Com o pão de queijo quentinho entre o polegar e o indicador da mão esquerda enquanto segura firme com os da mão direita uma pequena xicara azul de ágata com café, o editor da semanal não dissimula o tom de enfado.
- O sensacionalismo linear, a ênfase na velha novidade de que a política está infestada de ladrões, o contraditório ínfimo que só dá espaço às lépidas negativas de sempre, essa fórmula que mais homenageia a preguiça mental do que respeita a verdade real, pode levar ao desgaste o interesse que ainda é geral pela lava a jato.
Concordamos em números, gêneros e graus que as investigações são imprescindíveis e que pelas fontes e indícios disponíveis, muitos visíveis a olho nu, nossa democracia não soçobrará se a faxina não alcançar a todos os poderes, isso mesmo, Executivo, Legislativo e Judiciário nos três níveis federativos.
Esses nomes atirados em listas generalizadamente pouco servem. As pessoas querem mais. Elas gostam de histórias. Já sabem que o alguém da lista roubou e não foi pouco. Ocorre que nem tudo é bem assim. É preciso informar o que pesa contra cada um. Inclusive os artigos de leis, em tese, afrontados. E no mesmo espaço, a resposta de cada um.
As coisas como estão indo, nessa promiscuidade desembestada de nomes, as pautas perderão o interesse da população. No listão dos últimos dias vi que dois até já morreram.
Afora outras impropriedades entre o que realmente saiu da fonte originária da informação e o que linearmente, como se todos os casos fossem iguais, se publicou e repetidamente se divulgou.
No original, por exemplo, o Procurador Geral da República opinou pelo arquivamento de sete pedidos de investigações, inclusive dois Ministros de Estado (Ymbassahy e Jungman) e um Senador (Romário) e um Deputado Federal (Orlando Silva).
São igualmente sete outros pedidos de investigações de pessoas não identificadas relacionados aos governos dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. Todos entre os anos 80 e 90 do século XX. Nestes casos também o PGR propõe arquivamento.
A leitura da lista crua, sem o porque de aqueles nomes estarem ali, o que induz a maioria leiga e menos informada a acreditar que já estão formalmente acusados ou até condenados, só amplia o desassossego e aumenta a confusão.
O meu amigo editor propõe mudarmos de assunto. Mais que depressa pergunto pela Cecília. Como se devassasse a memória em busca da Cecília melhor encaixável nessa brusca mudança de pauta, exala descontração, sorriso aberto e meio intrigado – ah você sabe!?
A Cecilia, oh cara, é argentina de Mendoza. Há dois anos, quando perdeu a irmã apelidada de Xuxa e depois o amigo Cherry, caiu em depressão profunda, em visível perigo de vida.
Por um ano advogados pelejaram contra a morosidade tentando uma ordem judicial para que Cecilia pudesse vir morar no Brasil entre os seus parentes, que somam mais de cinquenta numa comunidade em Sorocaba, em São Paulo.
Ela tem 20 anos de idade e já conheceu um cara chamado Billy, adolescente de 15 anos, que já lhe assedia com todo respeito, é bom que se diga.
A história de Cecilia, o primeiro chipanzé a ser libertado por um “habeas corpus” no mundo dos humanos, onde trafegam uns tantos nem tanto, ainda não foi contada no rádio nem na televisão. Nem nas revistas semanais.
A Juíza Maria Alejandra Mauricio, ao conceder a ordem para tirar Cecilia do cativeiro, não só mandou fechar o Zoológico de Mendoza como autorizou sua mudança para Sorocaba, São Paulo, Brasil.
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