Migalhas de Peso

Paulo Bonfim – O Príncipe dos Poetas Brasileiros e Meu Amigo

Você, Paulo Bomfim, deixa uma legião de Amigos que o amaram em vida.

11/7/2019

Aturdido, surpreendido e com uma dor sofrida de tristeza recebi a notícia da morte de meu querido Amigo Paulo Bomfim.

Nas homenagens deste dia 9 de Julho à Revolução Constitucionalista de 1932, Paulo Bomfim, depois de muitos anos, não estará presente. Seu amor por São Paulo era tão grande, que resolveu iniciar a sua caminhada para a Casa do Pai às vésperas do dia 9 de Julho.

Conhecia Paulo Bomfim por seus poemas em versos de Poeta Maior. No ano de 1988, o inesquecível Desembargador Marcos Nogueira Garcez foi eleito Presidente do Tribunal de Justiça e recebi o honroso convite para ser um de seus Juízes Auxiliares. No Gabinete da Presidência tive a honra de conhecer Paulo Bomfim, que ali exercia as funções de representar o Tribunal junto à imprensa escrita, falada e televisionada, além do cerimonial. Nossa amizade eterna foi instantânea e tínhamos amigos comuns, entre eles os inesquecíveis Professor Vicente Ráo,  Professora Esther de Figueiredo Ferraz e Saulo Ramos. Encantava-me com sua educação de berço, a beleza e a doçura de sua alma, a inteligência e de ser mestre na arte de conversar.

Em magnífica página, o meu querido Amigo José Renato Nalini, em sua apresentação de “Migalhas de Paulo Bomfim”, com rara felicidade bem descreve o nosso querido Amigo:

Prodigiosa usina de criatividade, o jovem poeta que gerou o “Antonio Triste” continua surpreendente em graça e vitalidade. A cada instante mais poeta, na singeleza de uma existência pura, despida de vaidades e infensa às excentricidades. Amigo dos Amigos, o mais autêntico bandeirante, continua a desbravar os territórios infinitos do encadeamento de verbetes a jorrar delícias auditivas de elevada qualidade musical. Quem lê Paulo Bonfim não sabe o que é solidão. Quem ouve Paulo Bonfim recarrega as baterias da esperança. Quem convive com Paulo Bonfim retempera sua crença na espécie e tem vontade de recomeçar, pois alavancado de estímulos para enfrentar a angústia dos dias”.

Este é, sempre foi e sempre será o nosso querido e inesquecível Amigo Paulo Bomfim.

Paulo sabia, como poucos, jogar com as palavras, sejam em seus versos perfeitos, sejam em seus verbetes. Em rápida abordagem de seus versos e verbetes de Poeta Maior, encontrei alguns, que ficarão presentes para sempre:

“Amo, logo existo”; “O futuro tem olhos de esmeralda”; “Morrer é o murmurar da fonte”; “Às vezes escrevemos o poema, outras, somos por ele escritos”; “A erudição, quando não é uma chave para a sabedoria, enferruja”; “Nascer, o parto que a morte nos impõe”; “A geada transforma ideias verdes em cabelos brancos”; “O vento é a alma da noite./ Da noite crucificada./Que deixa sangue de estrelas./Nos braços da madrugada”; “O fundo da gaveta sempre será a ilha do tesouro”; “Um dia sumiremos do horizonte/ Como as naus que se foram sem voltar/ Que alguém nos chore na remota praia/ Quando as velas soprarem para o mar”; “De noite em noite, fomos inventando o dia”; “De saudade em saudade, chega-se ao País da Poesia”.

Certa feita perguntei ao Paulo qual era o seu cargo no Tribunal e fui surpreendido com a resposta: “sou escrevente-chefe”. De pronto lhe disse: “não é Você que precisa do Tribunal, é o Tribunal que precisa de Você”. Era um absurdo. Recordei a ele que havia no Regimento Interno uma gratificação de serviço com outorga exclusiva do Presidente. Prometi que iria conversar com Dr. Marcos, com o intuito de corrigir a injustiça. Conversei com Dr. Marcos, que surpreso, entendeu necessário corrigir a injustiça: “Ovídio peça ao Dr. Odécio – então Secretário Geral do Tribunal – para preparar a portaria, traga-a para que a assine ainda hoje, possibilitando a sua publicação no Diário Oficial de amanhã”. Paulo ao ler o Diário Oficial e ao deparar com a portaria, correu à minha sala para agradecer, antes de entrar na sala do Dr. Marcos e disse-me: “Ovídio, tenho no Tribunal amigos de velha data que nunca se preocuparam em perguntar sobre o meu cargo. Você, meu amigo há pouco tempo, se preocupou comigo”. Desse dia em diante, para minha honra infinda, passou a chamar-me de “meu amigo generoso”.

A história de Paulo Bomfim se confunde com a história do Tribunal de Justiça de São Paulo, as letras dos hinos do Tribunal, da Apamagis - Associação Paulista de Magistrados foram escritas por ele.

A cadeira 35 da Academia Paulista de Letras, ocupada por ele, está vazia e a Academia perdeu o seu decano.

A última vez que estive com o Paulo foi em sua sala no 2º andar do Palácio da Justiça, ao lado do Museu do Tribunal, que ajudou a reorganizar. Como sempre, fui recebido com imensa alegria e gentileza. Ficamos a conversar por longo tempo. Quando estava para sair, fez o convite para ir até a sala do Museu, completando que me levaria a outra sala que me faria “muito feliz”. Fomos à sala do museu e, em seguida, à outra sala. Fiquei imensamente feliz e emocionado, pois era a “Sala Paulo Bomfim” a abrigar todas as primeiras edições de seus livros, medalhas, pertences seus – muitos deles a recordar a Revolução Constitucionalista de 1932 – títulos e homenagens por ele recebidos e o quadro do jovem Paulo Bomfim pintado em 1945 por Anita Malfatti. 

Sempre digo que a morte leva quem parte, para uma nova dimensão do Amor em sintonia com o Cristo de Amor, na lembrança e saudade daqueles que o amaram em vida. Você, Paulo Bomfim, deixa uma legião de Amigos que o amaram em vida.

Pelo que foi, por sua vida de Amor sem limites, pela beleza de sua alma, você estava maduro para o Céu!

_________________

*Ovídio Rocha Barros Sandoval, advogado do escritório Saulo Ramos Rocha Barros Sandoval Advogados, magistrado aposentado, autor de obras e artigos jurídicos, atualizador de obras clássicas do Direito brasileiro.

                                                            

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