Pedido de Desculpas do PT
Wilson Silveira*
Lendo a tal nota, que é uma resolução da Comissão Executiva Nacional, assinada por Ricardo Berzoini, atual secretário Geral da legenda que, até há pouco, ocupava um ministério no governo Lula, algumas dúvidas remanescem.
De fato, a nota declara que o financiamento paralelo de campanhas eleitorais, uma série de atos que comprometem o partido e o governo moral e politicamente perante a nação, foram cometidos por dirigentes do PT sem o conhecimento de suas instâncias, o que quer que isso possa significar.
É público e notório o envolvimento, não só do partido (seu presidente, tesoureiro, secretário geral e muitos outros) dos parlamentares do partido (José Mentor, professor Luizinho, João Paulo Cunha etc., etc.) e até de membros do Governo (José Dirceu e outros, até do ex-ministro Tarso Genro), na maracutaia estabelecida utilizando-se o malfadado Marcos Valério.
Uns receberam dinheiro sujo, outros criaram a possibilidade de sujeira e outros acompanharam, acobertaram e autorizaram a corrupção explícita que veio a público.
Espera, de fato, o PT que com o presidente Lula dizendo que não quer mais falar no assunto e com esse canhestro pedido de desculpas com a sucinta afirmação, ainda discutível, que tudo ocorreu sem o conhecimento de suas instâncias (sic), possa voltar o PT e o Governo do PT à sua anterior tão decantada virgindade?
Ao presidente, o PT manifesta sua confiança e disposição de defender o seu mandato, diz a nota, afirmando, ainda, que é impossível avaliar, neste momento, a profundidade e a gravidade de tais danos. Será que só o PT (e suas atuais instâncias) ainda não conseguem avaliar que o partido e o Governo são responsáveis? Saida fácil essa de pretender, tão somente, um “nós não sabíamos”. Quem são, ou eram, então, as instâncias formais do Partido, senão seu presidente, seu tesoureiro e seu secretário geral?
A nota afirma, ainda, que tais atos, que comprometem moral e politicamente o partido e o governo perante os brasileiros, criaram uma “situação de constrangimento para o PT e para o nosso governo”. Dito assim, até dá a impressão de que os tais atos foram perpetrados por outros que não os integrantes do PT e os membros do governo, alguns deles agora vindos do governo para dirigir o PT, de onde haviam saido para administrar o país, missão bastante diferente do que o assalto direto, determinado e premeditado aos cofres públicos, visando um projeto de poder, do partido e do governo, do partido do governo, ou do governo dos membros do partido, que se perpetuasse, para isso usando os mais baixos e vis meios conhecidos até então.
A resolução do PT declara, expressamente que “a continuidade do Projeto do PT, fundado na ética, na democracia, na busca de emancipação e justiça, na construção de uma sociedade sem miséria e sem opressões, é o ponto de partida de todas as ações da atual executiva nacional”. E não era o ponto de partida da anterior executiva? Mas foi justamente com as mesmas promessas que a anterior executiva, da qual participavam elementos da atual executiva, políticos, ministros e até o presidente da república, desse utópico projeto ético e democrático, que o partido chegou ao poder?
Ou o partido chegou ao poder graças aos atos de deslavada corrupção e desvios vários, exatamente esses agora descobertos, sem qualquer ética?
Aliás, por falar em democracia, a nota do PT, aquele partido fundado na ética e na democracia, reconhece expressamente que tais atributos, apesar de terem grande valor publicitário, jamais estiveram nos corações e mentes dos militantes e suas instâncias.
Com efeito, em discutível mea culpa, o redator da nota, certamente um dos integrantes das tais instâncias que nada viram, ouviram ou sabiam, afirma que, somente agora, o partido reconhece “a necessidade de construir métodos mais democráticos de direção, maior respeito à pluralidade interna, assim como o fim dos “relacionamentos informais”, por isso não transparentes, entre governo e Partido.
Ora, ora, ora. Então era isso!
Não existiam, no PT, e só agora descobriram, métodos democráticos de direção! Nem se respeitava, democraticamente, as opiniões de correntes internas divergentes.
Mas o que existia, sim, é quem afirma e quem assina a nota, uma série de relacionamentos entre governo e partido, chamados eufemísticamente de informais e, por isso, não transparentes, ou seja, hábeis a serem ocultados do conhecimento dos cidadãos brasileiros!
Feito esse desastrado e desastroso pronunciamento, a resolução da Comissão Executiva Nacional do PT, passa a servir de porta-voz da presidência, pretendendo esclarecer o significado do último pronunciamento do Presidente à nação, em que se disse traido por seus mais próximos assessores e amigos, as tais instâncias anteriores.
E, ao contrário da tão desejada separação entre o governo e o partido, único caminho para que o Presidente tenha direito ao purgatório e não, ainda, ao inferno do impeachment, a nota do PT, a Resolução do Partido, passa a determinar como deverá agir o presidente, não o do Partido, mas o do Brasil, indicando, minuciosamente os atos, as propostas e o caminho que Lula deverá seguir, mantendo-se, assim, aqueles indesejáveis relacionamentos entre Partido e Governo, pelos quais o partido, que é dos militantes do PT apenas, pretende monitorar as ações do Presidente da República, que não é do Partido, mas dos brasileiros.
O descaramento da nota, a cara dura do PT, a cara-de-pau das tais instâncias é de tal monta que ? pasmem ? o PT defende a redução dos custos de campanha (!) o que somente se pode dever à perda do Marcos Valério e seus milagres da multiplicação do dinheiro.
Em outras palavras, a nota do PT, a resolução da executiva nacional, assim como o pronunciamento capenga do Presidente Lula tem exatamente o mesmo significado: enganar a população, empurrando para os outros suas próprias culpas.
E nada mais.
Não há nada que faça parecer que um singelo pedido de desculpas possa consertar.
O projeto do PT era uma fraude, e isso ficou amplamente conhecido, de todos notoriamente conhecido, ainda que umas poucas e fingidas vestais procurem se esconder alegando sua própria ignorância e incompetência
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*Advogado do escritório Newton Silveira, Wilson Silveira e Associados - Advogados e membro do CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL
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