Ouvi dizer que mulheres escolhem sapatos como escolhem suas amigas: um para cada ocasião.
Eu tenho a alegria de ter muitas amigas – muito mais do que sapatos, que não são poucos - todas queridíssimas e de fato nenhuma igual à outra. Todas fazem um bem danado para a alma, e todas têm sua hora e lugar na minha vida.
Tem a turma profissional. As executivas que compartilham com você a dor e a delícia do mundo corporativo, com as quais se tenta de vez em quando marcar um encontro, sabendo que as agendas são absolutamente mutáveis e imprevisíveis. Esta turma se comunica com você por mensagens curtas e bem escritas no smartphone. Isto quando no mesmo hemisfério, pois a maioria viaja sempre e é difícil quando estão todas na mesma cidade. Os encontros são sempre uma delícia, papo maravilhoso, um happy hour ou um almoço em um endereço que seja conveniente (traduzindo: no meio do caminho entre o trabalho de uma e de outra). Estas amigas chegam com bolsas e sapatos elegantes, salto médio e quadrado, equilibrando-se com naturalidade na dureza da vida empresarial sem perder a alegria de ser feminina.
Tem a turma das mães. Esta turma é ótima por conta da diversidade, pois podemos ser tão diferentes umas das outras como uma rasteirinha de uma ankle boot! O que nos aproxima tanto são nossos filhos, normalmente muito sábios na escolha dos amigos. E as mães vão criando assim laços especiais com outras mulheres que dão conselhos na hora daquele febrão horrível, indicam pediatra, dentista, babá, escola, que estão sempre disponíveis para socorrer você quando precisa buscar o filho na natação e está presa no trânsito ou naqueles dias em que você, descabelada, acha que é a pior mãe do mundo e está prestes a enlouquecer...
Tem as amigas de longa data, ah, estas! Elas são como aquele sapato que você tem no seu armário faz anos, às vezes um pouco desgastado, mas que sempre serve, sempre se encaixa perfeitamente, confortavelmente, tenha você mudado muito ou não. São poucas, porém indispensáveis, insubstituíveis, e quando você as encontra é como se nenhum dia tivesse se passado desde a última vez. Você fala com elas sem nem precisar de palavras, pois elas a conhecem melhor do que você mesma. Elas sabem de coisas que você já esqueceu (ou preferia ter esquecido). Elas aceitam você, não julgam, apenas gostam.
E tem a turma das solteiras, das descasadas, a turma fitness, a da dieta, a turma cultural, a turma estilosa, a esotérica, a modernosa, cada uma a seu jeito, cada uma alegra você e completa você e vai moldando quem você é. Às vezes elas se misturam, como um armário de sapatos meio bagunçado. Mas normalmente você as organiza como organiza as suas prateleiras de sapatos: por cores, modelos, estilos.
Sempre pensei que mulheres gostam tanto de sapatos porque por mais que se envelheça, adoeça, engorde, um sapato lindo faz com que você se sinta bem. Simples assim. Ele muitas vezes define a postura, o andar, a atitude e até o caminho a ser percorrido (ou alguém ousa andar em pedrinhas com salto agulha?). O bom sapato complementa você e faz com que você se sinta imediatamente melhor. Assim como as boas amigas! E tem coisa melhor?
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* Christina Montenegro Bezerra é diretora de assuntos jurídicos da América Latina da empresa Edwards Lifesciences, integrante do Jurídico de Saias
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