Juventude
Edson Vidigal*
A Coluna Prestes vem aí!
O Brasil era ainda muito atrasado, a Nação pouco sabia sobre si mesma, as oligarquias dominavam tudo, um código de silêncios, espécie de omertà dos mafiosos blindavam a impunidade.
O Padre Cícero, nascido na exclusão social de tudo, só foi aceito no Seminário de Fortaleza porque seu padrinho de batismo, um fazendeiro abastado do Crato, registrou o seu interesse no futuro do rapaz.
Prestes era um jovem Capitão do Exército inconformado com aquelas misérias restantes das desigualdades, naquele tempo muito mais profundas que as de hoje, no País.
O Brasil era um latifúndio incomensurável, a economia fraca, caroços vermelhos de café, bolotas brancas de algodão, verde espraiado nas plantações de cana de açúcar, bois no pasto e vacas leiteiras.
Mulheres não tinham direito ao voto que não era secreto, elas, portanto, nem podiam se candidatar.
As eleições eram fraudadas, os direitos da República e as vantagens da Democracia só alcançavam as oligarquias rurais, que controlavam tudo em detrimento dos grupamentos urbanos.
No seu pequeno mundo, na região do Cariri, o Padre Cícero sofria para proteger seus seguidores. Na contra - mão das oligarquias dominantes, para sobreviver, teve que se aliar a outras.
Prestes liderou um grupo de jovens tenentes e saiu com eles pelo País num movimento armado contra as oligarquias pregando reformas institucionais.
O Padre Cícero já liderara com o seu braço político, o médico baiano Floro Bartolomeu, uma revolta popular com jagunços armados que cercando Fortaleza derrubou Franco Rabelo, o governador que o demitira do cargo de Prefeito de Juazeiro.
Daí que quando a notícia correu – a Coluna Prestes vem aí! – logo o Governo central da República Velha apelou ao Padre Cícero para ajudar com um freio naquilo.
No vale tudo que seria a resistência aos jovens tenentes, houve quem se lembrasse de chamar um jovem já então muito temido como cangaceiro, sim, ele mesmo, o Lampião.
Atraído pela promessa de algum dinheiro e de uma patente de Capitão da Guarda Nacional, Virgulino Ferreira, o Rei do Cangaço, então com 28 anos de idade, ainda relutou, fez doce querendo mais, mas quando resolveu se juntar à resistência do Juazeiro a Coluna Prestes já havia passado imperceptível, sem incomodar ninguém, e estava longe.
Como Virgulino bateu pé dizendo que só iria embora depois que recebesse o seu dinheiro e a patente de Capitão, o escrivão do Cartório, a mando do padre, providenciou uma outorga.
O jovem líder do bando, sim, ele mesmo, o Lampião, partiu feliz com a ideia de que dalí em diante só seria chamado de Capitão.
Quando, mais tarde, descobriu que a patente era falsa, o Rei do Cangaço esbravejou aos céus, mas não se encorajou a retornar ao Juazeiro. Respeitava o Padre.
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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA
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