Usar a estrutura narrativa da jornada do herói para suas peças processuais é colocar seu cliente como herói de sua própria história. Um ser comum, com poderes potencializados, mas que sofre com todas as fragilidades humanas. Você captura a atenção de seu leitor e ele passa a vivenciar suas experiências fantásticas. Então, estabeleça conexões e, por consequência, o convencimento.
Você pode até pensar que a humanidade está em um período racional e de total desencanto. Você pode até pensar que não existe um lugar para cavaleiros de armaduras. Mas, se resolver ler Joseph Campbell poderá ser levado ao mundo dos sonhos e onde nada é impossível.
Entendemos o papel do mito, dos heróis seculares que buscavam o equilíbrio entre os deuses da razão e os da imaginação. Tudo tão atual!!! Campbell considerava irresistível a composição da construção dos mitos, a religião e a psicologia. E, mistura tudo isso para conceituar a “jornada do herói”.
Percebemos que todos os dias vivemos uma jornada, e a maneira como enfrentamos nossos desafios, nossas escolhas e nossos objetivos, nos conduzem ao alcance de nossa própria jornada de herói. Esse conceito hoje é usado em filmes, jogos, seriados e até mesmo como ferramenta motivacional em organizações empresariais.
Para nós, que escrevemos, a jornada do herói é um arquétipo narrativo bem comum. É, essencialmente, um arco de personagem, que em sua estrutura tradicional tem apenas três atos (apresentação/confrontação/resolução). Mas, que Campbell, em seu livro “O Herói de Mil Faces”, detalhou em 17 etapas. Depois, adaptada por Christopher Vogler, em sua obra “Jornada do Escritor”, é condensada em 12 estágios.
Os estágios são baseados em fases da própria vida, com claras mensagens de foco, persistência e, mesmo com períodos de sacrifícios, o final é de sucesso. Ao longo da construção da narrativa o personagem passa por transformações sequenciais e, ao final, se transforma em herói.
Como vê, grandes histórias da humanidade seguem essa mesma estrutura. Ao contar a sua própria história de advogado você deve utilizar essa estrutura. Ao apresentar seu cliente, você também deve apresentá-lo como aquele que será capaz de ensinar algo a nós mesmos.
QUANDO VOCÊ É O HERÓI, E APRESENTA SUA PRÓPRIA JORNADA
A sua história é a jornada de homens e mulheres que tiveram a coragem de dar o primeiro passo, com propósito em uma carreira profissional, mesmo sabendo que o mercado não é um “oceano azul”. Mesmo sabendo que haveria obstáculos.
Previa um futuro grande, de progresso intelectual, dinamismo e vitórias em suas argumentações?
Esse era o seu “chamado “. O primeiro estágio da jornada do herói.
Mas, a vida convidou nosso herói (no caso você) para terras desconhecidas e cheias de desafios? Você terá que se aventurar? Quem sabe concurso? Quem sabe a contratação em uma grande empresa? Quem sabe?
Então, se quiser compartilhar sua história comigo, basta fazer um exercício:
- Tente se lembrar por que escolheu fazer a faculdade de Direito?
- Lembre-se do seu “chamado”?
- O que busca, ou ainda busca, em sua carreira jurídica?
Humanize a sua própria história. Utilize a técnica como método de persuasão para apresentar seus serviços e seus diferenciais.
E o final (claro!) será o sucesso.
FAZENDO DE SEU CLIENTE UM HERÓI
A arte de contar histórias, com a técnica de storytelling, em peças como a petição inicial, não será diferente da composição de narrativa que exercita um especialista em marketing.
Vejamos:
Teremos o autor e o réu, podendo haver outros personagens secundários. Mas, o protagonismo dedicaremos a nosso autor.
Apresentaremos a sua jornada:
- sua saída de um mundo normal;
- todos os seus desafios, com a apresentação do problema e a violação dos direitos;
- os fundamentos jurídicos, mostrando a magnitude da batalha e todo o merecimento, quanto ao atingimento do objetivo;
- como em toda a jornada do herói, comprovar que o bem deve sempre vencer o mal. E, isso se faz com a condenação do reu-antagonista.
O uso da storytelling por advogados nos permite que, ao narrarmos os fatos, contextualizemos cenas e personagens, humanizemos a história e compomos, claramente, o autor como justo e o réu como algoz. Teste essas técnicas de persuasão, que poderão ser utilizadas de maneira estratégica, de forma a propiciar uma conexão entre a sua narrativa e o convencimento do julgador.
Para terminar, uma frase do meu herói favorito: “Mudar o mundo, amigo Sancho, não é nem utopia nem loucura, é justiça” (Dom Quixote, Cervantes)