dr. Pintassilgo

Jacareí

“A visão funcional da cultura repousa no principio de que em qualquer tipo de civilização, cada costume, objeto material, idéia ou crença, satisfaz alguma função vital, assim como certas tarefas realizadas representam uma parte indispensável para todo o trabalho”.

Bronislaw Malinowski

Amigos migalheiros, saudações!

Hoje iniciei nossa conversa com uma idéia antropológica. O estudo do homem, suas crenças, seu modo de ser e de fazer as coisas, um dos objetos desta bela disciplina, é também um dos liames do Direito.

Estou aqui amalgamando Direito e Antropologia (como somente uma mente “avoada” como a minha pode fazer), porque saí do Museu de Antropologia do Vale do Paraíba, aqui em Jacareí, onde estou.

E caminhando nas idéias da frase com a qual abri nosso diálogo, creio que precisamos achar o “fio da meada”, a grande sacada que nos fará realizar em contento o trabalho vital e seminal do Direito.

Se cada trabalho, cada gesto, cada tarefa é parte do todo de uma civilização, então temos que, em nosso caso, rever seriamente onde deixamos a desejar. Sim, porque se nosso resultado final não é de todo insatisfatório, também não é nenhum modelo de eficiência e satisfação pessoal dentro de nós.

Sendo assim, vez ou outra, sejam servidores, causídicos, promotores ou magistrados, sentimos uma ponta de angústia, como se fosse uma tarde vazia de solidão. Sentimos esse vazio, quando queremos falar, queremos sentir, viver, mas não há eco; e tudo parece ser um fim de romance. E bem sabem os amigos, que um fim de romance faz mais coisas que simplesmente chover os olhos.

Há uma máquina, sem azeite.

Ou será que somos isso que vemos? Antropologicamente, será que somos esse acabamento não tão suave?

Creio que não! Eu, com letras veementes, me recuso a pensar assim.

Aqui em Jacareí, terra onde avistaram jacarés em profusão, penso que não podemos ficar imóveis ao sol como esses nossos amigos quase pré-históricos. E nem mesmo sermos tachados de “jacarés”, numa alusão a gíria, que define o espertalhão: “aqui não, hein, jacaré”.

Quando vejo em Jacareí, os industriários indo para o trabalho, conscientes de sua função, responsáveis, pais e mães de família, jovens ou maduros, isso me dá uma energia enorme.

Eles fazem a parte que lhes cabe. E ponto.

Estão tocando suas vidas na esperança de serem resguardados, de serem tutelados pelos governos, muitas vezes repletos de “jacarés”.

Gostaria que estivessem aqui, no sol poente de Jacareí. Não sei se vocês teriam paciência para falar de antropologia, na qual agora estou me iniciando, com o risco de dizer asneiras. Nem mesmo se falaríamos de Direito.

Aqui é a “Capital da Cerveja”. Com certeza, com os raios do sol poente a nos tocar, teríamos sede. Eu brindaria com vocês pelo povo daqui. Falaríamos da vida: das suas, da vida desse povo e talvez da minha, migalheiros, mesmo tendo a incerteza de que também estou fazendo minha parte.

No meio de uma prosa política talvez diríamos os dois para os homens de cima: “aqui não, jacaré”.

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