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Planejamento patrimonial internacional: Estratégias sucessórias e investimentos no exterior

Os investimentos no exterior oferecem uma alternativa atrativa para o planejamento sucessório, principalmente devido às vantagens tributárias, proteção de patrimônio e à diversificação de ativos.

25/7/2024

Introdução

O planejamento patrimonial e sucessório tem ganhado crescente relevância entre empreendedores e investidores que buscam otimizar a gestão de seus ativos e assegurar uma transferência eficaz de patrimônio. Este artigo explora a utilização de investimentos no exterior como uma ferramenta estratégica nesse contexto, considerando tanto as legislações internas quanto as internacionais. Através de uma abordagem abrangente, destacamos as vantagens, desvantagens e os principais aspectos jurídicos a serem considerados.

Planejamento patrimonial e sucessório: Fundamentos e importância

Conforme aponta o professor Marco Aurélio Greco, o planejamento patrimonial nasce da necessidade de organização pessoal do titular dos bens e dos seus interesses familiares. Este planejamento, além de visar benefícios tributários, deve respeitar a legislação vigente e as políticas fiscais, considerando o local onde se encontram os ativos e a participação em políticas internacionais.

O planejamento sucessório envolve a escolha de ferramentas adequadas para a transmissão de bens aos herdeiros, visando a minimização de riscos e a preservação do patrimônio. Uma das estratégias destacadas é o investimento no exterior, que, se bem estruturado, pode oferecer vantagens significativas em termos de tributação e diversificação de ativos.

Vantagens dos investimentos no exterior no planejamento sucessório

  1. Mitigação de riscos e diversificação da carteira

Investir em mercados estrangeiros permite diversificar ativos em diferentes moedas e jurisdições, reduzindo a exposição a instabilidades econômicas domésticas. Esta estratégia pode garantir a continuidade dos negócios e a preservação do patrimônio em cenários de mudanças políticas ou econômicas no Brasil. A diversificação geográfica protege o investidor de crises econômicas localizadas, políticas instáveis e flutuações de mercado que podem afetar adversamente os ativos domésticos.

  1. Vantagem tributária

A recente decisão do STF de considerar inconstitucional a cobrança do ITCMD - Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação para heranças e doações no exterior fortalece a atratividade dos investimentos fora do país. Esta medida, alinhada com a digitalização global e políticas contra a dupla tributação, facilita a auto-organização familiar e tributária. Além disso, muitos países oferecem regimes tributários mais favoráveis para investimentos, permitindo que os investidores maximizem seus retornos líquidos.

  1. Maior liquidez e facilidade de transformação de ativos

Grandes mercados financeiros estrangeiros oferecem maior liquidez, permitindo uma conversão mais rápida de ativos em dinheiro. Países com carga fiscal mais baixa podem proporcionar um ambiente mais favorável para o crescimento dos investimentos. A liquidez é essencial para investidores que possam precisar de acesso rápido ao capital, especialmente em tempos de incerteza econômica.

  1. Proteção patrimonial

Investir no exterior pode servir como uma forma de proteção patrimonial contra possíveis crises econômicas, desvalorizações da moeda local e até mesmo expropriações de bens pelo governo. Muitos países oferecem estabilidade política e econômica, proporcionando um ambiente seguro para o patrimônio.

Além disso, existem diversos países que realmente respeitam a legislação quanto o assunto é patrimônio, o que traz uma excelente hipótese de proteção patrimonial sobre dívidas executadas.

  1. Acesso a mercados e oportunidades globais

Investir no exterior abre as portas para oportunidades de investimento que não estão disponíveis no mercado doméstico. Isso inclui setores emergentes, tecnologias inovadoras e empresas de alto crescimento localizadas em outras partes do mundo.

Desvantagens e desafios dos investimentos no exterior

  1. Complexidade regulatória e burocracia

As normas tributárias variam amplamente entre países, o que pode complicar a gestão dos investimentos. A alta burocracia em algumas jurisdições exige uma análise detalhada das regulamentações locais. Os investidores precisam estar cientes das diferentes exigências de conformidade e dos custos associados ao cumprimento dessas regras.

  1. Riscos cambiais e custos de transação

Flutuações cambiais podem impactar negativamente os retornos financeiros. Além disso, as taxas de corretagem e transação em alguns mercados podem ser elevadas, aumentando os custos de investimento. A volatilidade cambial pode reduzir os ganhos normalmente assimilados no Brasil.

  1. Conformidade legal e tributária

A legislação aplicável aos bens do falecido, a legislação relativa ao domicílio dos herdeiros e a tributação incidente sobre os bens devem ser cuidadosamente analisadas. Conflitos de leis entre diferentes países podem levar a complexos litígios judiciais. A falta de entendimento claro das leis locais pode resultar em consequências legais e fiscais adversas.

  1. Desafios logísticos e administrativos

A gestão de investimentos no exterior pode exigir a contratação de profissionais especializados, como advogados e contadores internacionais, aumentando os custos operacionais. A distância geográfica também pode representar desafios logísticos e administrativos, dificultando a supervisão direta dos ativos.

Impacto das políticas internacionais

O ingresso do Brasil na OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico representa um avanço significativo na harmonização das práticas tributárias e na facilitação de acordos bilaterais para evitar a dupla tributação. Desde 2018, o Brasil tem firmado diversos acordos com outros países membros da OCDE, promovendo um ambiente mais seguro e eficiente para investimentos internacionais.

  1. Fiscalização e transparência

A OCDE promove a fiscalização tributária e a transparência, o que ajuda a prevenir a evasão fiscal e a garantir um ambiente de investimento justo e seguro. A adesão aos padrões da OCDE também facilita o acesso a informações financeiras globais, permitindo uma melhor avaliação dos riscos e oportunidades.

  1. Acordos bilaterais e facilitação de investimentos

Os acordos bilaterais de dupla tributação reduzem a carga tributária sobre os investidores, evitando a tributação dupla e incentivando o fluxo de capital entre países. Esses acordos proporcionam uma maior segurança jurídica e econômica para os investidores, aumentando a confiança nas transações internacionais.

  1. Padrões e normas internacionais

A adoção de padrões e normas internacionais promove a integração do Brasil no mercado global, aumentando a competitividade dos investidores brasileiros e facilitando a cooperação econômica com outros países.

  1. Desenvolvimento econômico e atração de investimentos

A adesão à OCDE pode atrair mais investimentos estrangeiros para o Brasil, contribuindo para o desenvolvimento econômico e a criação de empregos. Um ambiente econômico estável e previsível é essencial para atrair investidores internacionais.

Considerações finais e recomendação

O investimento no exterior, quando bem estruturado, pode ser uma estratégia eficaz no planejamento sucessório, oferecendo vantagens como diversificação de ativos e proteção patrimonial. No entanto, é crucial buscar orientação especializada para avaliar as especificidades de cada caso, considerando as implicações tributárias e regulatórias.

Um planejamento sucessório inadequado pode resultar em conflitos legais e fiscais, prejudicando a transmissão patrimonial. Portanto, a cautela e a consulta a profissionais experientes são essenciais para assegurar o sucesso dessa estratégia.

  1. Consultoria especializada

Os investidores devem consultar profissionais especializados em investimentos internacionais para garantir que todas as implicações legais e fiscais sejam cuidadosamente avaliadas e gerenciadas.

  1. Análise de riscos e benefícios

Cada decisão de investimento deve ser precedida por uma análise detalhada dos riscos e benefícios, considerando tanto o ambiente econômico do país de destino quanto os objetivos financeiros e sucessórios do investidor.

  1. Estratégias de mitigação de riscos

Implementar estratégias de mitigação de riscos, como a diversificação geográfica e setorial dos investimentos, pode ajudar a proteger o patrimônio contra possíveis adversidades.

  1. Educação e capacitação contínua

Investidores devem se manter atualizados sobre as mudanças nas políticas internacionais, regulamentações fiscais e tendências de mercado para tomar decisões informadas e estratégicas.

Exemplos práticos de sucesso

  1. Família empresarial brasileira com investimentos nos EUA

Uma família empresarial brasileira, preocupada com a instabilidade econômica e política no Brasil, decidiu diversificar seus ativos investindo em imóveis comerciais nos Estados Unidos. A decisão foi baseada na busca por maior segurança e liquidez, aproveitando o mercado imobiliário robusto e as condições favoráveis de crédito nos EUA. A estratégia resultou em um aumento significativo do patrimônio da família e na proteção contra desvalorizações cambiais.

  1. Empresário brasileiro no setor de tecnologia

Um empresário brasileiro do setor de tecnologia decidiu expandir seus investimentos para a Europa, estabelecendo uma subsidiária em um país membro da OCDE. A decisão foi motivada pela busca por um ambiente regulatório estável e por incentivos fiscais oferecidos aos investidores estrangeiros. A expansão internacional permitiu ao empresário acessar novos mercados, aumentar a base de clientes e diversificar suas fontes de receita.

Conclusão

Os investimentos no exterior oferecem uma alternativa atrativa para o planejamento sucessório, principalmente devido às vantagens tributárias e à diversificação de ativos. A digitalização global e os acordos bilaterais promovidos pela OCDE têm contribuído para a viabilidade dessa estratégia. No entanto, as complexidades regulatórias e os custos associados exigem uma análise cuidadosa e uma preparação adequada.

Empreendedores e investidores devem considerar os benefícios e desafios dessa abordagem, buscando sempre o suporte de especialistas para garantir a conformidade legal e a eficácia do planejamento sucessório. Com a devida diligência, o investimento no exterior pode ser uma ferramenta poderosa para assegurar a continuidade e o crescimento do patrimônio

Lucas Parreira
Sócio no Escritório Rosenthal e Sarfatis Metta. Mestre em Direito Empresarial e Especialista em Direito Tributário, Direito Civil e Direito Contratual.

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