Boas Festas!

21/12/2017
Cleanto Farina Weidlich

"Sobre as Tropilhas de Agosto, comentada na migalha dedicada, em parte, ao amigo Mano Meira, justifico com o envio da poesia do Ari Pinheiro, cuja verdade - só aos poetas pertencem todas as verdades do mundo - foi enfrentada pelo nosso 'maior poeta do mundo', segundo alardeado pelo Aparício, em nossa praça central, 'Hai um quê de mistério nestes ventos de agosto... Chegam de sopetão encrespando as flexilhas e se aquerenciam no verde da pampa como um véu de mortalha cobrindo as coxilhas... Reviram folhagens de velhos umbus libertando fantasmas de antigas prisões que se atiram de-em-pelo no lombo do vento com uivos de agouros assombrando os grotões... Sim, hai um quê de nostalgia nestes ventos... Mil causos de ronda, mil ponchos molhados mil berros de gado... Mil almas que cruzam o vau da saudade agarradas nas crinas destes ventos gelados! Me disse um patrício que o gado que morre é ração para os piquetes de almas caudilhas. Que o vento apartou da Tropa Divina pra deixar de posteiros guardando as coxilhas... Hai um pouco de certo, ... hai um pouco de lenda... mas acima de tudo, hai os ventos que me dobram o lombo num pealo sinistro mais duro que as mágoas que trago nos tentos... Arre, Hai o que matutar... Porque será que em agosto a garoa é tão fina que corta-me o rosto e me apaga o palheiro zombando dos cortes num carinho gelado qual beijos sem gosto... Chomico! Já sei o que querem estes ventos matreiros açoitando impiedosos os cantos do oitão e alargando ainda mais as frestas do rancho querendo apagar o meu fogo de chão... Mas lhes peço, não levem a quincha já gasta que nesta invernia me serve de abrigo... E, se não for pedir muito me deixem o cusco que há mais de dez anos tropeia comigo! Podem levar da manada que tenho a mais gorda rês que existir no potreiro. E da graxa amarela da ponta do peito ofereçam em holocausto aos antigos guerreiros... E digam lá que o velho... O velho vai ficar mais um pouco esperando criar outra ruga no rosto e quem sabe para o ano numa noite de geada ele se junte a manada das tropilhas de agosto!' Hai o que festejar, meu querido amigo Mano Meira, tens muitos versos e causos, ainda para acolherar debaixo do céu. Feliz Natal!"

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