dr. Pintassilgo

Sertãozinho

Migalheiros amigos, depois de encarar um sol com ares de desafiador nesta região da Mogiana, eis que encontro uma brisa...

Aqui em Sertãozinho, a terra roxa acasalada com o sol alaranjado, me esquenta. E como!

Mas além do refresco de uma leve lufada de vento em minha face, recebi outra também, mas em meu ego.

Não é que descobri aqui nesta terra repleta de canaviais, um historiador de minha família ?

Pois é ! Um “pintassilgólogo”, que me fez encher de orgulho ao lembrar o quanto sou querido ! Quer mais bálsamo para a alma que o bem-querer ?

Os rumos de nossa prosa também me levaram à nostalgia.

No meio do amistoso diálogo, deixei escapar que por terras venezuelanas andei. E muito antes de Chavéz e sua boina retrô ali causarem tamanha efusão. Meu peito enche de saudade das lindas pintassilguinhas venezuelanas, com flores vermelhas presas à cabeça, que me fizeram suspirar e então dedilhar romanticamente minha guitarra em noites suaves. Qué lindos ojos ! Como extraño las lindas alas!

“Roda mundo, roda gigante,
Roda moinho, roda pião,
O tempo rodou num instante,
As voltas do meu coração”

É, migalheiros... a vida é feita de ciclos...

Ciclos que giram, dão voltas como as das rodas dos patins das sertanezinas.

A terra do hóquei sobre patins tantas vezes campeão, internacionalmente até (vendo os jogadores duelarem na quadra pela vitória empunhando seus tacos, me lembro então do amado Diretor de Migalhas ; com a ressalva que prefere os tacos do pólo, onde montado em seu puro sangue inglês, possui um imbatível handcap).

Sertãozinho...

Aqui, vejo ciclos de culturas ! Não somente as culturas da terra, como o café, algodão e cana-de-açúcar !

Falo também do ciclo da cultura em si, que seguiu parelha a economia local, como bem ressalta a prof. Sônia Maria Sarti, que com uma voz aveludada, detalha em pormenores a sociologia e a história deste povo.

Ciclos como se fossem giros ! Sim, como os giros da bela patinadora de cabelos loiros que rodopia no ar com graça inconteste, sem deixar de lado uma explosão ; o movimento emana uma vivacidade, que parece querer apenas lembrar que pode ser gostoso, muito bom, viver !

Vou então dar mais uma volta !

E os problemas na Justiça que ocorrem aqui em Sertãozinho, quase nos fazem acreditar que demos uma volta em círculos : morosidade, a falta de funcionários, de logística enfim.

Parece que giramos, giramos e não saímos do lugar. Como bem lembrou um causídico, a Justiça parece um labirinto : um acesso fácil, mas com saída complicada. Fico pensando a quantas anda, o quanto roda uma cabeça à espera de sentença. Quantas vidas rodando em vão.

O Poder Público Executivo, ao invés de facilitar o giro do co-irmão Judiciário, dificulta, provocando lides que poderiam ser resolvidas em outras esferas, numa espécie de ato para se ganhar tempo, presumo. E um giro, entre eles, desarmônico.

Um dia talvez não vejamos mais estas cenas, nem estas histórias...

Num rompante de devaneio (temeroso para quem, voando sempre, já está com a cabeça nas nuvens, literalmente), espero que um dia possamos realmente girar e girar, mas como num belo baile, onde todos poderemos dançar a mesma música ; belas damas e honrados cavalheiros, nem altivos nem renegados, mas felizes e em paz.

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