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A era das controladorias jurídicas

A controladoria nada mais é do que uma equipe de advogados, assistentes e estagiários capaz de criar e gerir procedimentos administrativos, funcionando como uma verdadeira “trincheira”, que através de manobras sistematizadas, busca formas de evitar falhas processuais, assegurando o cumprimento de todas as atividades e expectativas do escritório x cliente.

13/11/2017

O mercado jurídico vem sofrendo constantes modificações, seja de ordem técnica, como por exemplo, a reforma trabalhista, ou tecnológica, com o desenvolvimento de robôs para facilitar a demanda operacional, ou até mesmo quando entendemos que um escritório já não é mais um simples escritório e que sim, deve ter visão empresarial. Todas estas questões não fogem da lógica de que o papel do advogado no escritório de advocacia ou no departamento jurídico é indispensável, permanecendo ele insubstituível, mesmo com tantas inovações.

Neste sentido, tão importante quanto se adequar a essas alterações, escritórios e departamentos jurídicos devem buscar mecanismos de controle, para assegurar que tais mudanças sejam tranquilamente adaptadas aos fluxos e procedimentos já existentes. No tocante à esfera trabalhista, por exemplo, ainda não conseguimos mensurar os reflexos que surgirão na Justiça Laboral, como o aumento de processos e audiências, volume de prazos e consultorias. Por isso, torna-se imprescindível o controle expressivo da carteira de processos e clientes.

O advogado, por sua vez, é cobrado cada vez mais por resultados, por uma melhor gestão e bom atendimento às necessidades e expectativas dos clientes. E isso deve ser balanceado com uma demanda cada vez maior e o tempo cada vez mais escasso. Só por esses aspectos, resta evidente a necessidade de um controle interno eficaz que possa dar segurança, garantias e ao final, não menos importante, uma possível redução de custos.

Mas como isso tudo pode funcionar dentro de um escritório ou departamento jurídico?

Bem, num primeiro momento precisamos entender o que é a controladoria jurídica, quem a compõe e qual sua metodologia de funcionamento.

A controladoria nada mais é do que uma equipe de advogados, assistentes e estagiários capaz de criar e gerir procedimentos administrativos, funcionando como uma verdadeira "trincheira", que através de manobras sistematizadas, busca formas de evitar falhas processuais, assegurando o cumprimento de todas as atividades e expectativas do escritório x cliente.

Nela são concentradas, portanto, todos os atos jurídicos operacionais, tais como: recebimento de novas ações, distribuição de tarefas para advogados e/ou equipes, atualização de sistemas, controle de publicações e agendamento de prazos, realização de protocolos, relatórios, auditorias internas, etc.

A ideia é que a controladoria funcione conjuntamente com o corpo técnico, colaborando para que o advogado deixe de exercer as tarefas puramente administrativas e tenha seu tempo envolvido no desenvolvimento e na realização dos prazos, defesas e audiências.

Dessa forma, ambas as equipes se complementam, possibilitando a melhoria na prestação dos serviços.

Em outras palavras, a controladoria jurídica é uma equipe de retaguarda, que deverá interagir constantemente com a área técnica. Pode, ainda, ser uma equipe multidisciplinar, isto é, que reúna profissionais de diversas áreas – em algumas delas encontramos a presença de administradores, engenheiros, contadores, etc. - mas que possua visão sistêmica, senso de organização e proatividade e que entenda seu papel dentro da equipe jurídica. A grande vantagem da controladoria é desenvolver cada profissional de acordo com sua qualidade, objetivando sempre a evolução da equipe como um todo.

Neste sentido, separamos as atividades puramente administrativas das atividades técnicas e criamos uma equipe de especialistas em gestão jurídica, colaborativa, tendo como principais objetivos:

Fazer mudanças na equipe em um momento que vivemos, num cenário econômico incerto, realmente não é tarefa fácil e requer muito mais que um simples desejo. É necessário o envolvimento dos principais executivos e da alta gestão, uma boa comunicação entre as áreas e uma equipe com iniciativa e, principalmente, a certeza de que controladoria jurídica vai muito além de burocratizar atividades ou engessar o departamento jurídico ou escritório. Pelo contrário, é uma forma de melhorar nossos controles, oferecendo para nossos clientes internos e externos melhores resultados e um atendimento mais assertivo.

Aproveitar as inovações trazidas e investir na controladoria jurídica é uma questão extremamente relevante e deve ser considerada por todos nós, advogados e gestores. Inclusive, ao longo de sua programação, a Fenalaw 2017, o evento mais completo para advogados e profissionais da área jurídica da América Latina, que aconteceu em São Paulo, no mês de outubro/17, proporcionou algumas discussões muito ricas envolvendo a temática de controladoria jurídica.

Entre todas as exposições e palestras oferecidas ao público, restou clara que a mudança mais esperada está relacionada à gestão do tempo e serviço.

Para isso, empresas e escritórios têm desenvolvido não só suas equipes internas, mas também seus sistemas, procurando alcançar transparência e qualidade no âmbito jurídico.

Despertar um olhar crítico para a nossa realidade interna e ter visão ampla do que temos de inovação dentro do Direito e suas ramificações, quais as melhores práticas do mercado com baixo custo e melhor resultado, é sem dúvida um caminho para tornar possível uma nova realidade, aproveitando melhor nossas forças internas e desenvolvendo nossos talentos.

E você, já ouviu falar em controladoria jurídica?

Fiquem ligados nas transformações e reinvente sua forma de operacionalizar o Direito.
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*Juliana Perin é gerente geral do escritório Loguercio, Beiro e Surian Sociedade de Advogados.

*Daniela Pacheco é coordenadora de controladoria trabalhista do escritório Peixoto & Cury Advogados.










 

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