Falecimento - Abelardo da Hora

24/9/2014
Jayme Vita Roso

"Perde a nação a criatividade, a engenhosidade, o vigor, a coragem e a retidão política do pernambucano Abelardo da Hora, seguindo mestre Ariano e Samico e privando-nos estes também de todo o seu vigor intelectual e artístico. De Abelardo, guardo imorredoura saudade. Busquei-o, 10 anos atrás, para debuxar a capa de um livro que enfeixava várias palestras sobre auditoria jurídica, mas sobretudo enaltecia a função social da advocacia. Sua generosa mulher, que era advogada, acolheu-me, ouviu-me, abraçou-me, dizendo que eu era sonhador como fora Dom Helder Câmara, voltado à utopia, com o empenho de institucionalizar a auditoria jurídica. Abelardo, silencioso, ouvia tudo. De repente, como de hábito, pediu-me que voltasse à São Paulo e o contatasse, sem cerimônia, aberto como era, e foi-se. Telefonei-lhe três dias após a visita. Ele reverberou a demora e, com irritação benévola, afirmou que a ilustração da capa estava pronta, retirasse desde logo e que eu desse o livro autografado à cândida esposa, única bastante para convence-lo a realizar o trabalho e – surpreendentemente – que não cobrasse, porque eu me alinhava às convicções políticas e sociais do casal. O original do trabalho doei-o à Escola Superior de Magistratura de Pernambuco, onde está afixado na sala da presidência, juntamente com todas as ilustrações de Wilton de Souza que se encontram no bojo do livro. O resumo da obra encontra-se no site Auditoria Jurídica. Abelardo da Hora, reproduzindo texto do poeta da terra Lenival Guedes da Silveira: '...mesmo de que continue: sendo minoria, perdendo paradas, sofrendo críticas e olhares de censura e a percha de cretino e idiota. Mas só se aprende a viver, vivendo. Se não aprendi a viver, continuo tentando aprender'. Encontre sua companheira no céu, com as lágrimas de seus sete filhos esparramadas no cemitério de Santo Amaro e o povo, o mais humilde, agradecido com o que produziu, para sua arte escapar do elitismo e ser, como é, da sua gente."

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