Chega de saudade.
E adeus à pausa.
Esse mesmo hiato que traz a meditação, o olhar no retrovisor mais que providencial, também cria no peito um descampado feito de léguas de vazio, de onde se grita e nem mesmo há eco, porque em nada minha voz ou meu piar abraçam.
Aos meus amigos o abraço apertado do reencontro, salta meu sorriso sincero, que de tão aberto, parece de bobo. Pela simples razão de poder falar com vocês.
Na dialética despercebida da vida, a ausência corta e machuca, cria uma filha rebelde chamada saudade; mas traz a felicidade inominável do prazer do reencontro.
E reencontro vocês aqui em Serrana.
Do alto vejo a terra vermelha incorporar-se ao asfalto e isso me traz uma nostalgia estranha, a "uma saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi". Não vivi à época, mas a visão que agora tenho é tal qual das gravuras de casas das antigas vilas, com a poeira colando nas paredes brancas, amarelas; aqui no asfalto o pó já denuncia que a terra é boa e o calor imenso.
A cana é o esteio do fluxo econômico de Serrana, assim como em outras cidades que vi.
E como tal, como numa cantiga de uma nota só, pode não trazer uma melodia cheia de encantos. Gera empregos, mas a cidade fica solitária em tempos de problemas no setor alcooleiro.
Imagine você, amigo, ter de passar anos e anos, no mesmo caminho, na mesma via, no mesmo riacho e depender disso. Não há mudança, mas uma estática triste.
Por outro lado, existe, longe de considerações econômicas e geográficas, o povo. Com a linda pele queimada de sol, o povo segue nesse caminho cambaleante, mas implacável como uma esteira.
No Fórum de Serrana, funcionários da prefeitura fazem parte do rol de serventuários que lidam com os processos, numa ajuda da municipalidade.
Mas, vocês acreditam que no meio desse desajuste, vejo uma luz?
Umas das funcionárias do Paço, rodeada de processos, esboça um sorriso e expõe sua vontade de estudar a Disciplina da Convivência Humana, adentrar na seara do Direito.
E isso... é lindo.
No meio de tal caos administrativo, ainda há esperança, pessoas que vêem no Direito a sua verdadeira face, tomam gosto pelo que ele é de fato e não pelo que as mazelas de nossos governos (passados e presente) o tornaram.
Ainda bem que o Direito ainda fascina e ganha adeptos, para quem sabe, num futuro tornar ainda mais forte nossa cruzada para que ele atenda de fato nossos anseios mais íntimos: de que haja de fato justiça, eqüidade, solidariedade.
E não balas loucas e sedentas de vidas a nos procurar em todos os lugares.
Desfiz de minha saudade aqui em Serrana de várias maneiras. Desfiz da saudade do trabalho, de ouvir e ver o que ouvi e vi aqui: esperança na vontade sincera da serventuária.
De poder voar de novo e ganhar a vida, em todos os sentidos dessa expressão.
E, sinceramente, a saudade de vocês, amigos; porque andamos juntos em todos esses dias: eu em corpo e vocês em mente; olhando ora maravilhados, ora incrédulos, nossas vidas, nosso presente.
Mas chega de saudade, e chega mesmo. Em homenagem a nós, eis o que o "Poetinha" nos diz.
E diz a ela que sem ela não pode ser
Porque eu não posso mais sofrer
A realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços os abraços
Hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim,
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
Não quero mais esse negócio
Vamos deixar desse negócio
De você viver sem mim..".