Estamos, portanto, diante de um tema de reconhecida importância para o país, mas em que, ao mesmo tempo, continuamos a ter desempenho pífio. Fica evidente, diante essa realidade, que é preciso agir sem perda de tempo para reverter esse quadro.
É o caso da qualificação do trabalhador. Temos o crônico problema da má qualidade da educação no país, que se tenta minimizar com várias iniciativas do governo e das empresas com programas de aperfeiçoamento da mão de obra. Mas os resultados desses louváveis esforços têm sido insuficientes. Entretanto, existem alternativas já à disposição que, se utilizadas da maneira adequada, certamente ajudarão, e muito, a encaminhar as soluções para o problema. O programa de aprendizagem é uma delas.
A importância da aprendizagem pode ser medida em números. Pesquisa do Datafolha com 1.809 pessoas que foram aprendizes do programa do CIEE e Fundação Roberto Marinho mostra que 53% dos entrevistados estavam trabalhando depois de participarem da aprendizagem. Além disso, a renda média dos egressos é de R$ 1.197 por mês, quase o dobro do que recebiam como aprendizes. Motivo: o programa resultou em aumento da qualificação, da empregabilidade e, por consequência, da renda. A importância do aumento de renda é ainda maior quando se constata que 81% dos entrevistados contribuem para as despesas da família e que essa colaboração representa 36% do total que recebem.
A importância da aprendizagem é reforçada quando se recorda a precária situação do mercado de trabalho. O Brasil tem cerca de 33 milhões de jovens entre 15 e 24 anos (mais de 30% da população do País), dos quais 7,6 milhões são “nem-nem” (não estudam nem trabalham). Esse contingente tem tamanho praticamente igual ao de estudantes matriculados em cursos graduação, que eram 8 milhões em 2017, pelos dados do Ministério da Educação (MEC). Com a aprendizagem, esse imenso grupo de “nem-nem” pode ser reduzido de maneira significativa, com o aumento da empregabilidade.
Apesar desses dados tão significativos, a legislação que rege a aprendizagem ainda é pouco conhecida das empresas. A lei determina que entre 5% e 15% das vagas das companhias de médio e grande porte sejam destinadas a esses jovens, que devem estar estudando ou já ter se formado. Mas poucos seguem essa regra. O CIEE estima que o potencial do mercado brasileiro é de 1 milhão de aprendizes, mas há apenas 420 mil jovens trabalhando nesse regime – ou seja, menos da metade do potencial. Demanda existe, mas, talvez por desconhecimento, esse enorme potencial não é aproveitado.
Os programas de aprendizagem são fundamentais no desenvolvimento dos jovens. Com ele é possível formar novos profissionais de acordo com a cultura organizacional de cada empresa. Ao mesmo tempo, traz juventude e um novo olhar para as empresas.
É importante ressaltar que na pesquisa encomendada ao instituto Datafolha, contatamos que 25% dos jovens que participaram do programa Aprendiz CIEE foram efetivados na empresa em que participaram do programa. É um número considerado muito relevante, uma vez que o contrato de aprendizagem é temporário, válido por dois anos.
Com essa pesquisa também constatamos 76% dos egressos que concluíram a aprendizagem entre 2016 e 2017 estavam trabalhando ou estudando e que 30% conciliam as duas atividades.
Trata-se, portanto, não apenas de inovar – embora esse ponto tenha grande importância – quando se buscam soluções para os graves problemas de qualificação da mão de obra e da empregabilidade. É, também, uma questão de utilizar os instrumentos adequados que já se tem à mão. A sociedade brasileira precisa que caminhemos nessa direção, até porque sem maior produtividade não será possível alcançar o tão necessário desenvolvimento sustentável.
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*Humberto Casagrande Neto é superintendente geral do Centro de Integração Empresa - Escola - CIEE.