Eu não nasci advogado.
Talvez tenha nascido com algo que me fazia querer sempre discutir, e nunca aceitar o “não porque não”, mas, de fato, não nasci de “terno e gravata”.
Antes - bem antes -, fui criança, sonhei em ser jogador de futebol e até fui dono de um campo Society. Pensei em fazer educação física e fui estudante de engenharia.
Entrei e sai da faculdade de Direito sem nunca estagiar, mas com a cara e a coragem comecei a labuta. Duvidei se isso era realmente o que eu queria, e até cheguei a abrir um restaurante para fazer delivery de sushi, mas, por algum motivo, a vida me trazia de volta para a advocacia.
Eu só viria a entender isso depois.
Como quase todos os advogados, comecei, em 2013, com 22 anos de idade, sem parentes importantes, de classe social menos favorecida, advogando como correspondente e ganhando muito pouco, mas persistindo.
Superando obstáculos, consegui abrir meu escritório e patrocinar boas causas, o que me deu uma certa tranquilidade momentânea, e a certeza de que estava no caminho certo.
Acontece que em julho de 2018 encontrei a mulher que seria a mãe da minha filha. E aí tudo mudou.
Mudou porque descobriríamos, em abril de 2019, que ela era portadora de insuficiência renal crônica, e estava prestes a precisar fazer hemodiálise. Lembro-me que o médico, depois de várias consultas e exames, nos disse “ou vocês têm filhos agora, ou, provavelmente, ela nunca mais poderá engravidar”.
Naquele momento, o mundo parou. Lembrei da primeira frase que eu falei quando encontrei Denise; “você é tão linda que se tiver algum problema, deve estar escondido”. Adivinhei.
Eu tinha uma escolha a fazer: terminávamos ali, e cada um seguiria com o curso de sua história, ou assumiria a responsabilidade e encararia as dificuldades ao lado daquela que, até então, era apenas uma namorada.
Denise nunca conheceu o pai e perdeu a mãe quando tinha cerca de 16 anos. Não tinha boas condições financeiras para custear um tratamento, nem familiares que pudessem ajudar e tinha acabado de descobrir uma doença que mudaria o destino de sua vida para sempre.
A escolha nunca foi tão fácil. Em agosto de 2019 Denise estava grávida, gestando não só a nossa filha, mas também a minha melhor versão.
Apesar da ansiedade, a gestação foi tranquila. O turbilhão começaria no parto.
Naquele dia 31/3/21, Maitê veio ao mundo sem qualquer intercorrência, porém Denise foi pela primeira vez para a UTI sem sequer ver nossa filha, fato que aconteceria somente oito dias depois, quando driblei a segurança do hospital para entrar no quarto e, finalmente, fazer esse encontro acontecer.
Desse dia até hoje, foram várias idas para a UTI - inclusive foi lá nossa virada de ano -, até que, finalmente, as coisas se “normalizaram”, e, com todas as limitações, hoje nossa família está junta e em casa.
Aí você me pergunta: Por que está me contando tudo isso no Dia dos Pais? Simples. Para te mostrar que a advocacia salvou não só a minha vida, mas a da mãe da minha filha também.
Se não fosse a advocacia e o que ela me proporcionou, talvez eu não conseguisse, por exemplo, garantir o tratamento necessário para salvar a vida dela.
Além disso, a ausência da mãe da minha filha, que lutava pela vida no hospital, me fez batalhar para ser um pai cada dia melhor, afinal, eu precisava fazer absolutamente tudo. E foi aí que eu descobri a grande diferença entre “ser pai” e “ter uma filha”.
Parece estranho à primeira vista, mas, de fato, ser pai é muito mais do que ter uma filha. EXERCER a paternidade é algo maior.
Eu descobri que sou pai sempre que dou banho, mamadeira e assisto desenho de manhã. Eu sou mais pai a cada madrugada que acordo com um choro, e a cada noite que eu não durmo monitorando a temperatura.
Eu sou pai quando escolho a roupinha do dia, troco a fralda de cocô e me escondo atrás da cortina para brincar de “achou”.
Sou pai quando saio para trabalhar, mesmo com ela me agarrando pela camisa e chorando para que eu não vá embora. Talvez essa seja minha maior prova diária de força e vocação.
Digo isso porque, sem dúvida, essa força vem do amor pelo que eu faço. É através da advocacia que eu consigo criar minha filha e cuidar da minha família, mas também daquela pessoa aflita que deposita em mim a esperança de dias melhores.
Talvez tudo o que nós quisemos ser um dia, reflita no fato de que, hoje, na~o somos somente advogados(as). O somos também, claro, porém vamos além disso: Somos a soma de fragmentos dos nossos sonhos e batalhas de uma vida inteira.
Quando Maitê crescer e me perguntar: “papai, por que você trabalha todo dia? Por que você fez tudo isso pela mamãe?”, quero poder responder dizendo “filha, papai faz tudo isso porque o papai tem um superpoder: O de fazer as pessoas voltarem a ser felizes”.
Tudo é propósito.
Te amo, filha. Você vai se orgulhar de mim.
Feliz Dia dos Pais.