Heidi
Edson Vidigal*
Não falo por mim, mas os homens em geral quedam-se irresistivelmente, muitos em segredo, por mulheres que não se encaixam nos convencionais padrões da beleza física e da estética predominantes.
Rosa de Luxemburgo, a revolucionária Rosa de Luxemburgo, ainda jovem, em meio às lutas impulsionadas por suas respeitáveis convicções levou um tiro num pé.
Seu jeito de andar ligeiro ganhou um algo mais, meio caxinguelê, causando o maior frisson entre muitos da companheirada.
Franz Kafka fala num dos seus contos de um cara muito poderoso que atraía a admiração dos outros não só pela reserva, também pelo desprendimento com o qual exercia o poder. A inspiração de todo o poder dele estava em duas mulheres, duas mulheres gordas.
Uma das personagens de maior sucesso de Dina Sfat na televisão foi uma mulher que levava uma vida de inaceitáveis liberdades para época em que transcorria a trama. Uma mulher livre e zarolha.
Não é raro a gente cruzar na rua com casais que visualmente não combinam. Nem é preciso reparar bem. Cada um tem lá a sua razão específica, muito pessoal, para a sua escolha. É direito constitucional individual e ninguém tem nada a ver com isso.
A coqueluche agora não é o novo visual de Débora Seco nem o de Gisele Bündchen, que está ensaiando direto para desfilar na avenida, numa Escola de Samba, no próximo carnaval.
Ninguém quer saber do que Amy Winehouse está bebendo naquela garrafinha de plástico enquanto se apresenta num show. Ou se Madonna está mesmo de novo namorado mais novo. Se Ângela Merkel está enamorada de Felipe Gonzalez. Ou se a China vai aumentar as compras nos Estados Unidos.
Num parque florestal da Dinamarca alguém botou a mão numa gambá branca e, sendo por lá de espécie quase em extinção, logo um zoológico da Alemanha pagando uma grana alta a comprou.
Gambá é um bicho onívoro que se alimenta de frutas raras, ovos e filhotes de pássaros. Num galinheiro compete com a raposa. Fazem o maior estrago. As fêmeas são ligeiras, ficam logo prenhas, em média, 12 dias depois.
Os filhotes da gambá nascem, que nem os de certas famílias, predestinados à luta entre eles porque não há tetas suficientes para todos.
O gambá no geral se defende com a catinga que expele pelas axilas. O fedor é tamanho que nenhum outro bicho ousa se aproximar. Mas é com esse fedor que as fêmeas atraem seus machos para o acasalamento.
A queridinha agora não só da América, também da Europa, é a Heidi. Quem, de repente, ganha página no Facebook e já sai largando com mais de 50 mil fãs de carteirinha? A Heidi.
A Heidi tem o olhar fixo ao mesmo tempo para os dois lados, para a direita e para a esquerda, para a situação e para a oposição. A Heidi é zarolha, que nem a gambá do Facebook.
A Heidi é a gambá que aumenta a cada hora seu número de fãs e seguidores no Facebook. Entre nós ela seria apenas a nossa popular mucura.
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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA
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