“Bullying” é termo que não possui tradução na Língua Portuguesa, mas sua conceituação refere-se às atitudes reiteradas e cruéis de agressores a determinada vítima ou vítimas. Ele se manifesta de diversas formas, assumindo tipos variados: físico, moral, relacional, patrimonial, sexual, entre outros, e seu enfrentamento é um dos maiores desafios das escolas.
O cenário é ainda mais desafiador com relação à comunidade LGBTIA+ dentro do ambiente escolar, no qual existe o denominado “bullying” homofóbico.
A escola é instituição de poder, que tem como obrigação a promoção da igualdade e da dignidade – coletiva e individual – daqueles que estão incluídos no sistema de ensino. Ao mesmo tempo, são evidentes a inércia das escolas e a falta de produção de políticas públicas sobre o “bullying”, “o que contribui para que o Brasil seja o primeiro país no “ranking” dos países que mais matam pessoas LGBTIA+”.1 2
As instituições escolares devem reconhecer a existência do bullying e, a partir daí, evitar os prejuízos que ele pode trazer para o desenvolvimento educacional e psíquico dos seus alunos. Assim, é dever da escola tratar desse tema e oferecer capacitação profissional a seu corpo docente e à comunidade escolar, a fim de que se possa interferir no momento certo, inclusive diagnosticando e coibindo casos de “bullying”.
O espaço de formação, desenvolvimento da pesquisa e inclusão, sem dúvida, tornou-se ambiente de sofrimento e desistência para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, pois o “bullying” homofóbico, disfarçado na condição de risos, exclusão e violência letal, provoca medo, insegurança e abandono.3
Além disso, o embaraço em “falar das sexualidades em sala de aula é bloqueio que se faz presente até mesmo em aulas das disciplinas de ciências ou biologia. A partir dessa compreensão, a escola precisa incluir em seu currículo uma discussão que inclua todas as sexualidades”.4
A maioria dos episódios de “bullying” homofóbico acontece na presença do professor, fato esse que evidencia a importância desse profissional no combate a essa violência. “Programas de combate ao ‘bullying’ são necessários para o enfrentamento desse fenômeno, sobretudo no âmbito escolar, e aqueles devem ser sustentados por políticas públicas”5
Em 2018, tendo em vista o “bullying” no âmbito escolar, ocorreu alteração na Lei de Diretrizes de Bases e Educação, para acrescentar, em seu artigo 12, que os estabelecimentos de ensino têm a incumbência de promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (“bullying”), no âmbito das escolas e estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nesses ambientes.
Outro marco legal que vai ao encontro dessa determinação é o Plano Nacional de Educação (PNE), de 2014. O texto reforça a promoção da diversidade e a necessidade de erradicar todas as formas de discriminação como diretrizes do ensino brasileiro.
As escolas, sozinhas, não transformarão a realidade cultural homofóbica em pouco tempo. É fundamental que se tenha planejamento estratégico para alunos e sociedade, de modo que, com os esclarecimentos em torno das diferentes sexualidades, o assunto não gere mais nenhuma estranheza em qualquer meio social.
Levar para a sala de aula os temas LGBTIA+, abordados de modo crítico e consciente, contribui para a diminuição do preconceito e para o reconhecimento da comunidade.
Precisamos avançar no processo de aceitação, visibilidade e inclusão de pessoas LGBTIA+ dentro das escolas. O armário não pode ser o único lugar confortável para nós!
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1 MARTINS, José Geovânio Buenos Aires et al. Sexualidades e bullying homofóbico na escola. Revista Intersaberes, v. 14, n. 32, p. 445-472, maio/ago. 2019. Disponível em: clique aqui. Acesso em: 04/06/2021.
2 Disponível em: clique aqui. Acesso em 08/06/2021.
3 ALBUQUERQUE, Paloma Pegolo de; WILLIAMS, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque. Homofobia na escola: relatos de universitários sobre as piores experiências. Temas em Psicologia, v. 23, n. 3, p. 663-676, 2015. Disponível em: clique aqui. Acesso em 06/06/2021.
4 GARUTTI, Selson; NEVES, Andressa Lopes das. Bullying homofóbico: uma discussão sobre a discriminação sexual escolar. Caderno Intersaberes, Curitiba, v. 4, n. 5, p. 54-66, jan/dez. 2015.
5 DIAZ, Gabriela Andrea. SOUZA, Mériti de. Bullying homofóbico: um nome “diferente” para a violência? In: Seminário Internacional Fazendo Gênero, 9. 2010.