Aprovada, em outubro deste ano, pelo Congresso Nacional, a PEC 17/19 aguarda agora a promulgação para aumentar a proteção e autonomia dos cidadãos sobre tratamento de seus dados. Apesar de já haver um caminho para isso com a Lei Geral de Proteção de Dados, com a inserção da Emenda Constitucional o cuidado com os dados pessoais ganha nova força.
A promulgação da PEC, além de dispor que as leis sobre tratamento de dados pessoais são de competência privativa da União, vai inserir a matéria na Constituição. E isso é uma conquista muito significativa para o Brasil, porque torna a proteção de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, um direito fundamental, ao lado do direito à vida, do direito de ir e vir, da liberdade de expressão, dentre outros direitos tão caros à civilização.
Na prática, o reconhecimento de um direito como fundamental consiste em considerá-lo hierarquicamente superior no ordenamento jurídico, acima de outras leis (constitucionais e infraconstitucionais).
Apesar de o mundo, a exemplo da União Europeia, já discutir há mais tempo o tratamento de dados pessoais, é um momento extremamente oportuno aqui no Brasil, que, antes da PEC, já celebrava a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (lei 13.709/18).
É certo que a LGPD ainda possui algumas lacunas, mas a inserção da matéria na Constituição Federal enriquece o debate e contribui para o fortalecimento do direito do cidadão (titular de dados), que tem o poder de escolher para quem (e com que finalidade) ele vai ceder acesso ao tratamento dos seus dados, a exemplo de CPF, RG, endereço, e-mail, placa de carro, nome completo, entre outras informações que permitam sua identificação.
Esse movimento ocorre na esteira de inúmeras discussões e reflexões sobre o impacto do mau uso e gerenciamento ilícito de dados pessoais em todo o Globo. É uma iniciativa importante porque já vimos o quanto tratamento obscuro de dados impacta na sociedade, no modelo de comportamento, nos hábitos de consumo e até na democracia (eleições influenciadas pelo perfilamento do eleitorado através do tratamento irregular de dados pessoais). Por isso, todo avanço que damos para assegurar a proteção de dados pessoais e consolidar a LGPD é fundamental para nosso desenvolvimento enquanto sociedade vivente na era da informação.