O Brasil parou nos últimos meses por conta das eleições. Principalmente no que diz respeito ao "mercado" de concursos públicos. Depois de afirmações, boatos e promessas de parte a parte, a presidente Dilma Rousseff foi reeleita para mais quatro anos.
Para muitos, a manutenção da presidente Dilma no Palácio do Planalto significa a ampliação das vagas na administração pública Federal.
O que esperar para 2015 e 2016?
Na minha experiência como professor e coordenador de cursos jurídicos, preparatórios para concursos públicos e pós-graduação, tenho, inicialmente, de destacar quais são as áreas/concursos mais desejados pelos concursandos e quais aquelas que têm a maior demanda nas diversas esferas de governo.
No âmbito Federal, a oferta de vagas nos concursos públicos para o Executivo está diretamente ligada ao TAC – Termo de Ajustamento de Conduta – firmado com o MP para substituir os contratos de terceirização de mão-de-obra por cargos efetivos. Existe no governo Federal uma proliferação de contratos temporários que se eternizam ao longo do tempo, assim como um grande número de convênios com organismos internacionais - leia-se PNUD - que fornecem mão-de-obra para o governo.
Além dessas vagas, tem-se a reestruturação das agências reguladores e a sempre constante renovação dos quadros das áreas de fiscalização e arrecadação federais. Para o poder Judiciário, a concentração de vagas está na ampliação dos quadros dos TRTs e TREs, com o aumento do número de cargos de analistas e de técnicos judiciários. Ainda, no que diz respeito ao Legislativo, concursos para a Câmara, Senado e TCU, sempre são muito esperados.
Destaquem-se, na esfera Estadual, as vagas para a estruturação das defensorias públicas e procuradorias estaduais. Vários estados aprovaram recentemente a autonomia dessas instituições, assim como a legislação de sua organização, cargos e carreira. Ainda, as carreiras fiscais têm sempre ótimas oportunidades e salários elevados.
Finalmente, em âmbito Municipal, a concentração das vagas está nos cargos vinculados à educação e aos serviços de saúde.
Assim, o primeiro grande motivo para a busca de certames públicos está diretamente ligado à oferta de vagas que esse mercado tem oferecido. Some-se a isso o fato de que a projeção para os anos de 2015 e de 2016 é que essa oferta seja mantida, senão elevada, provocando um fluxo constante de concursos e nomeações.
O segundo aspecto que merece destaque refere-se às questões já muito batidas em todas as análises sobre esse tema, e dizem respeito à remuneração e aos benefícios de um cargo ou emprego público. É inegável que a administração pública oferece uma boa retribuição e que a tão famosa estabilidade é o "canto da sereia" acalentado por muitos.
Nesse prisma, eu gostaria de salientar o que talvez seja um dos grandes problemas para os concursandos de hoje: o fato de se escolher o cargo apenas pelo salário e número de vagas oferecidos. A escolha de um emprego, de uma profissão, é uma decisão muito importante e que trará impactos em toda a vida pessoal.
Quando se trata de uma decisão tão importante, não se pode deixar levar somente pelas questões financeiras, tem de se considerar os objetivos de vida, as habilidades, os conhecimentos e as competências.
Aqui faço uma sugestão: antes de escolher que cargo público que você almeja conquistar, é imprescindível conhecer a legislação que estrutura aquela carreira, quais são as funções e as responsabilidades que lhe são imputadas, qual o tipo de trabalho desenvolvido pelos servidores que nela estão. Para os meus queridos alunos, eu sempre sugiro que visitem o órgão, conversem com os futuros colegas, entendam o que eles irão fazer. Chego até a sugerir que eles escolham a mesa e mentalizem-se sentados nela.
Finalmente, o serviço público tem características muito diferentes da iniciativa privada. O modelo de administração, as possibilidades de crescimento profissional, a remuneração e o tipo de atividade desenvolvida são totalmente diversos.
Não se pode definir qual das carreiras é a melhor, privada ou pública, mas é indubitável que há uma diferença abissal entre elas.
Nesse sentido, maior reflexão deve recair sobre a chamada geração "y", da qual muitos integrantes frequentam as salas de aula dos cursos preparatórios. Jovens imediatistas, altamente qualificados e cheios de ambição. Esta geração tende a ficar bastante frustrada com o processo decisório da administração pública, com a estrutura hierarquizada e com a ascensão profissional limitada.
Ai reside uma das maiores frustações que tive contato. Esses jovens não conseguem se adaptar à administração.
Calma, não estou dizendo que eles não devam prestar concurso, mas sim que devem buscar formas paralelas de realização e satisfação pessoal que, provavelmente, não terão, pelo menos em um primeiro momento, na carreira pública.
Tem sido bastante comum ver alunos retornando às salas de aula em busca de outro cargo. Tive caso de um aluno aprovado para advocacia pública, AGU, que pediu exoneração para assumir um cargo de analista. Vivenciei o drama de uma aluna que, aprovada para o cargo de analista do TCU, não queria largar a advocacia privada, mas a família a pressionava para que assumisse o cargo público tão almejado por muitos.
O que oriento aos meus estimados alunos é inserir o concurso público como parte de uma estratégia maior de vida. Ele não pode ser um fim em si mesmo, mas um meio para se alcançar seus projetos pessoais.
Às vezes, um determinado cargo, de remuneração e de importância menores, pode ser o trampolim para a vida de sucesso de um empresário. Um cargo de destaque na advocacia pública pode ser o acúmulo de experiências e de reconhecimento suficientes para o ingresso estruturado no mercado da advocacia privada. Mais ainda, o compartilhamento de tempo entre a prestação de serviços para a administração e o desenvolvimento de outros projetos pessoais, pode minimizar os desejos imediatistas da geração "y" e proporcionar o tempo necessário para se galgar a posição desejada no serviço público, que somente virá com o tempo. Pode ser um ótimo lugar para quem já vivenciou por vários anos a iniciativa privada e quer, agora, compartilhar suas experiências e aprimorar a administração pública.
Poderão ocorrer decepções, mas a clareza de seus objetivos torná-las-á mais assimiláveis. Elas não serão uma surpresa, tampouco o levarão à depressão ou ao sentimento de fracasso. Elas serão consideradas como uma oportunidade de rever seu planejamento e suas metas pessoais.
A profissionalização dos servidores públicos é clara aos olhos de todos, fruto da obrigatoriedade do ingresso por meio de concurso público, colocado como norma de ouro da administração pela CF.
Hoje, vários conceitos da administração privada têm sido implementados na administração pública.
Além dos conhecimentos e habilidades que são exigidos no processo de seleção dos servidores públicos, é importante que eles desenvolvam a competência para a gestão estratégica, da mudança e do conhecimento.
Sem sombra de dúvida, uma das principais qualidades do servidor é saber lidar com o processo de mudança que a administração tem passado nos últimos anos; mais do que isso, ele tem de se transformar em um agente de mudança.
Saber lidar com o conflito de gerações: a) os servidores antigos da administração; b) os novos servidores geração "y", imediatistas e ambiciosos; c) aqueles que saíram da iniciativa privada, que têm larga experiência, inclusive em cargos de gestão, e se encontram na base da pirâmide estatal.
O momento é rico para troca de experiências e desenvolvimento organizacional, no entanto a erupção de conflitos exigirá dos servidores grande habilidade para conseguir extrair deles oportunidades de crescimento.
Finalmente, é inadmissível que a juventude brasileira tenha como sonho de realização profissional somente uma vaga na administração pública, não se pode abandonar o empreendedorismo da iniciativa privada. Esta sim é quem movimenta realmente a economia, mas isso é assunto para um outro artigo.
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