Amigos de revoadas, quero aqui deixar um manifesto, uma palavra solta. Não para prender o pensar, mas para deixá-lo saracoteando no ar...
Quero louvar o passado, deixar o presente inquieto e saudar o futuro caboclamente, mineiramente.
Quero tomar como moldura nessa minha ode ao tempo e suas voltas, a cidade de Registro, onde agora pousei.
E para começar meu pequeno discurso, pergunto de pronto para uma resposta a toque de caixa : onde dará este mundo ?
Pensem...
Lembram-se do nosso futuro antes promissor ? Aquele futuro que imaginávamos, ora organizado, ora caótico ; da ficção científica, como se saído da obra de Stanley Kubrick e ou de Spielberg.
Hoje até poderíamos compará-lo ao cinema, mas sem a aura do fantástico. Mas não é que chegou ! Ei-lo ! ( Sinto um tédio e uma perplexidade. Não sentem ? )
O ano 2000 chegou e nosso século XXI trouxe apenas a metade das promessas e... homessa !, velhos vícios estão por aí todos faceiros.
Quando ando por este montanhoso chão, vejo que já fomos simples e pacatos como Registro.
Que delícia andar pelas ruas. Nada de high-tech, só vejo seres humanos.
Depois de perambular por uma metrópole como São Paulo, por exemplo, onde os rostos não trazem nada de pessoal, os olhos seguem atentos somente ao horizonte, e as buzinas não deixam a conversa fluir - quebrando a atenção e o diálogo - sinto um aperto...
Porque agora, quando vejo que todos se conhecem e se cumprimentam em Registro, penso que um dia todos fomos assim...
Pergunto: éramos mais felizes ?
Não tenho inveja do resto mundo quando estou em Registro, pois como dizem os adoradores da terra, "aqui é tranqüilo, mas é bom"...
Aquele outro mundo, o de fora daqui, tem vergonha de sentir : pais não têm mais como demonstrar afeto, as relações devem ser "estritamente profissionais" (afinal, para quem devo demonstrar fraqueza ?), e se isolam em "seus" mundos.
Aqui, posso sentar-me, falar, ouvir, chorar, cantar...
Ora, dirão alguns, poderia fazer isso, amigo pássaro, em qualquer lugar !
Devolvo : poderia fazê-lo sem ressalvas ?
Um dia o mundo foi de pequena extensão, como Registro. Mas cresceu. Ganhou bens, trocou as roupas, ficou apresentável, mudou a face sem precisar de cirurgia, mas foi perdendo a alma.
O sorriso das pessoas daqui é brando. Confiram...
Queria louvar o passado, no tempo em que fomos simples e cordatos como Registro...
Quis deixar marcada minha inquietude porque perdemos nossos risos ; os mesmos risos que vi à fartura em Registro...
Desejei e consegui ficar muito desconfiado do futuro, porque não sei se voltaremos a ter a paz desta cidade...
E o que dói... não queria nunca que Registro perdesse essa face risonha e suave.
A cidade merece um filme, um livro ou um quadro que lhe pinte...
Só para registrar que aqui, em pleno Vale do Ribeira, pode-se, sim, viver bem....