retração econômica a que estamos passando, deixará cicatrizes no cenário econômico mundial.

Uma saída para se evitar futuros problemas econômicos como o atual seria intensificar o controle que os governos possuem sobre o sistema capitalista, idéia sugerida pelo atual presidente francês, Nicola Sarkozi. Deve ser visto como uma relação entre pai e filho. O pai impõe certos limites na educação do filho para que aos poucos ele possa andar com os próprios pés. Parafraseando, os governos devem controlar melhor o sistema capitalista, por intermédio das leis e das agências reguladoras, evitando essa liberalidade desenfreada que alguns não souberam aproveitar e acabaram por causar o atual quadro no qual nos encontramos.

Oitenta e nove anos depois, o mundo enfrenta outra crise financeira. No passado, intervenções governamentais conseguiram reerguer nações abaladas pela miséria e pelo ostracismo oriundo das quebras. Estamos apostando que os governantes serão tão competentes quanto os do passado o foram. Onde e como esta crise termina é absolutamente imprevisível. Mas ela já é muito, muito séria.

__________________

*Gerente do Departamento de Relações Institucionais do Manucci Advogados









_____________

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Artigos Mais Lidos

O Direito aduaneiro, a logística de comércio exterior e a importância dos Incoterms

16/11/2024

Encarceramento feminino no Brasil: A urgência de visibilizar necessidades

16/11/2024

Transtornos de comportamento e déficit de atenção em crianças

17/11/2024

Prisão preventiva, duração razoável do processo e alguns cenários

18/11/2024

Gestão de passivo bancário: A chave para a sobrevivência empresarial

17/11/2024