Juiz do Paraná adiou audiência porque reclamante usava chinelos

25/6/2007
Pedro José F. Alves - advogado

"Sandálias da pobreza e da humildade! Em véspera de São João, em que pés descalços são necessários, para no pau de sebo subir, leio os jornais da manhã e encontro um Juiz do Paraná, não da grande Cidade mas de boa Cidade do interior, adiar uma Audiência porque a Parte, pobre e desempregada, não tinha o que calçar. Impelido pela ironia, que o Destino lhe pregou, a Parte viu-se impelida, a adiar a comida, que pretendia comprar, com o dinheirinho que a outra Parte lhe devia pagar. Como a fome não espera, não sei o que se vai passar. Para então registrar, este histórico e triste momento, lhes passo abaixo uma história, de famoso Jurista pátrio, cujos livros os mais velhos o Direito Penal estudaram. Não lhes digo o nome porque a isto autorizado não fui, mas é verídica a história que se passou lá na velha e doce Minas Gerais.

 

'Lendo de um Juiz a mensagem,

de rancor e insensibilidade,

"na minha sala o chulé,

desrespeito a mim é",

fico triste e lhes conto,

história antiga e famosa.

 

Reflexivo viajo neste Brasil distante,

com uma história que nas Minas se ouve,

de antanho chamada Gerais,

onde muitos do ouro extraído viveram.

 

De lá vieram juristas, homens públicos e também pobres.

Lá habitavam figuras, que enalteceram o País.

E lá vivia, em pequena Vila, garoto pobre ainda,

quem pr’a ir a escola calçado "bão" não tinha.

 

De especial o garoto,

no Brasil cresceu e lustrou,

registrando da vida vivida,

"pro mode, moço" de ensinar a gente,

lições do Direito Penal.

 

Pois este garoto descalço

ia na primária escola da Vila,

um dia calçado o pé direito,

no outro dia o pé esquerdo.

 

A escola, d’antão impedia

de nela estarem os "pés descalços",

mas um pé não são os "pés",

e, portanto, um calçado outro não

não formava os "pés descalços" da regra então escolar!'

 

Lendo, pois, do Juiz, a norma temerária e dilatória,

que adia uma Audiência, por estarem d’uma Parte

os pés calçados em sandálias simples de dedo,

lembro-me da velha história, que acima lhes contei."

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