Por unanimidade, a Segunda Turma do Supremo Tribunal concedeu o Habeas Corpus 111728 para anular a condenação de dois homens que, presos, não compareceram à audiência que ouviu testemunhas de acusação. A relatora do caso ministra Cármen Lúcia, apresentou o voto condutor do julgamento ao conceder a ordem, pois "de alguma forma ficou, sim, comprometido o direito à ampla defesa e, neste caso, seria uma nulidade absoluta, porque é um direito constitucional". O Ministro Celso de Mello citou alguns processos já julgados pelo Supremo Tribunal Federal em que a Corte deixou claro que "o Estado tem o dever de assegurar ao réu preso o exercício pleno do direito de defesa". Ele ainda destacou que no contexto dessa importante prerrogativa está o direito de presença do acusado, que muitas vezes deixa de comparecer não porque deseja, mas porque o Estado falha no cumprimento de sua obrigação. "O acusado, embora preso, tem o direito de comparecer, de assistir e de presenciar, sob pena de nulidade absoluta, os atos processuais", destacou o Ministro Celso de Mello ao afirmar que "são irrelevantes as alegações do poder público concernentes à dificuldade ou inconveniência, muitas vezes, de proceder a remoção de acusados presos a outros pontos do Estado ou até mesmo do país, uma vez que razões de mera conveniência administrativa não tem e nem podem ter precedência sobre as inafastáveis exigências de cumprimento e respeito ao que determina a Constituição". O Ministro Gilmar Mendes acrescentou que é preciso encontrar uma forma de dar efetividade a essas decisões para além do caso concreto, uma vez que por falhas do próprio sistema esses casos continuam a se repetir. "A jurisprudência em geral nesses casos é pacífica, mas a despeito disso continua-se a reproduzir essas situações com grande constrangimento para todos os atingidos", afirmou.
Em tempos de mensalão, finalmente uma decisão sóbria.
A propósito, para Víctor <_st23a_dm w:st="on">Moreno Catena, o acusado "es la <_st13a_verbetes w:st="on">parte pasiva necesaria del proceso <_st13a_verbetes w:st="on">penal, <_st13a_verbetes w:st="on">que se ve sometido al proceso y se encuentra amenazado en su derecho a la libertad, o en el ejercicio o disfrute de otros derechos cuando la <_st13a_verbetes w:st="on">pena sea de naturaleza <_st13a_verbetes w:st="on">diferente, al atribuírsele la comisión de hechos delictivos <_st13a_verbetes w:st="on">por la posible imposición de <_st13a_verbetes w:st="on">una sanción <_st13a_verbetes w:st="on">penal en el <_st13a_verbetes w:st="on">momento de la sentencia"1.
Ademais, a <_st13a_verbetes w:st="on">ampla <_st13a_verbetes w:st="on">defesa compõe-se da <_st13a_verbetes w:st="on">defesa <_st13a_verbetes w:st="on">técnica e da <_st13a_verbetes w:st="on">autodefesa. O <_st23a_dm w:st="on">defensor exerce a <_st13a_verbetes w:st="on">defesa <_st13a_verbetes w:st="on">técnica, <_st13a_verbetes w:st="on">específica, <_st13a_verbetes w:st="on">profissional <_st13a_verbetes w:st="on">ou processual, <_st13a_verbetes w:st="on">que exige a <_st13a_verbetes w:st="on">capacidade postulatória e o <_st13a_verbetes w:st="on">conhecimento <_st13a_verbetes w:st="on">técnico. O acusado, <_st13a_verbetes w:st="on">por <_st13a_verbetes w:st="on">sua <_st13a_verbetes w:st="on">vez, exercita ao <_st13a_verbetes w:st="on">longo do <_st23a_dm w:st="on">processo (<_st13a_verbetes w:st="on">quando, <_st13a_verbetes w:st="on">por <_st13a_verbetes w:st="on">exemplo, comparece a uma audiência) a denominada <_st13a_verbetes w:st="on">autodefesa <_st13a_verbetes w:st="on">ou <_st13a_verbetes w:st="on">defesa <_st13a_verbetes w:st="on">material <_st13a_verbetes w:st="on">ou <_st13a_verbetes w:st="on">genérica. Ambas, <_st13a_verbetes w:st="on">juntas, compõem a <_st13a_verbetes w:st="on">ampla <_st13a_verbetes w:st="on">defesa. A <_st23a_dm w:st="on">propósito, veja-se a <_st13a_verbetes w:st="on">definição do <_st13a_verbetes w:st="on">jurista <_st13a_verbetes w:st="on">espanhol Miguel Fenech:
"Se entiende <_st13a_verbetes w:st="on">por defensa <_st13a_verbetes w:st="on">genérica aquella <_st13a_verbetes w:st="on">que lleva a <_st13a_verbetes w:st="on">cabo la propia <_st13a_verbetes w:st="on">parte <_st13a_verbetes w:st="on">por sí <_st13a_verbetes w:st="on">mediante actos constituídos <_st13a_verbetes w:st="on">por acciones u omisiones, encaminados a hacer <_st23a_hm w:st="on">prosperar o a <_st23a_hdm w:st="on">impedir <_st13a_verbetes w:st="on">que prospere la actuación de la pretensión. No se halla <_st13a_verbetes w:st="on">regulada <_st13a_verbetes w:st="on">por el derecho con <_st13a_verbetes w:st="on">normas cogentes, <_st13a_verbetes w:st="on">sino con la concesión de <_st13a_verbetes w:st="on">determinados derechos inspirados en el conocimientode la naturaleza <_st13a_verbetes w:st="on">humana, <_st13a_verbetes w:st="on">mediante la prohibición del empleo de medios coactivos, <_st13a_verbetes w:st="on">tales <_st13a_verbetes w:st="on">como el <_st23a_dm w:st="on">juramento – cuando se <_st13a_verbetes w:st="on">trata de la <_st13a_verbetes w:st="on">parte acusada – y cualquier otro género de coacciones destinadas a obtener <_st13a_verbetes w:st="on">por fuerza y <_st13a_verbetes w:st="on">contra la voluntad del sujeto <_st13a_verbetes w:st="on">una declaración de conocimiento <_st13a_verbetes w:st="on">que ha de <_st23a_hdm w:st="on">repercutir en <_st13a_verbetes w:st="on">contra suya".
Para <_st13a_verbetes w:st="on">ele, diferencia-se esta <_st13a_verbetes w:st="on">autodefesa da <_st13a_verbetes w:st="on">defesa <_st13a_verbetes w:st="on">técnica, <_st13a_verbetes w:st="on">por <_st13a_verbetes w:st="on">ele <_st13a_verbetes w:st="on">chamada de <_st13a_verbetes w:st="on">específica, processual <_st13a_verbetes w:st="on">ou <_st13a_verbetes w:st="on">profissional, "<_st13a_verbetes w:st="on">que se lleva a <_st13a_verbetes w:st="on">cabo no ya <_st13a_verbetes w:st="on">por la <_st13a_verbetes w:st="on">parte misma, <_st13a_verbetes w:st="on">sino <_st13a_verbetes w:st="on">por personas peritas <_st13a_verbetes w:st="on">que tienen <_st13a_verbetes w:st="on">como profesión el ejercicio de esta función técnico-jurídica de defensa de las <_st13a_verbetes w:st="on">partes <_st13a_verbetes w:st="on">que actuán en el <_st23a_dm w:st="on">processo <_st13a_verbetes w:st="on">penal <_st23a_dm w:st="on">para poner de relieve sus derechos y <_st23a_hm w:st="on">contribuir con su conocimiento a la orientación y dirección en orden a la consecusión de los fines <_st13a_verbetes w:st="on">que <_st13a_verbetes w:st="on">cada <_st13a_verbetes w:st="on">parte persigue en el proceso y, en <_st13a_verbetes w:st="on">definitiva, <_st23a_hm w:st="on">facilitar los fines del mismo"2.
Segundo o ministro Gilmar Mendes, "o direito de defesa constitui pedra angular do sistema de proteção dos direitos individuais e materializa uma das expressões do princípio da dignidade da pessoa humana. Como se sabe, na sua acepção originária, este princípio proíbe a utilização ou transformação do homem em objeto dos processos e ações estatais. O Estado está vinculado ao dever de respeito e proteção do indivíduo contra exposição a ofensas ou humilhações. A propósito, em comentários ao art. 1º da Constituição alemã, afirma Günther Dürig que a submissão do homem a um processo judicial indefinido e sua degradação como objeto do processo estatal atenta contra o princípio da proteção judicial efetiva ("rechtliches Gehör") e fere o princípio da dignidade humana ["Eine Auslieferung des Menschen an ein staatliches Verfahren und eine Degradierung zum Objekt dieses Verfahrens wäre die Verweigerung des rechtlichen Gehörs."] (MAUNZ-DÜRIG, Grundgesetz Kommentar, Band I, München, Verlag C.H.Beck, 1990, 1I 18)". (HC 85294).
Por óbvio, "para <_st13a_verbetes w:st="on">que haya un proceso <_st13a_verbetes w:st="on">penal propio de un <_st13a_verbetes w:st="on">Estado de Derecho es irrenunciable <_st13a_verbetes w:st="on">que el inculpado pueda <_st23a_hdm w:st="on">tomar posición <_st13a_verbetes w:st="on">frente a los reproches formulados en su <_st13a_verbetes w:st="on">contra, y <_st13a_verbetes w:st="on">que se considere en la obtención de la sentencia los puntos de <_st13a_verbetes w:st="on">vista sometidos a discusión"3.
De mais a mais, não há <_st13a_verbetes w:st="on">devido <_st23a_dm w:st="on">processo <_st13a_verbetes w:st="on">legal <_st13a_verbetes w:st="on">sem o <_st13a_verbetes w:st="on">contraditório, <_st13a_verbetes w:st="on">que vem a <_st23a_hm w:st="on">ser, <_st13a_verbetes w:st="on">em <_st13a_verbetes w:st="on">linhas <_st13a_verbetes w:st="on">gerais, a <_st13a_verbetes w:st="on">garantia de <_st13a_verbetes w:st="on">que <_st23a_dm w:st="on">para <_st13a_verbetes w:st="on">toda <_st23a_dm w:st="on">ação haja uma <_st13a_verbetes w:st="on">correspondente <_st13a_verbetes w:st="on">reação, garantindo-se, <_st13a_verbetes w:st="on">assim, a <_st13a_verbetes w:st="on">plena <_st13a_verbetes w:st="on">igualdade de <_st13a_verbetes w:st="on">oportunidades processuais.
A respeito do contraditório, Willis Santiago Guerra Filho afirma:
"Daí podermos afirmar que não há processo sem respeito efetivo do contraditório, o que nos faz associar o princípio a um princípio informativo, precisamente aquele político, que garante a plenitude do acesso ao Judiciário (cf. Nery Jr., 1995, p. 25). Importante, também, é perceber no princípio do contraditório mais do que um princípio (objetivo) de organização do processo, judicial ou administrativo – e, logo, um princípio de organização de um instrumento de atuação do Estado, ou seja, um princípio de organização do Estado, um direito. Trata-se de um verdadeiro direito fundamental processual, donde se poder falar, com propriedade em direito ao contraditório, ou Anspruch auf rechliches Gehör, como fazem os alemães". (grifos no original)4.
Para finalizar, mais uma vez vejamos a lição de Étienne Vergès, a Corte Européia dos Direitos do Homem (CEDH) "en donne une définition synthétique en considérant que ce principe 'implique la faculté, pour les parties à un procés penal ou civil, de prendre connaissance de toutes pièces ou observations présentées au juge, même par un magistrat indépendant, en vue d'influencer sa décision et de la discuter` (CEDH, 20 févr. 1996, Vermeulen c/ Belgique, D. 1997, som. com. P. 208)"5.
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1Derecho Procesal <_st13a_verbetes w:st="on">Penal, Madrid: <_st13a_verbetes w:st="on">Editorial Colex, 1999, p. 657.
2Miguel Fenech, Derecho Procesal Penal, Vol. I, 2ª. ed., Barcelona: Editorial Labor, S. A., 1952, p. 457.
3Klaus Tiedemann, Introducción al Derecho Penal y al Derecho Penal Procesal, Barcelona: Ariel, 1989, p. 184.
4Introdução ao Direito Processual Constitucional, São Paulo: Síntese, 1999, p. 27.
5Procédure Pénale, Paris: LexisNexis Litec, 2005, p. 35.
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* Rômulo de Andrade Moreira é procurador-Geral de Justiça Adjunto para Assuntos Jurídicos na Bahia. Professor de Direito Processual Penal da Universidade Salvador-UNIFACS. Associado ao Instituto Brasileiro de Ciências Criminais – IBCCrim e ao Movimento Ministério Público Democrático
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