dr. Pintassilgo

Iguape

Estou seguindo meu caminho pelo litoral.

Sinto a maresia...

Olhando para o mar, com seu vai e vem, não penso noutra coisa senão na imensidão do mundo. Ele foi a inspiração para poetas, escritores, amantes ; como as coisas vivas da paixão, ele pode parecer tranqüilo e ao mesmo tempo oferece desventuras em suas rotas. Mas, se domado e respeitado, só podemos, contemplando-o, suspirar : que beleza ! Calam-se as palavras.

Já deixando de lado e pedindo perdões pelo meu romantismo (terei sido contaminado pelo oceano?), quero dizer que cheguei em Iguape.

Cidade antiga e que conserva a beleza da idade.

Está incrustada numa região que presenciou conflitos de piratas. E, não posso deixar de perguntar : - podemos pensar que o tempo dos saqueadores acabou ?

Iguape tem este nome em virtude do "aguapé", numa mistura de sons, de dialetos. Essa planta aquática possui raízes longas, cujas folhas ficam imersas.

Sem querer me atrever no campo da botânica, poderíamos pensar que tal planta se estica verticalmente até sair da água para respirar e ver o sol, que suas folhas, redondas, tanto precisam...

Assim está o Fórum de Iguape, no que diz respeito a suas instalações. Vejo pelas conversas com a magistrada, os promotores e os causídicos, que a Casa da Justiça de Iguape está precisando de um respiro, já que não há mais como crescer. Nem verticalmente !

As pilhas vão se esticando como um aguapé e não há mais espaço para comportar a gama de feitos.

O espaço já foi ocupado e novas saídas precisam ser pensadas (vendo os prédios de processos minha mente prodigiosa em devaneios logo pensa na cidade de Tóquio, onde a disputa por espaço é ferrenha, similar a que se faz em Brasília por uma boquinha no Orçamento). Os processos empilhados em muito lembram a capital nipônica : espaço administrado e prédios a gosto.

Mas também vejo as pilhas de processos empilhados, numa imagem surreal, como terrenos, um sobre o outro. Andares e andares de terrenos. E num devaneio ainda mais irreal, conseqüência da ingestão de alguma combinação de frutos do mar (sem que o amado Diretor saiba, pois não permitira tal pândega), observo em sonho uma ilha comprida, cheia de terrenos sobrepostos. Ah! que loucura...

Pondo fim na sandice, volto à realidade.

Ah ! O mar...

Os novéis magistrados e promotores (que maravilha notar que há também na nova geração quem use a indumentária outorgada pelo povo com tanto afinco) administram com esmero esse nascedouro de preocupações.

Esses profissionais estão emergindo no trabalho com o Direito, assim como brotam os aguapés, e já estão vislumbrando um caos...

Mas quero dar-lhes, se permitem, um alento : segundo uma amiga garça, versada nas ciências biológicas (ah, como ela fica linda de branco) o aguapé é ideal para filtrar o ambiente, atenuando o meio em que vivem.

Assim, não há razão para alarde com o futuro, ainda que o presente ofereça pouco espaço e seja sufocante ! Porque seu entusiástico sopro de mocidade - que há de perdurar por toda a vida - é um filtro de aguapé !

Que passem os problemas...

Vivemos um período de transição, que talvez não enxerguemos por estarmos na maré. Assim como Iguape passou quase cinco séculos por toda a sorte de prova : febre amarela, desocupação... e ainda está firme, logo estaremos respirando em espaços mais amplos.

Tal qual uma bela praia....

com suas alvas areias...

e sua....

ritmada...

maré.

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