Homenagem

28/12/2015
Cleanto Farina Weidlich

"... à minha mãe Dona Lourdes Farina, como ela é conhecida em nossa querida Carazinho, ... ela conta quase 88 primaveras, e por onde andou nesse mundo espalhou e contagiou a todos com a sua alegria, perseverança e coragem, ... todos nós os quatro filhos (Silvano, Maria Nazaré, Maria Paula e eu), sentimos muito orgulho dessa sua história de vida.

Ela, a Dona Lourdes, nossa querida mãezinha, sempre cultivou a virtude da declamação de poesias, e nesse Natal de 2015, decorei uma  junto com ela, enquanto viajávamos da capital dos gaúchos até a nossa cidade que fica distante uns trezentos quilômetros. Na metade da viagem, já havia decorado um bom pedaço (Saudade -  do Zé Filó), e só para não perder o embalo, declamou  OFERENDA – de Margarida Lopes de Almeida,  que peço para reproduzir abaixo, como forma de singela e justa homenagem a essa nossa guerreira.

OFERENDA

Senhor!

Venho dar-te a sorrir toda a minha alegria,
minha imensa alegria!
minha felicidade, meu riso, meu amor,

Senhor!

Todos vêm a Ti para rogar,
para pedir, para chorar,
para implorar de Ti consolação,
auxílio, bênçãos ou perdão.

Eu não,
Senhor,
eu venho para dar!

Sobeja-me ventura;
transborda em minha vida
sol, fulgor, claridade,
e meu sonho de amor e de beleza
foi bem menor do que a realidade.

Senhor, eu venho para dar!

Recebe em Tuas mãos
habituadas a colher
preces, imprecações,
lágrimas e desesperos,
um ramo perfumado
de lírios e de rosas,
de cantos e sorrisos,
de hosanas e de graças!

Toma de mim um pouco de ventura
para dares a cada criatura
que na vida não conheça
a glória de ser feliz!

Tenho-a tanta, meu Deus, que embora a tomes
fica-me farta messe
para distribuir e para dar ainda!

Quero que todos saibam
minha alegria infinda!

Quero gritar ao mundo
que adoro a vida
que é boa, e bela, e forte e apetecida;
e que, mesmo que um dia a minha sorte
se transforme de súbito, e o que é belo
e o que é bom e alegre, a morte
me arrebate das mãos com crueldade;
eu bendirei a vida na saudade
de um bem que tive que é tão grande que há de
iluminar eternamente, mesmo a treva
mais densa e mais profunda!

Senhor!

Uma luz fulgurante os meus olhos inunda.
Toma-me um pouco dessa luz, derrama-a
sobre aquele que é cego de ventura, ou mau, ou pervertido.
E deixa-me dizer-Te com amor:

— Obrigada, Senhor, por ter nascido!

Obrigada, Senhor!
 
Margarida Lopes de Almeida

Publicada em "O Jornal", 04/09/1957, RJ

... obrigada Dona Lourdes, essa Oferenda que com tanto sentimento e classe  declamastes alhures, hoje vai aqui só para você, é um pequeno tributo em tua homenagem. Cordiais saudações!"

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