Por arquitetura de escolha, instrumento muito utilizado pelos economistas e estudiosos do comportamento humano, entendemos a estratégia que oferece, dentre tantas opções, aquela que trará maior efetividade ao que se pretende. Ainda, complementando esta ideia, podemos dizer que funciona como um tipo de organização de um contexto, para que pessoas tomem as decisões adequadas, estando a arquitetura de escolha a auxiliá-las em seu intento, ou seja, a arquitetura de escolha pode ser traduzida como aquele meio capaz de criar um ambiente que estimule as melhores decisões.
Logicamente, quanto maior o número de opções, melhor deverá ser a arquitetura de escolha, referida no parágrafo anterior, eis que as pessoas perdem e, muito, sem perceber, ao simplesmente escolher a chamada opção padrão e, isto é perfeitamente compreensível porque a opção padrão nem sempre será a ideal para todos. Aliás, muitos até diriam que a opção padrão existe para aquelas pessoas que não estão acostumadas a analisar os pormenores de uma situação, não se preocupando em avaliar se realmente aquilo que lhe é apresentado consiste na opção adequada ao seu meio ou, ainda, aquela que lhe trará benefícios, seja qual for a aplicabilidade ou área de sua vida.
Desta forma, falando-se em economia comportamental, podemos dizer que, ao entender o modo como as pessoas pensam e, aqui eu diria; até como as pessoas agem, é que poderemos direcioná-las ao reconhecimento das melhores opções ao seu dispor, evitando caminhos e dissabores tortuosos, afetando, até mesmo, toda a coletividade.
Feitos os esclarecimentos anteriores, meu objetivo é fazer o link da arquitetura de escolha com o Compliance, ressaltando que fica claro perceber que segurança, ambientes sólidos com confiabilidade, assim como gestão consciente de empresas e instituições e, aqui, leia-se à própria Administração Pública, sempre se destacarão como melhor opção, sem necessariamente tratar-se de modelo pronto. Mas, ainda adentrando-se à seara do Compliance, porque então este não configura sempre a opção padrão? Ora, simplesmente pelo fato de que não existe programa padrão de Compliance e, indubitavelmente, cada empresa/instituição deverá adequá-lo à sua realidade e necessidade isto é ponto consumado.
Sob esta ótica, mais uma vez, o comportamento humano e o aculturamento merecem total destaque, principalmente pelo fato de que, antes de tudo, empresas/instituições são compostas de pessoas, sendo o capital humano o maior ativo que estas empresas/instituições poderão ter. Contudo, infelizmente, pessoas são falíveis e, nesta perspectiva é que, mais uma vez, o objetivo maior do Compliance, através do programa de integridade, é de fundamental importância, não para moralizar condutas ou doutrinar pessoas, mas para que elas adotem a integridade como essência na sua vivência, propriamente dita. Posso até citar aqui, por exemplo, a opção em se evitar a ocorrência de fraudes e desvios dentro de uma empresa/instituição, sem aplicar a política do medo ou da intimidação mas, principalmente, pelo fato da alta gestão dar exemplo de sua conduta ética e ilibada, servindo de norte a todos que estão envolvidos com esta mesma empresa/instituição, sejam colaboradores, fornecedores, enfim todos os stakeholders. Aliás, neste tópico estamos diante do instituto da aprovação social.
Ainda, em se falando de Compliance, enquanto instrumento preventivo, esclareça-se que é muito mais que isto, para se alcançar a segurança tão almejada que o sistema propõe, em primeiro lugar deverá estar a clareza de propósitos e objetivos, lembrando que time que joga junto sempre sairá mais forte e, aqui, também torna-se conveniente citar este comportamento em caso de crise, no qual, mais uma vez, a equipe, se unida, sairá fortalecida.
Outro ponto que, igualmente, merece ser abordado é o momento pós-pandemia para as empresas/instituições, no qual haverá necessidade de retomada de fôlego para que haja um retorno minimamente saudável, eis que as metas permanecem, porém o cronograma inevitavelmente muda, justificando a necessidade da adaptabilidade, sob pena de, até mesmo, extinção ou enfraquecimento daqueles que não souberem se adaptar à situação presente. Isto porque não basta apenas confiar no planejamento estratégico, sem considerar as interferências externas, como a de mercado, por exemplo. Assim, como já dizia Leon C. Megginson, professor da Louisiana State University, num discurso em 1963, quando apresentou a sua interpretação da ideia central de "A Origem das Espécies" de Charles Darwin: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.”
Ora, pensando em tudo que foi tratado até este ponto, se tantas vezes falamos dos inúmeros benefícios que o sistema de Compliance, pode proporcionar a empresas e pessoas, sem reduzi-lo a mero cumprimento de regras, obrigações e procedimentos, estaremos sim diante de aspectos fundamentais para o sucesso de qualquer empresa/instituição, tais como; sustentabilidade, segurança, antecipação de cenários, otimização de fluxos e processos, organização, impactando, também, em retorno financeiro, além de ambiente laboral no qual as pessoas desejam estar, demonstrando orgulho em pertencer àquela equipe/lugar, temos que sim; Compliance está em primeiro lugar na arquitetura de escolha e aqui, ouso dizer; escolha inteligente, segura e pertencente à visão de, antes de tudo, uma viável continuidade de negócios e atividades bem sucedidas.
Por fim, é preciso inovar, sendo que o Compliance está a corroborar com esta nova visão, através da confluência de ciências e saberes, com envolvimento multidisciplinar de profissionais indispensáveis à formação de uma base cada vez mais sólida, de modo que as intempéries do dia a dia não sejam capazes de abalar as fortes estruturas, resultando na melhor arquitetura de escolha.
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