Quando já se viveu por largo tempo, o mundo / Não tem mais para nós espantos e surpresas; / Não nos seduz descer dos mistérios ao fundo, / No empenho de encontrar as supremas certezas. / E aceitamos, da vida, o bem e o mal, segundo / O fado no-los traz. Insídias e torpezas / Não nos fazem bramir, de espírito iracundo: / São meras expressões das humanas fraquezas. / À custa de inquirir, sem que alguém nos responda, / De apenas deduzir que nada se deduz, / De nunca o efeito achar que à causa corresponda, / Vamos, sem nada ver, na ofuscação da luz, / A subir e a descer, a rolar de onda em onda, / No mar da vida, em nau que o Destino conduz.