Bolsonaro, Maia e Moro
O agastamento entre Moro e Rodrigo Maia não é fruto de geração espontânea
quinta-feira, 21 de março de 2019
Atualizado às 11:43
O agastamento entre Moro e Rodrigo Maia não é fruto de geração espontânea. Para quem não viu, o presidente da Câmara foi duro ontem com o ministro da Justiça, dizendo que ele é um funcionário do governo, e se o governo quiser falar com ele, o chefe (Bolsonaro) pode falar.
Diz-se que não é geração espontânea, porque há diversos acontecimentos por trás e este informativo já acompanhava há dias esse ruído.
Vejamos.
Bolsonaro foi ao Congresso entregar a reforma da Previdência, deixando claro qual era a prioridade. Moro foi na sequência entregar seu projeto de endurecimento penal.
Conhecendo o funcionamento da Câmara, Rodrigo Maia coordenou os trabalhos da melhor forma para que a Previdência corra de maneira mais ágil, deixando para um segundo momento a proposta de Moro. Isso, sem falar no fato de que o projeto de Moro contém diversos pontos de propostas que já estão em andamento mais adiantado de debates, sobretudo o projeto, apresentado em maio passado, pelo ministro Alexandre de Moraes.
Nesse sentido, o protagonismo ao qual estava acostumado o ex-juiz foi colocado de lado. Injuriado com a posição de figurante, Moro mandou mensagem desaforada ao presidente da Câmara, dizendo que ele não havia feito o que ele queria. No que mereceu uma resposta à altura, lembrando o ministro que o Legislativo é independente e merece respeito.
Mas há mais.
Bolsonaro sabe que a Previdência é o divisor de águas entre um governo bom ou fracassado. E que há prazo para isso ocorrer, de modo que a busca por aparecer de Sergio Moro pode colocar tudo a perder. Eis porque Rodrigo Maia, ao ser duro com Moro, manda ele falar com o chefe.
Por fim, o notável ar de enfado de Moro na visita baba-ovo de Bolsonaro aos EUA mostra que o ministro provavelmente se deu conta da furada em que se meteu.
A vaidade, inerente de todos nós humanos, prega-nos peças.
Diante das declarações do ministro Sérgio Moro, o presidente do IASP - Instituto dos Advogados de São Paulo, Renato de Mello Jorge Silveira, externou preocupação.
"O IASP - Instituto dos Advogados de São Paulo vem a público externalizar sua preocupação quanto às declarações do sr. ministro da Justiça e Segurança Pública em relação ao andamento legislativo dado pela Câmara dos Deputados ao denominado Projeto Anticrime. Os trabalhos e procedimentos adotados pela Câmara dos Deputados em relação aos projetos de lei lá apresentados dizem respeito ao Poder Legislativo, que, como um dos pilares da República, deve ser respeitado e tratado com a cordialidade e autonomia esperada entre os Poderes, sem uma indevida presunção de complacência do Poder Legislativo para com o crime."