Feito um ziguezague vertical ; como se fosse uma montanha russa, cheia de escaladas e depressões velozes : assim é minha emoção nesta jornada.
Depois da desorientadora visita aos irmãos de Itapeva, onde presenciei nossa parte "Índia" (lembram-se da expressão "Belíndia" ? Aquela que se refere às duas porções do país : uma rica, Bélgica, e a outra para designar nossa igualdade de subdesenvolvimento com o país hindu) chego em São Joaquim da Barra.
A terra vermelha se destaca, grudando na parede de algumas casas mais antigas, pintando o quadro típico e lindo das cidades interioranas, tais quais os famosos quadros com temática cabocla.
Mas, o que terá causado certo alento? - perguntarão os amigos migalheiros.
Não, amigos, os problemas por aqui não estão sanados, em comparação com o resto do Estado.
As pilhas de processos vão se (des) ordenando rumo acima, fato típico e crônico da ausência de infra-estrutura.
O pessoal também é escasso, sendo pontual e quase solitária a presença dos servidores...
E o povo, assim como em tantas outras comarcas nas quais vocês migalheiros voaram comigo, vai tocando...
Como numa estrofe da música de Rolando Boldrin, filho desta terra, vejo tudo isso, e
"Vou mastigando o mundo e ruminando,
E assim vou tocando essa vida 'marvada'..."
Mas a recepção, que tive por parte da juíza Dra Maria Clara Schimidt de Freitas, diretora do Fórum, me fez encher de esperança pelo futuro do Poder Judiciário.
Cordata e gentil, acompanhou-me pelo Fórum, mostrando-me as dependências da Casa que possui suas virtudes e carências, deixando claro que o local é público, como de fato o é...
E isso, bem sabem os leitores, sem a obrigação de fazê-lo. No entanto, ao ter conhecimento do escopo de meus vôos, quis aqui, na comarca que dirige, mostrar a meu ocelo quais são as necessidades para que, através dele, todos os migalheiros possam ver e, além de compreender as agruras de um magistrado (que sonha em ter meios para fornecer uma prestação jurisdicional a contento da população), poder também - de alguma forma - colaborar para melhorar.
Assim como aconteceu também em outras comarcas, a gentileza dos magistrados não faz bem somente a quem as recebe de imediato : o povo admira e é merecedor de tal tratamento...
O magistrado é o ofício do equilíbrio : nem muito técnico, nem todo emoção, deve conhecer de perto o coração do homem. Mas, para isso, precisa viver próximo dele.
A simplicidade das coisas me é cara. Tudo o que é simples me toca de forma profunda. Procuramos respostas na complexidade, nos embaralhamos mais e mais em teses, textos e tratados. Nossas saídas, em nossa cabeça urbana-moderna-caótica-veloz, têm de ser estupendas. Vivemos em busca da sacada do século, que nos conduzirá ao nirvana.
Esquecemos de forma rápida e arrogante das coisas simples e cordiais : um bom dia sincero, uma educação verdadeira sem protocolos, a polidez necessária com todos. Isso vale mais que duas mil sessões de auto-ajuda.
Se o Direito prima em sua essência pela igualdade e justiça, qual a melhor maneira senão a de começarmos a nos respeitar desde o acordar e calçar os chinelos ?
E a Dra Maria Clara Schimidt de Freitas sabe disso, demonstrando em gestos uma graciosa cordialidade, sem perder um pingo de respeito e autoridade. Aliás, lição para muitos, de que a autoridade não provém da toga.
Para encerrar, da mesma música do Boldrin, segue o "arremate", fugindo da mágoa e encontrando a leveza da simplicidade, rumo ao sol de São Joaquim da Barra :
"É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda moda é um remédio pros meus desenganos
É que a viola fala alto no meu peito, mano
E toda mágoa é um mistério fora desse plano
Pra todo aquele que só fala que eu não sei viver
Chega lá em casa pruma visitinha
Que no verso e no reverso da vida inteirinha
Há de encontrar-me no cateretê
Há de encontrar-me no cateretê."