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2020 - 0 último ano dos jornais e revistas

Sei que serei contestada por inúmeros leitores que, como eu, passaram grande parte de suas vidas lendo e aprendendo com revistas e jornais diários, porém, temos de admitir que esse hábito que já nos deu tanto prazer e conhecimento está com os seus dias contados. O crescimento rigoroso do número de publicações digitais na Web, acompanhado do rápido desenvolvimento da Internet e sua conseqüente popularização em larga escala nos levam a uma única e infeliz certeza: os veículos impressos vão acabar.

9/2/2007


2020 - 0 último ano dos jornais e revistas

Sylvia Romano*

Sei que serei contestada por inúmeros leitores que, como eu, passaram grande parte de suas vidas lendo e aprendendo com revistas e jornais diários, porém, temos de admitir que esse hábito que já nos deu tanto prazer e conhecimento está com os seus dias contados. O crescimento rigoroso do número de publicações digitais na Web, acompanhado do rápido desenvolvimento da Internet e sua conseqüente popularização em larga escala nos levam a uma única e infeliz certeza: os veículos impressos vão acabar.

Uma pesquisa norte-americana divulgada recentemente concluiu que é cada vez maior o número de professores que utilizam sites noticiosos nas salas de aula, deixando para trás os jornais e as revistas. De um total de 1.262 profissionais pesquisados, 57% usam com alguma freqüência a Internet em suas aulas e 75% declararam que os jornais eram a mídia menos apreciada pelos alunos.

De fato, muitas são as vantagens das publicações eletrônicas na Web. Os jornais digitais são mais interativos que os impressos. As notícias podem ser atualizadas várias vezes durante o dia e acessadas em tempo real por leitores em qualquer lugar do mundo. Além disso, há também a disponibilidade de serviços especiais, como consulta a edições passadas, classificados on-line, programas de busca, fóruns de discussão e canais de bate-papo, entre outros.

Acho que pertenço a uma das últimas gerações que ainda mantêm o interesse pelos fatos divulgados pela mídia impressa, pelo prazer de uma leitura de revista e das notícias diárias dos jornais. Isto só faz falta para quem cultivou o hábito da leitura desde a infância. As crianças e a juventude de hoje não estabelecem relacionamento algum com os mesmos, pelo contrário, estão plugados na internet.

Mas eles não estão errados. O mundo mudou, assim como o papel cumpriu o seu dever por milhares de ano e hoje, naturalmente, já não tem mais a mesma importância que teve no passado. Novos tempos assustam, mas não há o que fazer. O futuro sempre vem e a não-aceitação do novo é a morte certa, a obsolescência, o reacionarismo. Quando penso que o papel surgiu com os papiros, que depois de um certo tempo ele vira comida de traça, que uma folha de jornal ou uma capa de revista custou a vida de uma árvore, que gastou uma enormidade de energia e esforço para ser produzido, que exigiu todo um processo mecânico para a impressão e uma logística mais do que primária para colocar o veículo na casa do leitor, percebo que estamos utilizando praticamente todo o mesmo processo dos primórdios da escrita, remetendo-nos ao antigo Egito e fornecendo uma informação velha e ultrapassada.

Confesso que tive uma enorme dificuldade para assimilar toda esta nova tecnologia — a qual domino muito pouco em relação à maioria das crianças de sete anos, idade em que a minha geração começava a ser alfabetizada —, mas é com prazer que fico sabendo de minuto em minuto tudo de mais relevante que esteja acontecendo em nosso planeta e é com o mesmo prazer que me sinto fazendo parte deste novo mundo, moderno e rápido.

E como posso afirmar que 2020 será o ano do fim da mídia impressa? Não sei, talvez seja até antes ou um pouco depois, isto não importa. O que importa é que este processo é irreversível e virá, quer queira quer não e, assim, pessoas como eu serão as últimas a sentirem o antigo prazer de folhear um jornal ou uma revista, mesmo passados, pelas salas de espera da vida.

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*Advogada do escritório Sylvia Romano Consultores Associados




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