Migalhas de Peso

Economia de mercado justa e a advogada Anna Krolikowska: esboços esperançosos em 2021

Krolikowska dá exemplo ao preferir colaborar para a superação dos atuais e breves momentos de crises nacionais e universais.

21/9/2021

(Imagem: Arte Migalhas)
 “Tenho tão nítido o Brasil que pode ser, e há de ser, que
me dói o Brasil que é”

                                                                 (Darcy Ribeiro)

A justa economia capitalista ou neo-capitalista ou de mercado controlado produz dividendos! Uma visão deste momento, ou momentos em corte e os bens apropriados artisticamente tem uma representação muito expressiva em um quadro pintado por Fernand Léger, entre os anos 1924-1925 a quem os americanos intitulam “The Visitors” (Os Visitantes). Há uma razão subliminar para esse título e esse quadro numa publicação que é tão esparramada pelo mundo e sabida, onde publicada. Explico.

É que o título “Dividendos de uma justa economia” e o óleo de Léger estão casados na apresentação de um artigo de Robert Kuttnet que sintetiza quatro livros de economia/política/raça/história (HOPKIN, J. Anti-System Politics: the Crisis of Market Liberalism in Rich Democracies. Oxford: Oxford University Press, 2020; FRANK, T. The people, No: A brief history of anti-populism. Nova Iorque: Metropolitan Books, 2020; McGhee, H. The Sum of Us: what racism cost everyone and how we can prosper together. Londres: Profile Books, 2021; HANEY LÓPEZ, I. Merge Left: fusing race and class, winning elections, and saving America. Nova Iorque: New Press, 2019), publicado em 29 de abril de 2021 (págs 15-7). E não houve engano porque, de pronto, o autor Kuttner critica os governos das últimas décadas e vai até a contundência dos resultados dos pleitos, pois “o bloqueio partidário prejudicou até mesmo as funções governamentais mais básicas, como o asseguramento da integridade das eleições. Não foi à toa, o governo perdeu a confiança pública” (p. 15), no New York Review.

Todos os movimentos, como manifestações ou informações, ao longo dele tratados, são direcionados a interpretar a história, os movimentos sociais e políticos e consequentes, sem mirar, por exemplo, muito menos em escrutinar com seriedade, o que aconteceu na evolução social: a síntese de longo artigo desnaturada a sua ideia de probidade intelectual.

II

Tirando e apartando e recusando os comentários, sendo um arco-íris de inquestionáveis dúvidas ideológicas ao extremo, é irrevogável que a formação histórica norte-americana, tem seus reflexos interpretada pelo sociólogo Max Weber, com as marcas particulares da inglesa, ou da australiana, ou da neozelandesa. Assim penso desde 1967, quando fiz exame para Professor de Sociologia, na FGV, e fui reprovado fora das cadeiras...

Isso me conduziu a buscar, ou “refugiar”, no Illinois Bar um refúgio intelectual e profissional na Loyola University (Departamento de Consumer Law e Antitrust Law), onde permaneci ativo até completar a idade áurea, mas sempre interessado na vida e nos movimentos públicos e sociais que tiveram Abraham Lincoln como símbolo máximo. É a razão pela qual elegi o pequeno Estado de Illinois com suas fortes raízes históricas, sem o glamour de Massachusetts com Harvard (locais com projeções internacionais).

III

Dá-me prazer, gratificação e alegria quando o Illinois Bar Journal, ou a revista da Associação (Illinois Bar Journal, vol. 109, 7 de julho de 2021, p. 19-23), n a escolha dos artigos e sua síntese, o extrato (prático) defere ao advogado (sem melífluas coberturas), pela sua saúde, vida privada, pela ética, pela igualdade social, pelo enfrentamento das legalidades, pelas novas plataformas em que a profissão se renova, pelas escaladas dos degraus para subir no órgão que represente a classe que prima pela decência em não ter mandato além de um ano.

Todo este introito é coerente com o título, porque, como tenho o prazer de exibir. “não se escolhe quem quiser bem... É o coração que o indica”, rege o ditado popular italiano.

Como nos Estados Unidos, advogados podem, com minúsculas exceções, apenas, advogar no Estado após prestarem exame, não abdico de afirmar que os Departamentos de Ética dos “bar” fiscalizam a prática extra-territorial e não deixo de enfatizar a responsabilidade do seu filiado: para valer mesmo (para Charles Northrup, em Lawyers without Borders (p. 52-3): como aponta um guia ético da jurisdição local, com ênfase no subtítulo: “onde quer que se pratique a lei, a jurisdição local a controla”. Do artigo, destaco a esclarecedora conclusão: “como com qualquer guia ético, questões permanecerão. Os fatos nunca são estáticos. Mas as autoridades vão até as últimas consequências para confirmar a propriedade daquilo que muitos advogados vêm praticando, ainda que em menor escala, por muitos anos: abraçar o potencial das novas tecnologias, servir melhor os clientes e assegurar que a qualidade e competência dos serviços de natureza jurídica não sejam deixados de lado nas fronteiras físicas de sua jurisdição legal”).

IV

Antes de fazer o panegírico da advogada Anna Krolikowska, tento retratar o mundo jurídico dos advogados pátrios, com informações colhidas no site da OAB Federal (acessado em 9 de setembro de 2021. Disponível aqui.

Publicizo:

1) Temos inscritos 614.094 do sexo feminino e 611.047 do masculino e, somados ao número que há de estagiários e suplementares, atingimos o total de 1.298.290.

2) A eleição é mediante cédula única e votação direta dos advogados regularmente inscritos, há a chapa para o Conselho Regional que deve ser composta dos candidatos ao Conselho e à sua diretoria e, ainda, “à delegação (sic) ao Conselho Federal” e à Diretoria da Caixa de Assistência dos Advogados para a eleição conjunta.

3) O Presidente do Conselho Federal não é indicado nas chapas, sendo eleito por votação indireta, pelos Conselheiros Federais, que elegem a diretoria do Conselho Federal da OAB.

4) O mandato em qualquer órgão da OAB é de 3 anos.

5) Presidentes mulheres apenas duas: advogada Grace Anny Benayon Zamperlini, em 2015, do Amazonas e a advogada Fernanda Marinela, de Alagoas.

VI

Por que eu faço o panegírico da Presidente Anna Krolikowska?

Embarco no escrito de Ed Finkel e, com orgulho, reproduzo alguns trechos de sua penosa vida, como filha de imigrante e assim por diante que, como eu, passou pela Loyola University e adquiriu o espírito e a vontade de liderança em Roma, além de, nas férias de verão, em locais de prática de advocacia, como sucedeu sendo auxiliar na elaboração da Loyola Consumer Law Review:

1. A nova Presidente da ISBA, Anna Krolikowska, começou sua jornada à idade de 13 anos, quando sua família veio para os EUA da Polônia e ela entrou na Chicago Public School. “Estávamos estudando para um teste da Constituição. Eu me fiei na ideia de uma norma de lei e como a Constituição funciona nos EUA,’ ela diz. “Este interesse permaneceu comigo. Não havia ninguém em minha família que fosse advogada. Não conhecíamos nenhum advogado”.

2. O trabalho de Anna Krolikowska enfatiza o litígio, mas sem deixar de lado a mediação com outros trabalhos colaborativos. Ela aprecia “ser capaz de ajudar os clientes a superarem dias difíceis com dignidade, ajudando-os a entender suas opções e o que melhor lhes convém”.

3.  A Advocates Society ajudou Anna Krolikowska a se graduar em escola de direito com bolsa de estudos, tornando-se sua primeira associação ao Bar. Este envolvimento a levou à ISBA e à North Suburban Bar Association (NSBA), onde foi Presidente de 2013 à 2014. “Bar Association se tornou minha segunda família”.

4.  Durante seu período como Presidente da NSBA, Anna Krolikowska afirma que seu principal objetivo foi o de direcionar a instituição, estruturalmente e financeiramente, a um caminho próspero, além de promover o Bar a fim de conseguir novos membros: “Acredito que éramos capazes de fazer isto”, diz. “Presidentes quem me seguiram foram capazes de construir em cima do trabalho que fizemos”.

5.  “Ela é uma líder serena, com tratamento calmo e grande temperamento”, comenta Austriaco. “Quando você fala com ela, você sabe que ela reflexiona e retorna com as melhores soluções. Quando você alcança o posto de liderança de um Bar Association, lidar com tantas personalidades distintas e problemas variados, você precisa da habilidade de navegante e voltar com o consenso. Ela também não teme mandar as pessoas fazer as coisas”.

6. “Ela era parte essencial na liderança da Assembleia, quando veio com a resolução sobre a questão racial e discriminação de gênero e um conjunto de enunciados públicos para o que era esperado, no Bar, de seus membros. Esta foi uma demonstração importante e forte indicativo de suas prioridades” (a Resolução está disponível em: law.isba.org/3ixiJ3s).

7.  “Ela é uma pessoa bastante inclusiva, bastante amigável, e eu não conheço alguém que diga ‘não’ a ela. Ela é excelente em manter as pessoas firmes e reestabelecer a camaradagem que nós, potencialmente, perdemos durante a pandemia. Ela é muito boa também em absorver ideias de outras pessoas, demorar-se nelas, e compreender em como fazer estas ideias funcionarem”.

8.  Agenda enquanto Presidente: em seus anos como Presidente da ISBA, Anna Krolikowska diz que seus planos orbitam em torno da ideia de construir em cima daquilo que a precedeu sem perder de vista inovação e futuro. “Meu enquadramento não se limita ao enquadramento de um ano”, ela comenta. “Há um grande valor na consistência de nossa liderança e de nossa organização como um todo. Somos capazes de continuar progredindo na direção correta, evitando paragens e recomeços. É sempre importante para mim construir um time de conselho de liderança e voluntários”.

9.  Nós vamos oferecer programas acerca da pouca representação feminina enquanto candidatas concorrentes à cadeira dentro da ISBA”, ela afirma. “O programa Count me In retornará”. Ao mesmo tempo, a ISBA vai promover um work-life-balance para as famílias e para seus membros. Segundo Anna Krolikowska: “nós precisamos ajudar nossos advogados para que eles não se sintam abandonados e que sua escolha da carreira e vida sigam bem” e complementa: “nosso objetivo é o de incluir famílias, esposas, e outros mais em nossos programas”.

10. Sua vida: para Anna Krolikowska, o ponto culminante do trabalho de sua vida começa com seu marido, Eric Hanis, geólogo e consultor ambiental que dirige sua própria empresa, e com sua filha Lily. “Ela definitivamente me dá coragem para trabalhar e melhorar o mundo, não apenas para todos nós, mas por ela também”, diz a mãe Krolikowska, completando: “Hanis será um grande pai. Os membros da ISBA o conhecem ele e sabem que ele é ótimo em me apoiar”.

E que vida de mulher atuante, em uma área tão pedregosa e em uma época tão difícil com o novo governo vacilante: Krolikowska dá exemplo ao preferir colaborar para a superação dos atuais e breves momentos de crises nacionais e universais.

VII

A Presidente Anna Krolikowska, para o leitor nacional, de modo particular os profissionais e os que vivem no meio do universo do direito, resulte sincero apelo às advogadas, com todas as características que as distinguem, como espelho a se envolverem nos lides das agremiações que as acolhem e descortinar as razões de sua escolha e os motivos que entendem ser pertinentes na difícil profissão.

Eis o meu desejo, depois de inscrito na OAB/SP desde 1954 e com inscrição legalizável no Amazonas, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e Paraná e para as mulheres advogadas permanecerem forçando a ascensão nos cargos das Seccionais do Conselho Federal, até sua Presidência, com as consciência de que ubi mel, ihi fel (onde há mel, há fel).

Jayme Vita Roso
Advogado.

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