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Aquecimento global e a quebra de paradigmas

Desde a guerra fria não se via a recorrência de um assunto na mídia internacional, tal qual tem ocorrido com a recente divulgação, pelo Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, do relatório sobre o aquecimento global.

27/3/2007


Aquecimento global e a quebra de paradigmas

Roberta Noroschny*

Desde a guerra fria não se via a recorrência de um assunto na mídia internacional, tal qual tem ocorrido com a recente divulgação, pelo Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, do relatório sobre o aquecimento global.

Em 2007 chegou-se à conclusão, com uma probabilidade de 90% de certeza, que o aquecimento global decorre da ação humana. No entanto, já em 1827 o cientista francês Jean-Baptiste Fourier alertara para o efeito estufa, causado pela emissão de gases atmosféricos que prendem a energia solar, elevando a temperatura da superfície terrestre.

Portanto, levamos 180 anos para sentir na pele as mais altas temperaturas registradas na história e dessa vez, as conseqüências não atingem apenas aldeias de nome impronunciável no continente africano ou regiões isoladas da Mongólia, do sul do Oceano Pacífico ou qualquer outra realidade distante das populações que habitam os grandes centros.

Contudo, a sensação de que não veremos as catástrofes climáticas anunciadas pelos cientistas, levando-se em consideração esses quase dois séculos transcorridos desde a primeira constatação do problema, não pode servir para uma atitude meramente reativa. A zona de conforto, que consistiria na expectativa de que cientistas ou os países desenvolvidos adotem as medidas mitigatórias, também concorrem para o problema.

Os impactos anunciados devem servir para que, numa verdadeira ação conjunta internacional, as populações de todo o mundo passem a adotar uma conduta pró-ativa, questionando a origem e a responsabilidade sócio-ambiental dos produtos que consomem.

A preocupação com o consumo responsável deve abranger, desde os produtos fabricados com a madeira, evitando adquirir aquela que não tem sua origem controlada, para impedir o desmatamento na Amazônia, como é o exemplo do Brasil, até aos veículos produzidos em todo o mundo.

As pessoas deverão, a exemplo do que acontecia com o gás HF6, no passado amplamente utilizado nos aerossóis e compressores de equipamentos de refrigeração, rechaçar os produtos que não contêm um selo “anti-aquecimento global”

Assim como nas campanhas anti-tabagistas, que inseriram fotos de pessoas vitimadas pelos efeitos nocivos do tabaco no verso das carteiras de cigarros, uma boa medida seria veicular imagens de territórios de cidades como Veneza, submersos no mar ou a mortandade dos ursos polares e até as adaptações fisiológicas do organismo humano ao meio-ambiente mais hostil.

Em relação às indústrias, nada mais eficaz do que já se vem praticando em desfavor dos governos, que são as multas pelo descumprimento das metas de reduções atualmente em 100 euros por tonelada excedente. Os governos deverão cobrar essa conta das indústrias transgressoras, o que aumentará o custo dos produtos, tornando-os menos competitivos em relação àqueles fabricados pela indústria sócio-ambientalmente responsável.

Atualmente, o grande desmotivador para implantação de produção mais limpa é visão de que a questão ambiental só agrega custo. E isso é fato até o momento em que se depara com uma autuação ambiental e denúncia criminal. Ou seja, espera-se a criança cair no poço, para depois tampá-lo.

Em relação ao aquecimento global não é exagero alertar que é urgente a ruptura desses paradigmas ao se imaginar que após 2012, prazo limite do Protocolo de Kyoto, as metas de reduções deverão ser muito mais desafiadoras, na ordem de 20 a 30% para chegarmos perto de uma desaceleração do crescimento do aquecimento. Referido tratado, assinado e ratificado por mais de 160 países, com exceção dos Estados Unidos, Canadá e Austrália, previsto metas de redução de emissões de gases de efeito estufa em 5% relativos ao ano de 1992,

Além disso, é chegada a hora dos Estados Unidos repensarem seu posicionamento alheio a tudo isso. Falta-lhes deixar de lado o antigo hábito de não se interessar pelos problemas do resto do mundo. A China, a Índia e o Brasil também não podem mais se confortar com o benefício de comporem o Anexo 2 do Tratado de Kyoto, desenvolvendo projetos de mecanismo de desenvolvimento limpo com intuito de negociar créditos de reduções de emissões.

Estamos realmente perto do momento de “pular” para a lista daqueles que têm metas para cumprir, exercendo a responsabilidade conjunta, porém diferenciada, já que entramos mais tarde na corrida industrial.

Ou seja, não temos mais quase dois séculos pela frente para nos preocupar com o que viveremos, mas pouquíssimo tempo para legar um ambiente não tão árido e escasso em recursos naturais para os nossos filhos e netos.

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*Advogada do escritório Martinelli Advocacia Empresarial











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