Nesta última semana, a UE adotou o USB-C como padrão comum obrigatório para todos os carregadores de celular. As fábricas possuem um prazo até o outono de 2024, para padronizar todos os novos telefones celulares, tablets, câmeras digitais, fones de ouvido e alto-falantes portáteis para uso do USB-C.
Em um mundo onde vemos a grande rivalidade entre os usuários da plataforma Android, capitaneada principalmente pela coreana Samsung (mas com diversos outros players fortes no mercado como Xiaomi, Huawei e Motorola), e os usuários da plataforma IOS da Apple, essa é uma notícia que pode ser particularmente perturbadora para os cidadãos da União Europeia – e para todo o mundo, que pode vir na esteira da regulamentação muito em breve.
A principal raciocínio por trás da exigência da UE para USB-C como um padrão universal para todos os produtos eletrônicos é na redução do número de menos carregadores necessários, e, consequentemente, em uma pegada ambiental menor.
Por que a Apple é diferente?
Ainda no início da década de 2010 (pasmem, isso tem somente um pouco mais de uma década), o iPhone ainda utilizava seu antigo plugue largo, herdado dos primeiros iPods.
Foi então que, em setembro de 2012, a Apple lançou seu novo plugue, o “Lightning”. Pequeno e elegante, podia ser conectado nos dois sentidos com um simples clique. Uma pequena mudança de tecnologia que foi de grande importância para a experiência do cliente.
Mas agora vem o pulo do gato.
Como a Apple é proprietária exclusiva do padrão Lightning, eles controlam seu uso. Com isso eles podem definir os padrões de qualidade mínimos e exigir um pequeno royalty pelo uso do padrão, que hoje gira em torno de quatro dólares por produto (sim, por isso os produtos que são compatíveis com os aparelhos da maçã costumam ter um valor bem elevado quando comparados aos outros do mercado). Pensando de forma exponencial, com um marketshare de aproximadamente 28% do mercado global de aparelhos celulares, representando em torno de um bilhão de aparelhos vendidos de acordo com a última pesquisa da Statcounter, o plugue proprietário da Apple representa sozinho uma indústria bilionária.
Além disso, a adoção de soluções proprietárias não só garante a exclusividade, mas garante que os equipamentos compatíveis com os aparelhos da linha Apple funcionem como deveriam, protegendo a reputação de suas marcas, considerado hoje um dos maiores assets de todo o conjunto de produtos da cesta de maçãs.
E agora, Apple?
Muitos especialistas de mercado afirmam que a Apple está caminhando para a adequação ao USB-C. Seus carregadores já são compatíveis com o padrão, mas ainda são necessários cabos de alimentação para o iPhone e demais acessórios.
Levando em consideração o histórico inovador da empresa, é mais fácil que eles trabalhem para estabelecer as bases para um novo produto que substitua o padrão atual dos carregadores, sendo, provavelmente, a próxima galinha dos ovos de ouro da empresa.
Todos já estamos familiarizados com o carregamento QI, conhecido como carregamento sem fio. Mas ele ainda possui muitos desafios. O poder de carregamento ainda é muito inferior ao alcançado com os carregadores de carga rápida com cabos, além de serem sensíveis a como o telefone está posicionado sobre o carregador.
Vem aí uma nova indústria bilionária para o povo da maçã?
Recentemente, a Apple tirou das cinzas uma de suas marcas, a MagSafe. Com ela, buscam lançar uma solução melhorada de carregamento sem fio. Utilizando ímãs que controlam o posicionamento do telefone e do carregador, o MagSafe oferece carregamento Qi rápido. A solução não é revolucionária, mas torna o carregamento dos produtos da Apple mais fácil e divertido, ao mesmo tempo em que está protegido por patentes e outros direitos de sua propriedade.
O produto, por si só, já apresenta uma excelente solução para o carregamento dos celulares, mas ele oferece muito mais do que isso: com essa nova forma de carregar os aparelhos, não será mais necessária a entrada para qualquer tipo de cabo. Da mesma forma que vivemos recentemente a retirada das entradas para fones de ouvido com fio nas versões mais recentes de aparelhos celulares, estamos já à beira de uma nova virada tecnológica. Assim, a Apple terá ao seu alcance a possibilidade de ofertar um produto “lacrado”, com capacidades de proteção contra água e demais intempéries ainda não ofertadas por qualquer outro aparelho com as mesmas capacidades tecnológicas do iPhone.
Assim, ao combinar soluções novas e aprimoradas, com direitos estratégicos inteligentes, a Apple continua trabalhando para se manter como um importante e diferenciado player no mercado de aparelhos celulares, garantindo resultados exponenciais para a empresa e para seus clientes.