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A “tokenização” no setor financeiro

A tendência é que os ativos digitais sejam cada vez mais utilizados em transações financeiras, como serviços financeiros, forma de pagamento ou ativos de investimento.

3/11/2022

Tokenização é a transformação de um ativo em ativo digital, registrado em blockchain. O conceito é simples, mas a tokenização revolucionou a forma de transacionar ativos.

Ela promove maior eficiência e agilidade nas transações, que passam a ser realizadas de forma digital, reduzindo custos e intermediários. Além disso, o registro em blockchain promove grande segurança, uma vez que as informações registradas são imutáveis. A tecnologia também promove maior acessibilidade aos ativos.

Com o desenvolvimento do mercado de ativos digitais, os investidores passaram a incluí-los em seus portfólios de investimento.

Embora a CVM tenha inicialmente se posicionado sobre a impossibilidade dos fundos de investimentos regulados pela ICVM 555 investirem em ativos digitais, em agosto de 2018 ela alterou a sua posição por meio do Oficio Circular 11/18/CVM/SIN, que consolidou a autorização para fundos de investimento regulados pela ICVM 555 investirem em criptoativos de forma indireta por meio, por exemplo, da aquisição de cotas de fundos e derivativos, dentre outros ativos negociados em terceiras jurisdições, desde que admitidos e regulamentados naqueles mercados.

Assim, os fundos de investimento voltados ao mercado de criptoativos e NFTs tornaram-se alternativa viável aos investidores brasileiros, que até então apenas investiam em ativos digitais por meio de exchanges.

Apesar de o Brasil não terregulamentação sobre ativos digitais, o tema não passa despercebido pela CVM e pelo BACEN.

Após alterar seu posicionamento, a CVM já aprovou a operação no Brasil de fundos com exposição ao segmento de NFT, como os Fundos VTR Coin NFT e VTR Cripto NFT.  Também foram aprovadas regulações transitórias em sede de sandbox regulatório, tanto da CVM, como do BACEN, como foi o caso do sandbox do BACEN que autoriza a Brasil OTC a emitir tokens em blockchain dentro do sistema financeiro nacional.

Além de investimentos, os ativos digitais estão viabilizando outras transações financeiras, como empréstimos. Algumas plataformas utilizam smart contracts para formalizá-los e garantir o cumprimento das obrigações. Os smart contracts são capazes de garantir a dívida do empréstimo tomado com o próprio ativo digital mantido em uma conta escrow digital. Igualmente, grandes bancos têm utilizados tokens para garantir empréstimos agrícolas.

Outro exemplo é a tokenização de recebíveis, utilizada como alternativa à antecipação ou cessão de recebíveis de sociedades operacionais que necessitam de caixa para suas operações. Diferentemente da operação de antecipação de recebíveis, que depende de agente financeiro intermediário para conceder o empréstimo garantido, e da cessão, que depende da interveniência do credor, a tokenização permite que os recebíveis sejam transformados em tokens e negociados no mercado, sem necessidade de interveniente. Os tokens são adquiridos como partes de uma dívida por terceiros e remunerados com juros.

A tokenização vem promovendo maior diversidade nos produtos financeiros. A tendência é que os ativos digitais sejam cada vez mais utilizados em transações financeiras, como serviços financeiros, forma de pagamento ou ativos de investimento.

Nicole Katarivas
Especialista em operações de M&A pela Fundação Getúlio Vargas. Pós-graduada em Direito Empresarial. Advogada do escritório Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados.

Raquel Lamboglia Guimarães
Advogada em Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados. Mestre em Direito Financeiro e Econômico pela USP. Atua em Direito Societário e Empresarial.

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