Quem te viu, quem te "Veja"
Gustavo Schneider*
É inegável o avanço alcançado por nosso País no campo da livre expressão das idéias. Neste sentido, é louvável que a imprensa fiscalize e critique a ação estatal e, até mesmo, as opções políticas adotadas pelos ocupantes eventuais de cargos eletivos no âmbito do Poder Executivo.
Inaceitável, contudo, é valer-se “Veja” do trauma nacional da supressão de direitos e garantias – legado de um período de exceção apenas recentemente superado – para omitir atos conspurcatórios da honra alheia, empunhando, de maneira oportunista, a bandeira das “liberdades democráticas”.
Somente um estreito conceito de “Democracia” pode compactuar com o ataque aos próprios alicerces do edifício democrático. Em países liberais desenvolvidos – como os EUA, que “Veja” tanto exaltam –, é corriqueira a convocação de jornalistas pelos órgãos públicos para a prestação de informações. Não se tem notícia de que veículos como “Newsweek”, “Washington Post” ou “The New York Times”, ao se verem na contingência de terem seus articulistas ou repórteres intimados, divulguem estar sendo vítimas de perseguição governamental.
Que fará “Veja” quando seus repórteres forem chamados a prestar declarações em Juízo? Também atacará o Poder Judiciário? Acaso haja fiscalização trabalhista na sua sede, alegará tratar-se de “armação” do Governo Federal? Se o Corpo de Bombeiros efetuar uma visita de rotina para verificar o estado dos extintores de incêndio do prédio em que funciona o semanário, será uma afronta ao direito de informar, perpetrado pelo Governo estadual?
Uma das diferenças entre países desenvolvidos (como os EUA) e países Tupinambás – para usar uma expressão contida na última edição de “Veja”, na designação do Brasil – é que, naqueles, pessoas e entidades não se colocam acima das instituições, acatando-as.
Segundo creio, o compromisso primeiro e maior do jornalismo deve ser com a verdade.
Quando se chega ao nível da descontextualização de fatos, da manipulação de dados e da generalização de meias-verdades, torna-se difícil manter ou recuperar a credibilidade. E como “a melhor defesa é o ataque”, a posição de “coitadismo” de “Veja” diante dos órgãos oficiais avulta muito mais como estratégia do que como autêntica “advertência” em face de pretenso autoritarismo.
A possibilidade de crítica política que conquistamos a duras penas e ao custo de algumas vidas é uma vitória democrática. Algo bem diverso é a prática jornalística socialmente descompromissada, que admite até mesmo a injúria em face de profissionais sérios, ocupantes de cargos públicos relevantes, que enfrentam toda a sorte de dificuldades no desempenho de seu mister e que estão, agora, submetidos ao destroçamento moral, diante dos injustos ataques de “Veja”.
A História cobrará a coerência de muita gente. A liberdade de imprensa é uma instituição cara demais à Democracia para ser tomada em vão por uma parcela que representa menos de 1% de jornalistas diplomados. A Polícia Federal é um órgão constitucional permanente. Jamais esmorecerá a luta do povo brasileiro, dos verdadeiros democratas, pela consolidação de nossas instituições. Somos maiores. Recusamo-nos a descer ao nível da sujeira e da mentira.
Explicite-se que DEMOCRACIA não é PODER DO DEMO.
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*Delegado de Polícia Federal <_st13a_personname productid="em Santo Ângelo" w:st="on">em Santo Ângelo/RS
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