Amigos migalheiros, gostaria, atrevido, de iniciar um diálogo de uma maneira audaciosa: a quantas andam as suas vidas ?
"Bem", dirão alguns (e espero sinceramente que seja a resposta da grande maioria). Um "mais ou menos" deverá ser a resposta medalha de prata, espero eu. "Mal", também será inevitavelmente ecoada, e preocupante será para todos, incluindo a mim.
Para os que disseram o meio termo e também aqueles que não estão contentes com o momento, creio que tenho uma palavra de apoio. E por gentileza, não me tachem de propagador da auto-ajuda. Este é um texto de amigo no mais puro sentido da palavra.
Quando daqui de cima vejo as curvas da estrada de Santos, eu tento esquecer, como canta, com voz sentida, um certo rapaz nascido em Cachoeira do Itapemirim, no Espírito Santo.
Eu tento esquecer as coisas porque tenho a certeza de que tudo um dia passará. Como diz um amigo pássaro do oriente, budista: "vivemos em total estado de impermanência". Trocando em miúdos, tudo tende a passar, seja momento bom ou ruim, purgatório ou céu.
Santos me inspira a dizer isso.
E é fácil de inspirar uma vez que nela está o maior porto da América Latina. Cidades com portos só podem gerar a sensação da impermanência.
Ao longe, o navio lá vem, pequenino, trazendo o trabalho de pessoas de terras distantes, pessoas de terras distantes, para gerar trabalho aqui na cidade e trazer outras pessoas para conviver, mesmo que por um ínterim, com os santistas.
O movimento das cargas que chegam e já saem. Os navios que esperam, entram e saem rumo a outros continentes; a rápida Torre de Babel que se forma em nome do comércio e sobrevivência.
Saem gigantescos e quando tocam o horizonte voltam a parecer de brinquedo, escondendo depois de nossa visão.
Tudo vem e vai. Tudo é impermanente.
Até mesmo o famoso time de futebol da cidade foi um time nômade. Com o sucesso nos gramados e rolando a bola, geometricamente de pé em pé, encantando como se fora uma orquestra, comandada por um regente genial dos campos de futebol, correu o mundo, cessando até mesmo uma guerra.
Nas curvas da estrada de Santos, muitos descem e sobem.
Uma cidade com portos geralmente tem os braços abertos; é poliglota, não se apega em pontos pacíficos e tediosos, não tem vocação para rincão.
Santos me pareceu assim.
E minha palavra de conforto para aqueles que disseram o "mais ou menos" conformado ou o "mal" que me preocupa: tudo passa, como se fora um navio de partida. Tudo se vai ao comando da sorte; sorte esta que não entendemos.
Todas as aflições que temos e vemos, amigos, creiam, um dia, todas cessarão.
Para aqueles que responderam "bem", também é útil este diálogo. Aproveitem com generosidade, benevolência os momentos de alegria e nos quais tudo dá certo. Fortaleçam-se nos laços de amizade e paixão. Porque, tudo, tudo, passa. Mesmo os bons momentos.
E se um dia desejarem esquecer algo, desçam as curvas da estrada de Santos. É onde podemos tentar esquecer.
E por um momento respirar.