A rotatividade de profissionais, em qualquer segmento, é um aspecto que precisa ser levado em consideração pelas grandes e pequenas empresas na determinação de suas estratégias. Perder um bom talento é sempre prejudicial, pois perde-se lucratividade, produtividade e histórico.
As saídas dos profissionais, de maneira desordenada, interferem na motivação das equipes e em seu comprometimento e podem trazer resultados negativos em todos os níveis de uma organização. Entretanto, existem aspectos positivos do turnover, como a renovação natural do quadro de funcionários.
No Brasil, segundo dados da Robert Half, os principais motivos que levam os funcionários a quererem deixar seus empregos, são:
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33%: Baixa remuneração baixa e falta de reconhecimento;
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30%: Desmotivação;
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29%: Preocupação com o futuro da companhia;
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26%: Baixo equilíbrio entre trabalho e vida pessoal;
Pesquisa da Michael Page revela a rotatividade de diversas áreas profissionais. No setor jurídico há menor rotatividade dentro das companhias, enquanto que as áreas de operações e vendas representam maior troca de funcionários.
Rotatividade por áreas profissionais
Segundo o diretor da Michael Page, Henrique Bessa, a rotatividade na área jurídica se difere quando comparada entre empresas e escritórios, "pelo fato de que os escritórios oferecem planos de carreira pouco desenvolvidos para seus profissionais", ressalta.
Para a gerente sênior da Divisão Legal da Robert Half, Mariana Horno, os profissionais do Direito têm buscado cargos mais estratégicos e posições de maior destaque. "Vemos um movimento grande de profissionais de escritórios buscando oportunidades em empresas, uma vez que as empresas buscam profissionais que tenham um bom conhecimento técnico proveniente de escritórios para atuar fortemente no direito empresarial preventivo e, consequentemente, de visão mais estratégica", afirma.
Para Henrique, os principais motivos que levam os funcionários a deixarem seus empregos são a falta de um plano de carreira, de projetos desafiadores e identificação com o próprio chefe. Ele ressalta que mais do que a política da empresa, o relacionamento do gestor com seus funcionários é um fator primordial para o bom andamento de todos os setores, inclusive para a manutenção do corpo de funcionários.
Mariana destaca que a baixa remuneração agrega em todo esse processo, mas não seria o motivo determinante para a mudança, "a não ser em casos pontuais de discrepância excessiva de salários com o desempenho da função ou necessidade do profissional".
Henrique salienta que muitas vezes o advogado fica muito restrito a sua área de atuação. "Se o advogado é Trabalhista, por exemplo, ele tem que ficar nessa área e normalmente os profissionais querem novos conhecimentos, novas experiências, daí a oportunidade de migrar de área técnica ser muito importante".
Mariana destaca algumas diferenças entre empresas e escritórios. "As empresas que oferecem uma área jurídica que se envolve com o negócio e que desenvolve o departamento com uma visão estratégica e preventiva podem atrair profissionais altamente qualificados e retê-los na companhia", ressalta.
Enquanto que nos escritórios, a especialista salienta que os perfis são "essencialmente técnicos" e que buscam, cada vez mais, aprofundamento dos conhecimentos e autonomia para aplicação na prática.
De acordo com dados da Robert Half, enquanto no mundo todo o turnover de funcionários cresceu, significativamente ou moderadamente, em 38% das empresas nos últimos três anos, no Brasil o fenômeno foi observado em 82% das companhias. Quando a rotatividade é muito alta ela adquire aspecto negativo tanto para as empresas, como para os profissionais, para Henrique, a empresa que não consegue reter o seu funcionário é aquela que não apresenta um plano adequado de carreira. "Quando você perde um funcionário, você tem que treinar outro para ocupar aquele mesmo cargo, ter gastos com contratação e muitas vezes é necessário remanejar um funcionário de outra área para cobrir um buraco, o que leva a perda na qualidade do serviço oferecido", assinala o diretor.
Para Mariana, além dos gastos com treinamento e a contratação e demissão, o mais relevante de todos os aspectos seria que o profissional leva um tempo para se adaptar à cultura da empresa e ao tipo de trabalho e, em decorrência, para trazer o resultado esperado e a lucratividade para a companhia.
Quando a rotatividade é muito grande e adquire valor negativo para a empresa, Henrique sugere que seja feita uma reavaliação sobre o plano de carreira oferecido aos profissionais, "cuidar da carreira do funcionário é essencial, dar a ele atribuições que o faça perceber sua importância dentro da empresa e possibilidade de trabalhar com projetos que gere uma exposição do profissional, faz com que ele saia da zona de conforto, tenha uma visão mais ampla de negócio e se constrói um profissional mais sólido".
Mariana compartilha da opinião de que é importante para as empresas reter seus talentos, e, "mais do que a retenção, as empresas devem investir no engajamento dos profissionais dentro da companhia, como exemplo, o aproveitamento de potenciais em outras áreas seria uma solução para motivá-los não somente a vivenciar novas experiências técnicas, mas e colaborar e se integrar".
Entretanto, existe uma rotatividade considerada saudável dentro das empresas, que faz com que o corpo de funcionários se renove com o passar o tempo. Para Henrique, essa renovação "tira um pouco os funcionários da zona de conforto, traz gente nova, com novo gás, novas ideias, com visões diferentes, o que faz com que a empresa cresça".
Mariana ressalta que essa mudança é, muitas vezes, necessária, "dependendo do momento da empresa ou do tipo de projeto que está sendo implementado na companhia". Para ela, um ponto a se considerar seria a atualização do corpo de funcionários aproveitando os talentos entre as áreas, "dessa forma, a rotatividade se torna saudável e pode chegar a ser motivador para os funcionários ao enxergarem a possibilidade de conhecem novas áreas e participarem de forma macro de outros projetos da companhia".
A alta rotatividade de emprego não é um bom sinal nem para a empresa, nem para o profissional. Henrique aponta algumas atitudes que podem fazer diferença para manter um bom emprego, como ter bom relacionamento com todos os funcionários da empresa, ter uma postura dinâmica e resolutiva, com senso de urgência. "Vestir a camisa é essencial hoje em dia, sem falar que existe um ciclo a ser cumprido, desde quando você inicia no emprego, até quando você começa de fato a colher os frutos do seu trabalho, e em pouco tempo esse ciclo não se completa".
Mariana destaca que a mudança constante de emprego sem justificativas concretas pode afetar a carreira do profissional, "passando a impressão de uma pessoa instável e/ou até mesmo imediatista, que não aposta na empresa no longo prazo". Para ela, quando um profissional vai à busca de novas oportunidades é importante que perceba o real motivo para seu interesse nessa nova movimentação. "Isso é essencial para não aceitar uma proposta de emprego no primeiro momento e depois perceber que é algo que não faz sentido para sua carreira", completa a especialista.
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