Quando o sol rasgou o firmamento, atingindo a face queimada do sertanejo, a história se escreveu.
Quando este homem sem paradas, no cavalo montava, trazendo consigo seus companheiros, e junto a esperança de chegar ao destino para sobreviver, mal sabia o nome disso : era o "Progresso".
As tropas rasgavam a terra, por estradas de chão e por picadas no mato, unindo pontos distantes, carregando o espírito de nada temer a não ser as coisas de Deus. Desses brasileiros nós nos fizemos também.
E também se fez Sorocaba.
Admiro, amigos, a valentia de sair pelo desconhecido ; o verdadeiro herói, em qualquer mitologia, sai de seu lar solitário e valente, enfrenta o mundo e vence ! Para retornar com o triunfo, seja ele o que for, um reino ou um amor...
Vamos tentar em pensamento, cavalgar com os tropeiros que andaram por Sorocaba. E com eles, abdicar do conforto, de certo comodismo preocupante (ressaltando em alto em bom som que os migalheiros poderão um dia pecar por qualquer falta, nunca por conformismo cego).
E prosseguindo nossa jornada, veremos que a sobrevivência é a luta guiou estes homens.
Sorocaba, a terra rasgada. Têm razão os sorocabanos de orgulhar-se de seus antepassados.
Penso na bravura destes homens e não desejo realizar exaltações como aquelas feitas em bancos escolares, acenando bandeirinhas ou decorando, como se diz hoje, nomes.
Não. Penso na abnegação. De um lar, de uma raiz. Nas noites onde a dúvida assola, mas as estrelas ainda assim são admiradas, lindas ; onde em cada parada há um abraço de mulher, mas o coração permanece vazio.
Vidas que seguiram, aqui e ali, catando migalhas como meus primos pombos, mas que ergueram uma cidade. Quantos rostos queimados, braços machucados, corações valentes e solitários, rasgados, fizeram Sorocaba.
Dessarte, não só os tropeiros movimentaram a cidade.
A linha de trem Sorocabana veio que como um signo a dizer : não, esta terra é movimento ! Por aqui, as coisas hão de passar e seguir caminho.
A mula e o cavalo foram trocados pela potência do vapor que fumegou os ares da cidade. Mas mais tarde outras fumaças, as industriais iam também rasgar o céu.
E assim como a tropa adentrava as regiões do Estado, penso no barulho do apito do trem anunciando a partida e a chegada.
Além das mercadorias, quantas despedidas e suas lágrimas se fizeram depois desse anúncio !
E quantos sorrisos se alargaram também...
Junto ao café, ao algodão que os vagões robustamente levavam, estavam as esperanças, tal qual acontecia com os cavaleiros. A diferença estava nos "cavalos" a mais da Sorocabana.
Sorocaba, terra rasgada.
Eu gosto de viver a serenidade do amor, mas acho deveras romântico as paixões, as saudades, as lutas lutadas. Elas são escritas com letras caprichadas na vida de qualquer homem.
Parabéns, sorocabanos.