Migalhas de Peso

Médico, engenheiro ou advogado

Bons tempos aqueles em que as opções de uma carreira se concentravam em Medicina, Engenharia ou Direito, que se desdobravam em várias especialidades. Hoje, graças à sanha mercantilista de proprietários de inúmeras faculdades, os candidatos a um diploma universitário têm uma vastíssima gama de opções que vão da culinária ao luxo, passando por diversas nomenclaturas de novas profissões que ninguém sabe definir os seus parâmetros demarcatórios.

13/7/2007


Médico, engenheiro ou advogado

Sylvia Romano*

Bons tempos aqueles em que as opções de uma carreira se concentravam em Medicina, Engenharia ou Direito, que se desdobravam em várias especialidades.

Hoje, graças à sanha mercantilista de proprietários de inúmeras faculdades, os candidatos a um diploma universitário têm uma vastíssima gama de opções que vão da culinária ao luxo, passando por diversas nomenclaturas de novas profissões que ninguém sabe definir os seus parâmetros demarcatórios, ficando no mercado uma grande sobreposição de atividades similares disputadas acirradamente por candidatos a empregos, que praticamente não existem.

Perde o país, os pais, os próprios alunos, que investiram tempo e dinheiro em quimeras profissionais oportunistas, e os professores com seus baixos salários. Ganham mesmo só os proprietários dessas escolas fajutas que não formam ninguém, bem como quem autoriza a instalação dessas arapucas ditas instituições de ensino.

No caso específico do Direito, área que milito há muitos anos, o descalabro é grande e o Exame da OAB está aí para comprovar o que penso. Basta ver o índice de reprovação dos postulantes ao registro que irá lhes permitir o exercício da profissão. Nos últimos anos, conforme estatísticas da Comissão de Ensino Jurídico do Conselho Federal da entidade, houve um aumento de 2.533% no número de inscritos na prova e uma reprovação média de 80% dos candidatos, índice atribuído exatamente à má qualidade do ensino.

Sinto cotidianamente essa realidade quando da concessão de estágios em meu escritório, ou mesmo, quando da contratação de novos colaboradores recém-formados, vendo as grandes dificuldades que estes novos colegas enfrentam no exercício da profissão. O nível está tão baixo que nem os concursos para as carreiras da Magistratura e do Ministério Público estão conseguindo preencher o total de vagas ofertadas.

Dias atrás — para meu espanto — circulou na mídia o interesse de alguns em acabar com a obrigatoriedade do Exame de Ordem em razão da grande barreira que os bacharéis vêm encontrando para obterem sua carteira profissional. Será que não seria mais racional nos preocuparmos primeiramente em cobrar uma melhoria no nível das faculdades, um rigor muito maior nos vestibulares e, principalmente, que o governo ao aprovar novos cursos jurídicos ordenasse o cumprimento das exigências impostas pelo mercado ?

A OAB vem fazendo o que pode para acabar com essa abertura desenfreada e inconseqüente de faculdades de Direito no País. Recentemente, seu Conselho Nacional de Ensino Jurídico emitiu parecer desfavorável a 19 dos 20 novos cursos que foram autorizados pelo Ministério da Educação em várias regiões do País. O parecer foi em vão, pois, com ou sem apoio, as instituições serão instaladas normalmente. Toda essa permissão só tem uma justificativa: parecer ao resto do mundo que o Brasil é um país bem-resolvido no que tange à educação pois, daqui a alguns anos, um número considerável de sua população terá formação superior, não importando, assim, se essa tal "formação superior" realmente capacitou o aluno para exercer a profissão escolhida.

Não sei não, mas me parece que o "lobby" dessas escolas está cada vez mais infiltrado junto ao nosso desacreditado governo em Brasília.

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*Advogada do escritório Sylvia Romano Consultores Associados








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