Não sei se por carregar nos genes a terra, coisa essa herdada de famílias que lavraram bastante na vida, se isso seria nato em nós brasileiros por nossa ligação com o chão, mas o fato é que não sou um pássaro de ornamentos.
Porque a vida em si é simples. Ela nos dá sete cores: básico. Os traços singelos de uma bela mulher não carecem de maquiagem para o atento apreciador : são meigos, riscados suavemente pela inspiração celeste.
As maiores lições que penamos tanto para aprender estão ali em nossas fuças, simplesmente. E com nossa mania de procurar montanhas, sofremos. Essa arrogância de nos acharmos o supra-sumo da criação, de lutarmos uma vida por suntuosidade ainda nos fará perder.
A enormidade assombra. A simplicidade cativa. A enormidade impõe. A simplicidade pede. Enquanto a enormidade causa antipatia e inveja, a simplicidade arrebanha, segue seu caminho, serena, como uma tarde num riacho. Notem, amigos: a enormidade traz soberba, e na sua garupa a melancolia e o vazio.
A vida nos dá presentes a todo instante: simples, pequenos. Cabe a nós aprendermos a descobrir como desatar os minúsculos laços.
E um presente que a vida me deu foi minha passagem por Caçapava. Sim, estou aprendendo a abrir os laços dos pequenos presentes.
Solares, vi sorrisos muitos aqui.
Os olhos espertos, os rostos sem a dita maquiagem, receptivos e... simples.
No pouco movimento da cidade não vejo demérito como alguns poderiam afirmar, alegando que o tédio corrói. Nada. Não nos desfazemos dos vícios da sociedade moderna de consumo. Não, amigos ! Não sou contra o progresso, nem tenho inclinação para o "retrô". Estou dizendo de como somos por dentro. Não sabemos... contemplar.
Vejo nesse cenário de "todo mundo se conhecer" uma coisa linda.
E numa cidade onde todos são tão próximos, olhem que interessante, os processos de maior quantidade são os de família.
Ainda que todas as lides sejam sérias, vejo nisso fruto de nosso contrato lá trás; quando passamos a viver juntos, formarmos famílias, ficarmos próximos, criamos os "problemas", os desentendimentos: tia, tio, avó, avô, sobrinho, filho, neto e por aí vai.
Mas isso são pequenos contratempos perto do bem mais lindo, também fruto desse contrato: as festas de aniversário, os primeiros passos, os bolinhos da vovó, as histórias do vovô, o primeiro filho, as macarronadas e o franguinho de domingo, as velhas manias do pai e o colo da mãe. Nossa origem e raiz.
Disso nos orgulhamos (e ai de quem dizer algo sobre nossas famílias ! Podemos até mesmo dar uma cabeçada em alguém numa final de Copa do Mundo, ainda que seja um mau-exemplo).
Enfim, viver é simples.
Simples como um doce de rapadura feito aqui em Caçapava.
Vejam, pelas lentes sensíveis em todos os sentidos da equipe de Migalhas, a beleza dos sorrisos de Caçapava.
E aí, amigos, me dirão se as coisas simples não seriam as mais significativas, neste mundo tão metido à besta no qual vivemos.