Migalhas de Peso

Aqui se prega, mas aqui se faz?

Pregamos posturas. Mas não rezamos o credo. Clamamos por educação, mas não nos curvamos diante do papel que suja a rua.

24/11/2015

Estamos nos acostumando a levantar uma série de bandeiras em função do grau de exposição a que nos deixamos levar, muito em razão do uso excessivo das redes sociais, sem perceber que muitas vezes apenas um like pode dizer muito a respeito do que você pensa e com o que simpatiza. E isso em tempos da futura nova lei 2016/15, dita antiterrorista, pode ser um atentado contra a sua liberdade. Antagônico isso...

Mas gostaria de refletir nesse texto sobre nosso grau de envolvimento em relação às bandeiras que levantamos. O engajamento que muito temos visto nos movimentos sociais "recentes" (parece que já faz mais de dois anos) denotam um decréscimo do comprometimento, ou, como prefiro ver, o verdadeiro grau de dedicação. A parábola em número de participantes foi parecida com a de um U invertido, antes mesmo de termos chegado à uma conclusão política para a crise.

Mas e no campo da consciência ecológica? Distante do escândalo da Volkswagen com a adulteração dos dados da emissão de poluentes, o quanto cada um de nós pensa cotidianamente sobre a reciclagem e a preservação dos recursos naturais? É verdade que dá mais trabalho lavar o filtro de pano do café coado do que usar o filtro descartável (ainda não comparei quantas árvores caem para que se produza uma caixa de filtros de papel x quanto de água gasto para lavar o filtro); também concordo que o banho ininterrupto com água correndo do início ao fim seja mais prazeroso que o "molha, ensaboa e enxagua"; do mesmo modo entendo que, na busca pela redução dos custos do metro quadrado construído, ainda não tenhamos revistas e revistas de arquitetura repletas de projetos 100% verdes.

Penso que a ausência de guerras dentro do nosso território, tal como inúmeras vezes vividas pela Europa e Ásia, não tenha nos dado muito da real consciência que nos falta. Um pouco disso, alguns estados do Brasil perceberam recentemente com a escassez de água. Mas o corte na carne da consciência do brasileiro ainda me parece um sonho romântico de idealismo teórico e laboratorial.

Tal como já exposto por mim em outro artigo, sou de opinião que delegamos nossa consciência coletiva a um grupo de mal formados políticos. E assim perpetuamos nossa alienação, depositando nossa ira gibista em mínimos apelos digitais, no doce conforto de nossas poltronas, distas em léguas da realidade que toma, dia a dia, o lúdico prazer das conquistas que nos deram ao cabresto de um custo que agora passaremos a pagar, retrocedendo anos naquilo que poderia ser o avanço do país.

Nessa ácida trajetória, levantamos bandeiras sem o hino saber cantar. Defendemos ideologias sem nos aprofundarmos mais que do Wikipédia, quando muito, passemos em domínio de causa. Somos oceanos rasos em cultura e achamos chato demais quando algum teórico tenta transpor a linha do pensamento mínimo (creio que a linha do médio tenha ficado na década passada) na inglória tentativa de nos instruir e alertar para o risco de delegarmos ao coletivo a consciência que deveria antes estar em nós.

Pregamos posturas. Mas não rezamos o credo. Clamamos por educação, mas não nos curvamos diante do papel que suja a rua, já que ou o Estado tem a obrigação de pagar alguém para limpar ou a culpa é do mal educado que o jogou. E na excessiva imposição de limites étnicos, religiosos, sociais... distanciamo-nos da possibilidade de ajudar, de mostrar ao próximo que o caminho que toma desrespeita não só a ele, mas ao próximo e ao desconhecido, ao transindividual e ao heterogêneo.

Fichamo-nos como religiosos tal, partidários qual, educados quem, mas em verdade, cuidamos de uma escalada sem sentido concreto, ignorando a necessidade de executarmos a maior das mudanças: a de nós mesmos.

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*Leonardo Pereira é diretor acadêmico do IOB Concursos.

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