A palavra de ordem do Mobile World Congress Americas 2018 foi a tecnologia 5G, principalmente pelo seu início de funcionamento e comercialização. A Verizon foi a primeira operadora a obter as aprovações nos Estados Unidos e já pré-vende o produto 5G nas seguintes cidades: Houston, Indianápolis, Los Angeles e Sacramento. O início de serviço será dia 1 de outubro e o slogan comercial é o "Cut the cord. Go to 5G Home" (Corte o fio. Vá para o 5G em casa); ou seja, num primeiro momento a estratégia de venda desses operadores é pra competir com a rede fixa, devendo chegar um pouco mais tarde nos celulares (provavelmente em 2020). A AT&T também está por iniciar a comercialização e prometeu disponibilizar em outras 5 cidades americanas até o final de 2018. A T-Mobile está mais atrás, tentando aprovar a associação com a Spring para anunciar o lançamento conjunto do serviço. E qual será o impacto dessa tecnologia? Bem, precisamos recapitular as últimas disrupções da conectividade para entender o impacto do 5G.
Nos anos 80, o PC redefiniu a relação das pessoas com a tecnologia. Nos idos de 1995, a internet revolucionou a comunicação entre nós. Em 2007, se alcançou a mobilidade por meio dos smartphones. Em 2010, a Blockchain foi criada, resolvendo a questão da segurança da rede e garantindo protocolos para transferência entre países de recursos no sistema financeiro, dentre outros "buracos" deixados pela internet (isso sem levar em conta a própria disrupção criada pelas moedas virtuais). Esses quatro acontecimentos foram transformadores para que as pessoas pudessem existir plenamente em rede. Agora, a inteligência artificial marca a mais recente revolução, que já começou transformar o mercado desde 2015. A diferença desta última em relação às demais é a magnitude do universo atingido: mais de 4 bilhões de usuários com conexão no mundo todo. Se, em 1980, a revolução era ter um computador por mesa, em 2018 temos um supercomputador em cada bolso. E isso só tende a crescer.
A revolução da inteligência artificial ocorre justamente quando, há cerca de dois anos, a tecnologia existente se superou e passou a processar muito mais rapidamente do que o cérebro humano. Em relatórios recentes, as consultorias McKinsey e a Tata descreveram os impactos socioeconômicos da inteligência artificial ?? e da automação nos próximos 10 anos. Estima-se que nesse período 70% das empresas irão adotar alguma forma de inteligência artificial, seja reconhecimento facial, linguagem natural (NLP), assistentes virtuais etc. Ao contrário do que se imagina, o resultado em ambos relatórios demonstra que a inteligência artificial irá contribuir para o crescimento do PIB mundial em até 1,2%. Aproximadamente US$ 13 trilhões em benefícios econômicos podem ser realizados nos próximos 12 anos. E onde entra o 5G nisso tudo?
Pois bem: o 5G elimina definitivamente o cabo, permitindo que toda a conectividade seja operada na nuvem de forma wireless, em uma velocidade mais de 20 vezes maior que a atual. O recurso estará em todos os produtos e conectará todos eles entre si, como por exemplo todos aqueles do cotidiano individual: geladeira, carro, acessórios pessoais (tarefas simples como acionar o aspirador de pó na sua casa do painel do carro será tarefa simples). Além disso, estará também em todos os produtos de atendimento coletivo: meio de transporte, semáforos, carros autônomos, polícia, estádios de futebol, câmeras de segurança nas ruas etc. No telefone, um filme de longa-metragem de 8K poderá ser baixado em 30 segundos. O advento da internet das coisas já permite usar a câmera da sua geladeira para ver o que comprar no supermercado ou programar a encomenda de produtos automaticamente à medida em que eles baixam no estoque de casa. Robôs já são capazes de secretariar um escritório: agendar compromissos, fazer ligações, enviar e-mails etc. Uma ambulância já terá a ficha médica do paciente (disponível na nuvem) para atendimento imediato e um médico poderá facilmente fazer uma cirurgia à distância, usando a integração entre o 5G e a robótica já disponível. As câmeras de segurança poderão identificar criminosos por reconhecimento facial e os carros de polícia e bombeiros podem estar nos focos de problema num menor espaço de tempo. Adicione-se a isso o mercado de games, realidade aumentada e realidade virtual, que poderão se desenvolver como nunca em cima das facilidades geradas pela rede 5G.
A revolução vem mesmo da integração da velocidade de conexão com a inteligência artificial. Se por um lado, as possibilidades de facilitar o dia a dia são infinitas, as mudanças sociais acontecerão mais rapidamente do que qualquer coisa que tenhamos experimentado no passado, criando desconforto para um grande número de pessoas. Com inteligência artificial, os robôs tomarão posições humanas, das mais simples às mais complexas. Não à toa, vimos a notícia agora em agosto de que o diretor Tony Kaye incluiu no casting um robô que atuará como artista principal no seu próximo longa-metragem. Vale refletirmos para onde iremos com essa tecnologia, preocupações sociais que isso deve trazer e oportunidades para os negócios que estão por vir. As consultorias que realizaram a pesquisa mencionada estimam que o índice de emprego não diminua, mas que ele certamente deve abrir espaço para um perfil de mão de obra completamente diferente da que se emprega hoje.
____________
*Fabio de Sá Cesnik é sócio fundador do escritório Cesnik, Quintino e Salinas Advogados.