Minhas idéias neste momento voam mais rápido do que minhas asas, transpondo léguas e procurando saídas possíveis...
Penso sobre tudo: sobre minhas asas pendendo para algum cansaço, sobre as pessoas lá embaixo, pequeninas como formigas ; penso sobre os abraços de despedida que deixei em minha despedida, nos risos e choros que ganhei nos meus pousos, penso no meu país...
Chego em Itapeva e minhas reflexões tomam vulto e ficam mais sisudas.
Quando penso no Brasil, procuro entendê-lo desde seu início e não para absolvê-lo dos pecados cometidos, mas para tentar não torná-lo ainda mais profano e dissimulado.
Assim como em toda América Latina temos retratos vivos de um subdesenvolvimento tacanho, desmotivador e cuja solução parece vir e nunca, nunca, aparecer.
Nas ruas de chão batido, o tempo parece não ter chegado ; as pessoas parecem deslocadas na vida e no mundo, no que parece uma ilustração da música "O tempo não pára":
"... eu não tenho data para comemorar,
Às vezes os meus dias são de par em par,
Procurando uma agulha num palheiro.
Nas noites de frio é melhor nem nascer,
Nas de calor se escolhe: é matar ou morrer,
E assim nos tornamos brasileiros".
Um vagão de trem abandonado é a metáfora viva do que estou dizendo : o progresso, muito desejado, há muito foi relegado ao esquecimento, com o capim se avolumando. É a demonstração da falta de projeto, da tentativa ávida por melhora que não dá em nada, criando aquela frustraçãozinha, chata como unha encravada.
Os governantes, desde épocas remotas, passam incólumes sobre tudo isso. Deixam o Brasil, com todo potencial humano e geográfico, como uma piada de mau gosto, a máxima de que o subdesenvolvimento pode ser sim filho de uma incompetência crônica.
Eles nada vêem. Eles não vêem Itapeva...
E os dias vão passando por aqui. Tudo se demora: emprego, justiça, lazer, conforto...
Qual será o Brasil ?
A Cidade de Deus, a Avenida Paulista, Copacabana, Rocinha, Agreste, Jequitinhonha, Porto Alegre, Olinda, Manaus e tantos outros recortes?
São todos estes e muito mais.
Mas também é Itapeva...