Os amigos migalheiros que me acompanham já notaram: adoro praticar a filosofia.
Sim, a filosofia como a prática da liberdade do pensamento, do exercício gostoso da reflexão, que hoje o tempo nos tomou, furtivamente.
Nessas andanças, vi a história das cidades e pareço enxergar, como num filme mudo, as evoluções dos povoados, a vida dos que hoje são nomes de praças, ruas, avenidas, escolas. As coisas vão se transformando, "transcorrendo, navegando espaços, todos os sentidos", como disse o Gil músico, não o ministro, em "Tempo rei".
Antigamente, tudo o que trazia o novo, era chamado de "modernidade".
Vejo nas minhas idéias o caboclo com um cigarrinho de palha, olhando de baixo para cima, numa paciência que a paz do interior pode trazer, "oiando" a "modernidade".
Telégrafo? "É modernidade", ele responde.
Telex? "Modernidade". Fax?, "nossa Senhora, é modernidade demais". Internet? "Que trem doido é esse, sô ?!".
É de fato a modernidade avançando tão vorazmente que até mesmo o conceito de modernidade está sendo revisto. Pois, o significado do moderno em contraposição com a antiguidade, parece ter ficado no século passado, ou talvez seja nossa impressão. Afinal, tudo se vai mais depressa mesmo.
Digo isso porque hoje as nações neste mundo de culturas que se amalgamam, estão cada vez mais voltando para suas raízes. Não, isso não é um contra-senso.
Quanto mais as culturas vão adentrando as fronteiras mais o países estão tentando resgatar seus rostos.
E algo bastante significativo está aqui em Pirassununga, onde faço pouso agora.
Ao notar uns enormes tonéis, lembrei-me de todas as mudanças porque têm passado nosso ícones : café, cachaça, futebol, carnaval...
Tudo se adaptando ao mundo hoje pequeno.
E, de fato, nossa cachaça é uma iguaria muito apreciada por turistas, e mesmo por quem está fora do Brasil. Ainda mais se vier acompanha do limão, gelo e açúcar, fazendo, numa alquimia tupiniquim, a famosa caipirinha. É um dos nossos símbolos.
Ainda assim, entendo que toda bebida deva ser apreciada com moderação (e digo isso, sem receber "nenhum" do Ministério, por favor).
A produção do destilado foi um salto para a cidade, que é mundialmente conhecida agora por ter estampado no rótulo seu nome...
Como o whiskey, evocação dos lagos da Escócia, o qual nosso amantíssimo Diretor deve estar degustando suavemente, em seu momento do anjo, numa ensimesmada comemoração pelo 51º Vôo deste seu humilde e subserviente emissário.
Penso então que por mais que as coisas avancem rumo à fugacidade e as culturas vão formando uma imensa teia (sim, pode ser um alusão à rede), a cor, a pele, o som, as coisas legitimamente nossas têm de marcar seu lugar...
A "modernidade" é boa, o descaso, com o passado, é que é ruim.
Parto de Pirassununga com um desejo imperioso de ingerir algum líquido. Digo isso, pois a água que aqui encontrei não é de passarinho beber.
Ao longe já avisto um bom lugar para me abeberar.
E é, claro, a cidade de...
Amanhã nos vemos.