Migalheiros amigos, companheiros de andanças e vôos, pensamentos e debates ! Estou hoje a sobrevoar uma cidade que, como muitas outras, possui belíssimo nome : Espírito Santo do Pinhal.
Como muitas outras que nasceram e cresceram e hoje fazem o nosso Brasil, nasceu ela por uma questão de Fé. Daí o nome saído da Santíssima Trindade. Já o "pinhal" do nome é proveniente da abundância de pinheiros que por aqui, imponentes, emprestam sua beleza.
Já em tantas cidades divaguei sobre a Fé. Aqui não vou penitenciar vocês, condenando-os a ouvir pela enésima vez a mesma ladainha. Vou fazer apenas uma Comunhão entre o Direito e a Fé.
Deixo aqui minha confissão : uma das minhas primeiras lembranças sobre o Direito, quando ainda era um mero pintassilguinho recém saído do aconchegante ninho, vi uma cena num filme que seria representativa do "julgamento" de Jesus pelos romanos.
Acusado de blasfêmia, foi levado aos representantes de Roma, responsáveis pela ordem em Jerusalém (essa história, a mais famosa de todos os tempos, não necessita de narração, não é mesmo ?).
Eles nomearam um defensor público para defendê-lo e isso, é claro, segundo o roteiro desse filme ; em outros casos, evangelhos incluídos, não há confirmação dessa passagem. O resto da história, todos sabem ou leram - alguns acreditam (eu entre estes), outros duvidam. Mas conhecem.
Essa nomeação do defensor causou a primeira das muitas admirações que a "Disciplina da Convivência Humana" marcou em mim. O Direito de Cristo, sozinho entre os homens naquele momento, de ter uma defesa, ainda que, filho de Deus, não a precisasse, foi algo esplendido.
Desde então o ofício de causídico sempre fora para mim um dos mais nobres. Ainda que o anedotário mundial o coloque como a raposa das fábulas de La Fontaine, isso nem me diverte tanto, pois bem sei do furor diário do trabalho nos escritórios e fóruns.
Aqui em Espírito Santo do Pinhal me reanimo, encontro-me com mais um motivo de admiração pelo trabalho dos companheiros (por favor, não se deixem levar pelo estigma que esse substantivo ganhou nos últimos tempos – argh ! - ; sintam somente o sentindo de luta que um dia houve).
Pois na cidade de quase cinqüenta mil habitantes há cerca de um processo para cada dois pinhalenses. Incluídos os feitos trabalhistas e de competência da Justiça federal, são vinte e cinco mil ! Montante igual ao da vara de Família do Fórum da Lapa em São Paulo !
O que lá é motivo de preocupações (ai, minhas brancas penas, deixem-me mais charmoso ao menos) aqui, pelo que apurei, é fruto da atuação presente dos causídicos e dos bacharéis, oriundos da Faculdade que aqui desova os futuros combatentes do Direito.
Mas, dirão alguns, então é o caos, Pintassilgo (amigos, não precisam de cerimônia) ! E, sem demora, categoricamente respondo : não, pois aqui eles andam de forma tranqüila, segundo conversas com adoradores da terra.
O juiz titular da 1ª vara Dr. Julio César Ballerine Silva expõe as vicissitudes da comarca de maneira a demonstrar que conhece muito bem a cidade em que exerce a nobre tarefa de distribuir a Justiça.
A fisionomia deste magistrado é marcante – como poderão comprovar no vídeo compilado pela diligente equipe de Migalhas -, lembrando aqueles personagens dos filmes em que o mar é o inóspito cenário : o velho e sábio capitão, firme no timão, com altivez e experiência guiando-se pelas estrelas, intrepidamente comandando sua tripulação diante dos perigos e desafios. Na nau onírica de meu pensamento, é Hans Staden de toga...
Curioso falar sobre tudo isso numa cidade nascida pela Fé ; onde me lembrei que foi também por meio de uma imagem fantasiosa, qual seja de um de um filme, que também trata da uma Fé maior, quem me despertou para as coisas do Direito.
E, hoje, bem satisfeito, fortaleci ainda mais minha crença no trabalho dos colegas causídicos.
Só posso dizer-lhes algo, amigos migalheiros advogados : "não duvidem – vocês sempre estão no lugar certo".