Saudações, migalheiros !
Reconfortado agora por cândidas pausas (não ! Não sou tão simpático ao ócio; apenas as asas agora têm seu tempinho para um descanso), eis que volto ao prazeroso diálogo com vocês.
Certa vez, um poeta me encantou com uma simples pergunta:
“E você estava esperando voar,
Mas como chegar até as nuvens com os pés no chão?”
Esta simples pergunta, ao mesmo tempo, me angustiava para as dificuldades da vida e me atinava no trabalho que teria para concretizar meus sonhos. Mas não é assim, migalheiros?
Sonhos não são como balinhas de troco, repito a mim mesmo ! Muitas vezes os buscamos por toda a vida (já repararam?). E não faço distinção entre sonhos “maiores” e “menores”; isso seria nos reduzir demais...
E agora, no Vale do Paraíba, eis que vejo em síntese de concreto, pessoas e energia, a resposta para a pergunta. E São José dos Campos a responde silenciosamente.
Desde que Santos Dumont alçou para a realidade o anseio de voar (me desculpem os partidários dos Irmãos Wright, mas para mim Dumont é o Pai da Aviação; e olhem, que de vôo eu entendo), os homens forjaram e forjaram, levantando-se nos céus graças ao pesado aço.
Sim, asas de aço para juntar-se aos pássaros no céu.
E São José dos Campos decolou no tempo.
Vejo um progresso ritmado na cidade: energia que vem das pessoas e do gás (ou seriam as pessoas trabalhando a todo o vapor?); mentes matemáticas, geométricas, lógicas e tecnológicas vislumbram o espaço no Instituto Tecnológico da Aeronáutica e em outras grandes entidades de formação. Quantas cabeças sonham estar neste lugar ! E aqui, bem próxima dessas mentes, a Embraer, um dos orgulhos de nosso país, ajuda a cidade a responder a questão do poeta.
Num local privilegiado entre grandes cidades, capitais e mar, a cidade escoa produção, seja material ou não. O progresso não titubeia, vai a jato mesmo.
Falando da Justiça por aqui, o que me deixa no ar, sem entender é como uma cidade tão rica, pode conviver com problemas estruturais tão desconexos com sua realidade tão pungente ?
Os amigos notaram que estou assaz crítico, mordaz até, com os governos de nosso país. Talvez porque não note, em nenhum discurso sério (as falas em sua maioria são moldadas já por marqueteiros), um plano de suporte para a área judiciária. Alguém de vocês, amigos, menos aéreos que eu, percebe algum movimento nesse sentido?
Quando se trata de justiça, na maioria das vezes, são questões fomentadas por notícias de delitos, muitas vezes sensacionalistas, que turvem as opiniões no calor dos acontecimentos. Daí ocorrem acalorados debates, entrevistas, todos resultando inócuos. Final de tudo: pasmaceira.
Enquanto isso, vôos mais altos são abortados.
São José dos Campos não merecia tal sorte, porque suas asas são poderosas demais; e seu vôo não cessou até hoje, graças a seu povo, que enfrenta as turbulências com galhardia.
A saída está a olhos vistos: trabalho sério. Mesmo que tentem lhe abater feito um caça inimigo (ou seria o “fogo amigo”?).
São José dos Campos ensina pelas suas faculdades, aos que querem ver, como chegar até as nuvens com os pés no chão.