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Smart cities: A aplicação da internet das coisas nas cidades

Uma cidade inteligente é aquela que usa tecnologias para melhorar e transformar a vida de seus cidadãos e do meio ambiente.

5/6/2020

Introdução

A noção do que vem a ser as cidades inteligentes (ou “smart cities” em inglês) tem se tornado cada vez mais clara na mente das pessoas nos dias de hoje. Com o avanço da tecnologia e a grande movimentação da população de zonas rurais para áreas urbanas as entidades governamentais passaram a sentir a necessidade de adaptar seus planos de infraestrutura das cidades para que se adequem ao mundo moderno.

Uma cidade inteligente é aquela que usa tecnologias para melhorar e transformar a vida de seus cidadãos e do meio ambiente. Trata-se de uma ideia de inclusão e não de divisão, no sentido de que envolve uma colaboração entre os cidadãos e os setores público e privado para a transformação e o crescimento sustentáveis.

No entanto, para ser possível discorrer sobre o tema cidades inteligentes há a necessidade de abordar o papel fundamental da inteligência artificial junto à internet das coisas pois juntos permitem o desenvolvimento de soluções inovadoras que possibilitam a construção dessas cidades inteligentes.

Assim, além de adentrar no conceito de Internet das Coisas, o presente artigo tem o objetivo de demonstrar a importância da construção de cidades inteligentes para os dias de hoje e trazer uma breve análise sobre as principais tendências e oportunidades relacionadas a este novo conceito de gestão e estruturação das cidades.

Inteligência Artificial e IoT

Como foi dito anteriormente, não há como falar sobre “smart cities” sem antes abordar a definição de outro termo de suma importância para o tema, a Internet das Coisas ou “Internet of Things” em inglês ou ainda, IoT como é popularmente conhecido.

Nas palavras de Eduardo Magrani1, não existe uma definição comum sobre o que vem a ser a Internet das Coisas. Porém, há uma ideia presente em todas as definições, qual seja, a de que envolve “computadores, sensores e objetos que interagem uns com os outros e processam as informações/dados em um contexto de hiperconectividade”.

Percebe-se, portanto, que o mundo já alcançou um determinado nível de desenvolvimento tecnológico em que essas informações que são processadas não têm sido mais coletadas e organizadas por outras pessoas, mas sim por objetos. Para que esses objetos consigam funcionar de maneira eficaz eles costumam ser dotados de Inteligência Artificial o que resulta em um ambiente de conexões muito mais automatizado.

Porém, o que vem a ser a inteligência artificial propriamente dita? A expressão foi criada em 1956 pelo pesquisador de Stanford, John McCarthy, durante a realização de um projeto de pesquisa no Dartmouth College, Estados Unidos, que reuniu dez renomados cientistas da computação. Para estes pesquisadores, a “IA foi inicialmente projetada para simular as diferentes faculdades da inteligência – humana, animal, vegetal, social ou filogenética – utilizando máquinas”2.

Já para George Luger, autor do livro Structures and Strategies for Complex Problem Solving, a Inteligência artificial (IA) pode ser definida como o ramo da ciência da computação que é preocupado com a automação do comportamento inteligente3.

Como se vê, é difícil trazer uma única definição para o termo Inteligência Artificial e, há ainda muitos autores que questionam se a expressão Inteligência Artificial é de fato a mais apropriada para o tema.

Magrani criou sua própria definição para o termo. Afirma ele que “a inteligência artificial é um subcampo da informática. Seu objetivo é habilitar o desenvolvimento de computadores que sejam capazes de emular a inteligência humana ao realizar determinadas tarefas”4.

Em que pese não haver um conceito definido comumente aceito por todos, é possível concordar que é através da Inteligência Artificial que os dados, obtidos por objetos conectados à Internet, com capacidade de sensoriamento, processamento, gerenciamento, interatividade, aprendizagem e comunicação podem ser melhor analisados em tempo real e de maneira eficaz. Uma vez que há uma grande quantidade de dados gerados pelos dispositivos de IoT é por meio da Inteligência Artificial que estes dados ganham sentido. Assim, IoT e IA atuam de maneira complementar.

Com isso, pode-se afirmar que a Internet das Coisas nada mais é do que objetos da rotina cotidiana conectados de maneira inteligente através da Internet. Estes objetos são capazes de armazenar, compartilhar e processar informações em grande volume. A união de IoT com Big Data (outro termo de bastante relevância para o tema) e com a Inteligência Artificial é o que estatísticas apontam como sendo uma combinação extremamente lucrativa e que promete mudar ainda mais a vida das pessoas. Isto porque, Big Data “é um termo em evolução que descreve qualquer quantidade volumosa de dados estruturados, semiestruturados ou não estruturados que têm o potencial de ser explorados para obter informações”5.

Ou seja, através da IoT grandes quantidades de dados são geradas e transmitidas à uma rede, ao passo que, através do Big Data esses dados são reunidos e organizados e a Inteligência Artificial permite a manipulação e o estudo desse volume de dados de maneira que se tornem úteis.

Em outras palavras, se não fosse a inteligência artificial, que entra para substituir as ações humanas através de softwares sofisticados, os quais apuram dados e os interpretam de maneira que se tornem úteis e possam ser utilizados pela Internet das Coisas com um propósito, coletar esses grandes volumes de dados6 de nada adiantaria ou seria muito mais trabalhoso.

A conclusão de uma pesquisa realizada pelo CEO/fundador da Emerj Artificial Intelligence Research. Daniel Faggella, que ajuda governos e empresas a reduzir riscos e maximizar o impacto dos recursos de inteligência artificial, é muito interessante para a melhor compreensão da relação entre Inteligência Artificial e a IoT. Segundo Faggella, após entrevistar dezenas de executivos e pesquisadores de tecnologia, todos pareceram apontar para um mesmo denominador comum a respeito da conexão entre IA com IoT, qual seja, “a inteligência artificial será funcionalmente necessária para exercer o vasto número de "coisas" conectadas on-line e será ainda mais importante para compreender um mar quase interminável de dados transmitidos a partir desses dispositivos”7.

Um exemplo prático dos efeitos do uso da IA com IoT, apontado pelo mesmo autor, é o caso de termostatos inteligentes Lab. Esses termostatos são capazes de “aprender” de forma progressiva os padrões de temperatura estabelecidos pelo usuário e climatizar um ambiente de acordo com sua preferência e até mesmo se adaptar aos seu horário de trabalho. Essa capacidade do aparelho de “aprender” as preferências regulares dos seus usuários só é possível através da aplicação da Inteligência Artificial.

Quando se fala em Internet das Coisas, logo vem à cabeça das pessoas imagens de dispositivos inteligentes conectados, tais como os chamados wearables e eletrodomésticos comumente utilizados na automação industrial, porém a verdade é que o potencial desta tecnologia extrapola os benefícios trazidos pelos denominados smartdevices.

A utilização de IoT promete não apenas mudar a vida pessoal dos cidadãos de maneira individual, mas também promete impactar a sociedade como um todo podendo ser, inclusive, utilizada para aprimorar os planos de infraestrutura das cidades, tema este que será abordado de maneira mais profunda no próximo item.

Para ler o artigo na íntegra clique aqui.

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1 MAGRANI, Eduardo. “A Internet das Coisas no Brasil: Estado da arte e reflexões críticas ao fenômeno”. INSTITUTO IGARAPÉ. 2018

2   Inteligência Artificial: entre o mito e a realidade. https://pt.unesco.org/courier/2018-3/inteligencia-artificial-o-mito-e-realidade. Acesso em 12.08.2019

3 “Artificial intelligence (AI) may be defined as the branch of computer science that is concerned with the automation of intelligent behavior”. LUGER, George F. Artificial intelligence: structures and strategies for complex problem solving / George F. Luger.-- 6th ed. P. 1. Acesso em 15.08.19

4 MAGRANI, Eduardo. “Entre dados e robôs: ÉTICA E PRIVACIDADE NA ERA DA HIPERCONECTIVIDADE”. 2. ed. — Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2019. p. 51

5 MAGRANI, Eduardo. “A Internet das Coisas no Brasil: Estado da arte e reflexões críticas ao fenômeno”. INSTITUTO IGARAPÉ. 2018 p. 22

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*Juliana Hoffmann é sócia advogada do escritório Daniel Advogados. Graduada pela Faculdade de Direito da Universidade Cândido Mendes. Pós-graduanda no Curso de especialização em Direito da Propriedade Intelectual na PUC-Rio.

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