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Consciência digital e inteligência artificial

O primeiro passo para o despertar da nossa consciência digital é assumirmos que somos influenciados pelos vieses inconscientes ou cognitivos.

2/12/2022

Em média uma pessoa toma cerca de 35 mil decisões por dia. Atualmente inúmeras dessas decisões são tomadas em meio digital, influenciadas pelos chamados defaults. Este termo (traduzido para o português como ‘padrão’), remete à ideia de decisões que são tomadas por você de forma inconsciente e direcionada. Em outras palavras, o sistema decide automaticamente sem que o usuário seja consultado. Funcionam como atalhos mentais que tornam o pensamento mais fácil e rápido, mas podem ser perigosos ao nos levarem a tomar decisões irracionais e inconscientes.

E-mails promocionais são um clássico exemplo de default. A partir de um comportamento seu, de seguir determinado perfil no Instagram, por exemplo, o sistema decidiu que você deveria receber informações e propagandas sobre aquele perfil e se você não quiser mais recebê-los precisa optar por sair da lista de contatos daquela determinada empresa, ou seja, automaticamente você passará a ser bombardeado com esses e-mails, ainda que não tenha conscientemente tomado essa decisão. Os checkboxes, portanto, - aquelas caixinhas que normalmente já são previamente preenchidas pelo próprio sistema sem nos consultar, como “quero receber ofertas”-, são exemplos de defaults: decisões que são previamente tomadas por você.

É importante conhecermos também o conceito de nudges que pode ser traduzido como um “empurrãozinho” no sentido de uma determinada decisão. São intervenções usadas para influenciar a tomada de uma decisão pelo indivíduo. Por exemplo, se você quer que seu filho passe a comer mais frutas você pode usar os seguintes nudges: proibir o consumo de doces industrializados ou começar a deixar frutas picadas ao alcance. As duas condutas funcionam como intervenções para influenciar a tomada de decisões. No mundo digital somos bombardeados o tempo todo com nudges e defaults que nos inclinam em determinadas direções.

Outro exemplo de viés cognitivo é a ferramenta de pesquisa no Google. Quando procuramos um produto ou serviço aparecem milhares de resultados e normalmente clicamos nos primeiros. Isso levanta a questão, foi você quem realmente escolheu aquele produto ou o Google escolheu por você?

No mesmo sentido, podemos questionar: será que é você quem decide o que vai ver na sua timeline e/ou feed ou será que o Facebook, Instagram ou LinkedIn e todos os outros ambientes digitais influenciam você a consumir o conteúdo que eles consideram mais relevante?

Precisamos levar em consideração, ainda, que existem dois tipos de influência: persuasão e coação. No primeiro tipo, o indivíduo é influenciado a fazer o que quer e precisa, enquanto no segundo tipo é influenciado a fazer o que não quer e não precisa. Evidente, portanto, que o primeiro tipo pode ser benéfico, diferente do segundo que é quase uma manipulação. A assinatura forçada, por exemplo, é um tipo de “empurrãozinho” prejudicial na maioria dos casos. Existem, em contrapartida, vieses positivos. Muitos equipamentos digitais são utilizados para otimizar o tempo dos indivíduos, trazer praticidade às atividades cotidianas, monitorar doenças etc.

Nesse sentido, um dos objetivos deste texto é fazer esta provocação ao leitor, aumentando o seu nível de consciência digital. O primeiro passo para o despertar da nossa consciência digital é assumirmos que somos influenciados pelos vieses inconscientes ou cognitivos. O segundo passo é ficarmos atentos se estes “empurrõezinhos” digitais estão nos influenciando a fazer coisas que não queremos ou precisamos, prestando especial atenção nas checkboxes que já foram previamente marcadas por nós. Para alcançarmos um equilíbrio sadio no cenário tecnológico é preciso ter pensamento crítico, empatia nos meios eletrônicos e gerenciar tempo e tarefas nas redes sociais. Seguindo estes passos podemos atuar de modo a fazer a tecnologia trabalhar a nosso favor e não ao contrário.

A consciência digital é o segredo para combater a manipulação da inteligência artificial.

Adriana Garibe
Responsável pela área de Direito Digital do escritório LEMOS Advocacia Para Negócios.

Lyana Breda
Advogada Lemos Advocacia Para Negócios

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