Ataque e ofensas; intolerância e desavenças! Mentira e crenças; ódio e diferenças! Se as rimas aqui postas expõem tanta repulsa, o que diremos das propostas – que quase nulas –, causam repulsa!
Uma tônica eleitoral, que beirando um curral, mostra ao mundo uma triste realidade moral. Moral ausente, daqueles que descrentes, se veem na premente ansiedade por votar.
Mas votar em quem? E se não me representa ninguém, como ir além na hostil guerra de um eventual “mal contra o bem”? E por falar em bem, pois bem: se a rima é poesia, discordar não é heresia! Ao menos, não deveria! Que triste realidade experienciar.
Mas e se este texto for um poema? Afinal, qual o problema? Eis o dilema, de identificar o que fora escrito. Por isso suplico: respeite a opinião alheia, pois é ela que permeia a democracia; sem hipocrisia ou ironia.
Ademais, na história não é diferente e coitada dessa gente que, infelizmente, observa descrente tal cenário político não acabar; muitas delas sem poder se manifestar! Cenário que deveria ser crítico e analítico, com verdadeiros debates políticos na acepção da palavra; sem bravata, no simples dever de sufragar.
Mas passado o momento de máxima vênia poética em meio ao caos jurídico que esse processo eleitoral carregou e proporcionou aos brasileiros – com traços de instabilidade constitucional e democrática se desenhando nos anais da história, neste triste cenário que não deveria servir a ninguém –, cumpre o convite à reflexão no cruzamento intelectual com a clássica obra de Fiódor Dostoiévski, um escritor, filósofo e jornalista russo do século XIX.
Destaca-se que o autor preponderantemente abordava as dissonâncias da consciência humana, cujo elóquio permeia a fina diferenciação entre o “herói” e o “anti-herói”; entre as atitudes louváveis e aquelas repugnantes que o ser humano – até então probo e defensor dos bons costumes e da moral –, é capaz de protagonizar.
Toda contradição das temáticas de Dostoiévski evoca (e invoca) sérias reflexões por meio das atitudes de suas personagens. Na obra “Crime e Castigo”, publicada em 1866, não é diferente. Em pauta, estão o ódio, a tirania e um emaranhado de “personas” buscando por certa dignidade em meio a uma realidade totalmente hostil, caótica e sangrenta; mas de certa forma poética por ofertar tais meditações ao leitor; como ao eleitor.
Assim, “Crime e Castigo” revela a dúvida moral quanto ao assassinato de alguém. Seria crime se o fim fosse nobre? O protagonista defendia que homens “superiores” cometem homicídios para atingir objetivos “louváveis” e, assim, poderiam prover grandes “evoluções” para a sociedade.
Tal arrogância – apesar de configurar um crime de homicídio qualificado pela futilidade e, obviamente, moralmente reprovável –, seria aceito pelo próprio assassino como forma de justificar para si, as atitudes realizadas.
Paradoxalmente, por mais repugnante e contraditória que seja a leitura da obra, esse clássico é tido como um romance. Vivenciado numa Rússia alicerçada pela moral e religiosidade, o protagonista não se sente culpado pelos crimes que cometera, mas, tem contra si, uma infinda “autopressão” moral imposta pela sociedade.
O que resta dessa interseção é o sentimento de que o respeito às pessoas, suas posições políticas – sejam elas de direita, esquerda, de centro ou mesmo de abstenção –, às leis e ao Estado Democrático de Direito, não deve se diluir no simples fato de ter uma opinião diversa do próximo.
Quiséramos todos que os debates fossem de ideias, construídos sob argumentos válidos e cujo fim fosse o de apresentar melhorias e avanços ao país. É sabido que o Brasil reserva um enorme potencial global, mas infelizmente, ainda tímido frente à devassa moral que essas eleições demonstraram por certa parte da população.
Que o resultado de domingo, dia 30/10 aponte para um horizonte de maior sensatez ao povo brasileiro. Discutamos sim, mas com respeito! Só assim, construiremos um país justo e perfeito.