Amigos migalheiros, saudações !
Quero relatar a vocês uma passagem de minha infância.
Talvez alguns de vocês não dêem muita bola (opa!) para a Copa do mundo, mas desde Pintassilguinho eu me envolvo com o nobre esporte bretão.
Por volta de meus 9 anos de idade, participei de uma equipe de futebol de minha escola. Como reserva. Eu aspirava entrar na quadra, sabia que reunia condições de jogo; na Educação Física me saía bem. Mas raios!
Fiquei o tempo todo observando.
A aspiração me enchia os pulmões e sentado, imóvel no banco, vi meu time fluir e encantar. Porém, tinha consciência que, naquele ataque, eu caberia.
O tempo foi passando e outras aspirações vieram. Muitas se cumpriram e outras não. Algumas pela metade, não deixando na boca nem doce nem amargo. No máximo, resignação.
Penso nisso tudo, pisando no solo de Fernandópolis.
O sol é camarada, quase pede licença para tocar minhas penas.
Sinto no ar que a cidade aspira. Como se estivesse esperando a sua vez, quietinha lá no banco. Pulsa dentro de si uma vontade férrea de deslanchar; os pés estão irriquietos, martelando o chão. Porém, as coisas engatinham e o tempo não é faceiro: vai, provocante, passo a passo, com direito a pequenos intervalos.
Fernandópolis aspira um prédio maior para seu Fórum. Dédalo não faria labirinto melhor que as muitas divisórias e processos, sobrepostos buscando ar. Vê-se que as dimensões reduzidas são um obstáculo (por incrível que pareça) a qualquer aspiração por uma atuação serena do Judiciário.
Na paz da cidade, há o desejo por progresso. Os adoradores da terra aspiram por emprego. Esperando sua vez, tal qual o Pintassilguinho reserva, o povo anseia por uma política de empregos, que faça a cidade entrar em ebulição.
Aspira-se uma virada, de postura e mentalidade.
E todos têm razão. Uma vida sem inspiração e um homem sem aspiração são danosos quando amalgamados. Quando isso ocorre, adeus mundo e seu sentido.
Aspira-se também e vê-se isso na voz do ilustre magistrado, que o juiz ande por entre os seus; os tutelados pelo Estado através da Justiça.
Quanto maior a distância do magistrado em relação ao povo, menor será a aspiração de todos por Justiça; porque, para uma decisão ser justa, há necessidade de conhecimento de causa, literalmente.
Em Fernandópolis, aspira-se por melhores condições sociais, de prosseguir o povo a sua luta renhida.
E creio eu, juro, que a cidade vencerá. Uma aspiração sem a luta é pura ilusão e isso, não se vê por aqui. Luta-se e deseja-se.
Em tempo: que a cidade oxalá tenha o mesmo destino do Pintassilguinho, que um ano após o jogo no qual esquentou o banco, foi o titular. Jogou, ganhou, se esbaldou.
Mas antes, aspirou. E venceu.